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Entenda o que é, como funciona e os riscos da falta de manutenção do Túnel Extravasor de Petrópolis

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Entenda o que é, como funciona e os riscos da falta de manutenção do Túnel Extravasor de Petrópolis

‘A probabilidade de ocorrer o desabamento do túnel é muito alta’, diz professor Robson Gaiofatto do curso de Engenharia Civil da UCP

Com construção feita a partir da década de 1960 e sendo finalizada nos inícios dos anos de 1970, o Túnel Extravasor de Petrópolis tem cerca de 3,5 km e é um importante sistema que desvia as águas do Rio Palatino, do Centro da cidade, para o Rio Piabanha, no Itamarati. Com a manutenção adequada, o sistema evita e/ou minimiza consequências de grandes enchentes na região do Centro Histórico.

Foto: Arquivo Sou Petrópolis

Professor de Engenharia Civil da Universidade Católica de Petrópolis (UCP), Robson Gaiofatto, explica o que é, como funciona e os principais riscos que podem ser gerados pela falta de manutenção do túnel. Um deles, é o desabamento da estrutura de concreto, que pode provocar uma nova tragédia na cidade, uma vez que, por cima do túnel, há construções de prédios, casas e ruas entre o Centro e o Quissamã.

“A probabilidade de ocorrer o desabamento do túnel é muito alta e pode acontecer em duas áreas muito complicadas: na região do Quissamã, uma vez que nós temos várias construções em cima do túnel e a laje de tampa dele é utilizada como rua, passando carros e caminhões, às vezes até pesados. Portanto, existe sim um risco eminente de desabamento. Mas também a gente não pode esquecer da possibilidade de desabamento do trecho inicial, que vai da rodoviária até a antiga chácara, no começo do Quissamã, que é uma parte escavada mais em rocha, mas que ainda assim a rota é deteriorada por diversos aspectos podendo causar uma movimentação de massa de grandes proporções”, diz o professor.

Professor Robson Gaiofatto/ Foto: Divulgação UCP

Robson explica que o túnel extravasor é uma galeria fechada, que tem por objetivo desviar águas de determinados rios ou canais, evitando que essas águas se encontrem com outros rios gerando volumes grandes, como no caso de Petrópolis quando o Rio Palatino se encontra com o Rio Quitandinha gerando uma sobrecarga de água na região do Obelisco e dali para baixo, inundando toda a região da Catedral, da Koeler. “Então o objetivo é criar um caminho alternativo para a água e reduzir esse encontro que acontecia na cidade”, afirma.

Com relação às enchentes das últimas duas tragédias, o professor acredita que se o funcionamento do túnel estivesse ocorrendo de forma adequada, as enchentes poderiam ter sido minimizadas, como já ocorreu em outras ocasiões na cidade. “Como dessa vez nós temos o funcionamento precário, o efeito das chuvas se multiplica e obviamente as consequências dessa chuva também”, ressalta.

Sobre a infraestrutura do túnel

O túnel tem início na Rua Visconde de Souza Franco (Rua da Feira), no Centro, e segue até a Rua Pedro Elmer, no Itamarati. Toda estrutura é feita de concreto e requer manutenções periódicas.

Foto: Arquivo Sou Petrópolis

“Tendo em vista que essas estruturas são submetidas a ambientes de elevada agressividade, o esgoto que corre dentro desses rios tende a formar gases sulfídricos e outros que se transformam em tipos de sulfatos que agridem e desintegram o concreto, como é o caso que a gente já constatou em vários trechos da laje de fundo do canal que praticamente já desapareceu”, explica o professor.

De acordo com Robson, como quase toda obra de engenharia, esta do túnel extravasor deveria ser inspecionada pelo menos a cada cinco anos e toda vez que fosse constatada alguma irregularidade deveria ser imediatamente tratada e reconstituída e/ou recuperada.

Para saber quais obras são necessárias, o professor explica que é preciso que seja feita uma inspeção integral e cuidadosa por uma equipe técnica especializada em patologia de estruturas de concreto armado. A partir de então, seria realizado o mapeamento de danos e então seria possível fazer um projeto, saber o tamanho exato dos problemas a serem tratados e realizar o orçamento.

“Só pode ser efetivamente avaliado a partir de inspeções cuidadosas, criteriosas e um mapeamento de danos realizados por profissionais experientes, com adequado conhecimento”, reforça.

