Retrato do abandono: veja como estão os bairros atingidos por deslizamentos três meses após tragédia em Petrópolis
Imagens feitas pela fotógrafa Mariana Rocha mostram dimensão dos estragos provocados em localidades como: Morro da Oficina, Rua Teresa, Vila Felipe, Chácara Flora, 24 de Maio e Rua Nova
A maior tragédia da história em Petrópolis completa três meses neste domingo (15). Foi em fevereiro que uma forte chuva provocou deslizamentos em diferentes bairros da cidade e a morte de mais de 230 pessoas. Cento e oitenta dias se passaram, mas nas comunidades atingidas pelas chuvas, as marcas continuam expostas e dão dimensão do que aconteceu na cidade naquele dia.
Rua Teresa/ Foto:@maridcrocha
Fotógrafa, Mariana Rocha tem percorrido as localidades que foram atingidas, como o Morro da Oficina, Vila Felipe, Chácara Flora, Rua 24 de Maio. No início deste mês, esteve na Servidão Honorato da Silva Pereira, que fica na Rua Teresa, atrás do Shopping 608.
As imagens feitas pela fotógrafa mostram que a terra que desceu nos deslizamentos continua ocupando todo o caminho, além de entulhos e até um carro, que foi destruído, segue na rua.
Rua Teresa/ Foto:@maridcrocha
E não é só na Rua Teresa que é possível enxergar esse cenário. Na Servidão Frei Leão, no Morro da Oficina, uma das áreas mais afetadas pela tragédia, a angústia se torna ainda maior diante das cicatrizes que seguem expostas. Mais de 80 casas foram atingidas, sendo que muitas delas desapareceram em meio aos escombros.
“O que me choca e me faz ainda estar visitando os bairros é ver que muita coisa está do mesmo jeito. São três meses e nada muda. Dá uma sensação de que as pessoas estão sozinhas, sem a quem recorrer e aprendendo a lidar com esse cenário, essa situação. Algumas com casas condenadas, com aluguel social e que não conseguem lugar para ir “, diz Mariana.
Morro da Oficina/ Foto:@maridcrocha
A fotógrafa relata ainda o que tem notado ao dialogar com os moradores desses bairros. “As pessoas estão precisando de carinho, de atenção, de quem se importa com elas, não só estruturalmente, o visual de estar vivendo com o cenário muito destruidor, mas a ausência dos vizinhos [que morreram na tragédia]. Elas continuam vivendo essa realidade, a saudade, o silêncio que existe”, afirma.
Caxambu/ Foto: @maridcrocha
No Caxambu, uma faixa colocada por moradores é um pedido de socorro: “Precisamos da iluminação pública na rua. Que retirem os escombros e façam obras de contenção. Cadê as respostas para a população?”.
Questionada sobre a situação dos bairros, a Prefeitura disse que vem executando desde fevereiro (após o dia 15) obras de recuperação por toda a cidade. Segundo o município, são intervenções de pequeno e médio porte que estão sendo realizadas com parte dos recursos provenientes da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) – R$ 30 milhões – e também do Governo Federal – R$ 6 milhões.
A Prefeitura informou que, no início deste mês, o prefeito Rubens Bomtempo realizou vistoria com técnicos do município e engenheiros da Secretaria de Estado de Infraestrutura e Obras (Seinfra) nos pontos mais afetados pelas chuvas. Segundo a Prefeitura, a vistoria levantou os locais mais vulneráveis e avaliou a inclusão das intervenções no pacote de obras emergenciais do Governo do Estado.
“A partir desta vistoria, os técnicos do Governo do Estado elaboram relatório sobre a situação dos locais avaliados e quais intervenções serão adequadas. É com base nesse relatório que será possível prever as medidas a serem adotadas nas regiões afetadas, como o Caxambu, que possui áreas interditadas e, portanto, sem alguns serviços como a iluminação pública. O restabelecimento de algumas localidades será viabilizado a partir das intervenções do Estado”, informou nota enviada pela Prefeitura.
O que mais está sendo feito?
Mutirões de limpeza
Foto: Ascom PMP
Nesta semana, a Comdep informou que está fazendo mutirões de limpeza nos bairros atingidos pelas chuvas de fevereiro. Com o objetivo de acelerar o processo de recuperação da cidade, a Comdep disse que as equipes estão realizando capina, roçada, poda de árvores, restauração e manutenção dos espaços públicos.
Dragagem e desassoreamento dos rios
Foto: Ascom PMP
Nos rios do Centro Histórico, a limpeza, dragagem e desassoreamento são responsabilidades do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), mas tem contado com apoio de equipes da Prefeitura para acelerar o processo.
Aluguel social
Petrópolis enfrentou duas tragédias em 2022. A primeira em 15 de fevereiro e a segunda em 20 de março. Ao todo, 1.972 famílias foram cadastradas no aluguel social do município e outras 84 seguem em cinco abrigos – Sítio São Luiz, Igreja Redenção, Castelo São Manuel, Abrigo Santa Isabel e Casa do Padre.
Nesta semana, a Prefeitura informou que, para resolver as pendências nos cadastros (do município e do estado) e para garantir que todo mundo que tenha direito ao aluguel social receba o benefício, está sendo promovido desde quarta-feira (13) um mutirão de revalidação dos cadastros do aluguel social.
Ainda falta
Túnel extravasor
Foto: Arquivo Sou Petrópolis
As obras emergenciais do túnel extravasor, de responsabilidade da Secretaria de Estado de Infraestrutura e Obras do Rio de Janeiro (Seinfra), ainda não tem prazo para serem iniciadas. O projeto de reforço estrutural, segundo a Seinfra, segue em fase de desenvolvimento.
O túnel tem cerca de 3,5 km e é um importante sistema que desvia as águas do Rio Palatino, do Centro da cidade, para o Rio Piabanha, no Itamarati. Com a manutenção adequada, o sistema evita e/ou minimiza consequências de grandes enchentes na região do Centro Histórico.
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