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Dois anos após tragédia de Petrópolis, pai da vítima Gabriel lamenta falta de ações de prevenção a desastres

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Dois anos após tragédia de Petrópolis, pai da vítima Gabriel lamenta falta de ações de prevenção a desastres

Gabriel Vila Real da Rocha tinha 17 anos quando foi arrastado pela correnteza durante temporal do dia 15 de fevereiro. Em vídeo registrado durante a tragédia, o menino aparece tentando salvar outras pessoas no ônibus

“Dois anos sem ele está sendo muito difícil. Não tem nada que possa substituir a falta de um filho. É com muita dificuldade que vamos levando o dia a dia”. O relato é de Leandro da Rocha, pai de Gabriel Vila Real da Rocha. O adolescente era passageiro de um dos ônibus que estavam na Rua Washington Luís durante o forte temporal, do dia 15 de fevereiro de 2022.

Fotos: arquivo pessoal

Em um vídeo que viralizou na internet, em um ato heroico, Gabriel aparece já dentro do rio em cima do coletivo e, ao mesmo tempo em que tentava se salvar, também buscava ajudar outras pessoas.

Gabriel como filho

Gabriel sempre morou com o pai. Emocionado, Leandro descreve o filho como muito especial, obediente, estudioso, inteligente e responsável. Promissor no jiu jitsu, o jovem conquistou seis medalhas durante a trajetória no esporte. 

Foto: arquivo pessoal

“Éramos mais do que pai e filho, éramos muito amigos e considero que somos até hoje. Meu filho é lembrado como herói devido a sua ação. Em um momento difícil, ele foi capaz de lembrar das pessoas. Dando a sua vez para que elas se salvassem. Há poucos dias, uma senhora veio me agradecer pela vida da neta dela. Gabriel a colocou na frente e jogou a corda para ela se salvar. Recebi um abraço. E isso me conforta, me dá forças para continuar com o exemplo de amor e resiliência que o meu filho deixou”, conta Leandro.

Ações após as chuvas

Leandro, que durante as buscas pelo filho, também atuou por outros desaparecidos, se especializou e foi convidado a participar da Secretaria de Defesa Civil de Petrópolis. Sobre a prevenção contra os desastres naturais em Petrópolis, ele avalia as ações dos governantes como decepcionantes.

Fotos: arquivo pessoal

“Me formei em Bombeiro Civil e em atendimento pré-hospitalar. Devido a algumas situações adversas não estou mais na Defesa Civil. A tragédia deixou mais de mil vítimas. São famílias, amigos das vítimas fatais que sofrem. Ainda tem duas pessoas desaparecidas. Projetos que foram cancelados. Após dois anos ainda com esse temor de não sabermos se vamos acordar no dia seguinte. Uma chuva torrencial localizada, o rio Quitandinha transborda. Não temos um comprometimento do poder público e vontade política para resolver os problemas. Essa é realidade que a cidade sofre, historicamente, há anos. São vítimas fatais e secundárias, que perdem seus bens materiais que acarretam no desenvolvimento da cidade. São políticas habitacionais que estão totalmente vulneráveis”, lamenta.

Para Leandro, a geografia de Petrópolis é um dos maiores agravantes para desastres climáticos como o que aconteceu há dois anos.

“Petrópolis é rodeada por montanhas. É uma geografia que é um ponto negativo. Mas por essa falta de ações eficazes com a prevenção a gente vive com essa realidade, com perigo eminente para todos, tanto quem mora na parte de cima quanto aqueles que moram na parte de baixo’’, explica.

Instituto Gabriel Vila Real

Motivado a manter o legado do filho, durante as buscas, Leandro criou o Instituto Gabriel. O objetivo é realizar monitoramentos, mapear áreas de risco para a realização de obras preventivas, cobrar medidas do poder público, além de realizar ações humanitárias. Leandro explica que o instituto ainda não está em funcionamento, por questões documentais entre a instituição e o governo municipal.

“O Instituto é uma ferramenta na cidade para, principalmente, somar na prevenção de desastres. Estamos com pendências documentais, ainda mais por ser um órgão de prevenção, que nunca teve na cidade. A verdade é que falta interesse político na prevenção de salvar vidas”.

Fotos: arquivo pessoal

Abrigo Gabriel Vila Real

Gabriel também é homenageado na cidade, com o prédio destinado às vítimas das chuvas. Mas adquirido pela prefeitura, no valor de R$ 3,5 milhões, o abrigo Gabriel Vila Real continua fechado e sem um destino.

“Realmente eu não sei explicar o motivo de toda essa demora para entregar o prédio. Foi informado que seriam feitas algumas obras de restauração, coisas rápidas. São dois anos e nada foi entregue. Ninguém sabe dizer em que situação se encontra hoje. Sabemos que no imóvel terá uma placa com o nome do Gabriel para eternizar a atitude heroica. Esperamos que, de fato, se conclua essa questão do prédio em respeito à população”, diz Leandro da Rocha.

Fotos: arquivo pessoal – divulgação PMP

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