Quando as obras serão realizadas?

Após as tragédias consecutivas na cidade, a Secretaria de Infraestrutura e Obras do Estado (SEINFRA) informou que fará uma obra emergencial para melhorias no túnel até a execução do projeto definitivo que demanda mais tempo. Esta obra emergencial deve começar em 40 dias.

“As intervenções no túnel extravasor são delicadas e requerem estudos aprofundados. A obra definitiva está estimada em R$ 400 milhões e a empresa responsável pelo projeto já foi contratada. As intervenções serão realizadas pelo Inea”, informou a SEINFRA à Sou Petrópolis.

O que foi feito nos últimos anos?

O Instituto Estadual do Ambiente informou que, em 2020, atendendo solicitação da Prefeitura de Petrópolis, realizou intervenção emergencial em um trecho do Túnel do Palatinato situado no bairro Quissamã. 

Disse ainda que paralelamente às obras que serão feitas pela Seinfra, o Inea e o Ministério do Desenvolvimento Regional têm um convênio para a elaboração de projetos que vão subsidiar as obras que serão executadas no município.

“As intervenções preveem a construção de uma galeria na Rua Coronel da Veiga que vai receber a água do Rio Quitandinha.  O projeto está em fase de elaboração e quando estiver finalizado,  a obra será orçada”, informou o Inea por meio de nota.

A Sou Petrópolis questionou também os prefeitos que administraram a cidade nos últimos anos sobre os pedidos ao Estado para que essas obras fossem realizadas. Veja as respostas abaixo!

Governos Bomtempo e Mustrangi

Rubens Bomtempo governou o município entre os anos: 2001 a 2004, 2005 a 2008 e 2013 a 2016.

Em 2020 foi eleito novamente, mas teve a candidatura negada pelo Tribunal Regional Eleitoral. O prefeito só assumiu a cidade em dezembro de 2021 após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deferir o seu registro de candidatura.

Já o atual vice-prefeito, Paulo Mustrangi, governou a cidade entre os anos de 2009 a 2012.

Por meio de nota, a assessoria da Prefeitura de Petrópolis disse que a limpeza da boca do túnel extravasor, na Rua Visconde de Souza Franco, sempre foi feita pela Comdep e que há pelos menos 20 anos, a Prefeitura vem se reunindo com representantes do Inea e do Governo do Estado para discutir projetos e obras de revitalização da estrutura.

Governo Bernardo Rossi

A assessoria do ex-prefeito Bernardo Rossi, que governou a cidade entre os anos de 2017 a 2020, disse que durante a gestão diversos pedidos foram realizados para manutenção do túnel extravasor.

“Foram realizadas reuniões com o Inea e até mesmo um pedido ao governo federal para a realização de obras emergenciais no túnel. Durante a gestão, o Inea realizou uma obra na parte final do túnel. O próprio instituto chegou a realizar uma licitação para o projeto executivo após a cobrança da gestão. Mesmo antes, quando deputado, Bernardo fez diversas solicitações aos órgãos para que houvesse uma grande intervenção”, disse.

Governo interino Hingo Hammes

Enquanto Bomtempo não pôde assumir a Prefeitura, a cidade foi administrada pelo presidente da Câmara dos Vereadores, Hingo Hammes, entre janeiro e dezembro de 2021.

Por meio de nota, a assessoria disse que ao longo de 2021, o governo interino manteve contato – inclusive com reuniões on-line e/ou presenciais em abril e também em novembro – com representantes do Inea a fim de verificar o andamento de projetos não apenas para obras no Túnel do Palatinato, como também para a construção de novos túneis extravasores, visando reduzir – ou acabar – com os alagamentos também nos rios Quitandinha e Piabanha.

“O Inea demonstrou a realização de reparos emergenciais em um trecho do túnel do Palatinato em 2020 e informou que contrataria empresa para a elaboração de projeto para obras em todo o túnel, com recursos anunciados ainda em 2013 do Ministério do Desenvolvimento Regional. Também apresentou a contratação de empresa para a realização de estudos que visavam apontar soluções para os problemas dos alagamentos no primeiro distrito. Após a conclusão destes estudos, o Inea informou que faria a contratação do projeto para, em seguida, licitar as obras”, informou.

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