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Petropolitanos que moram no exterior relatam angústia com tragédias consecutivas na cidade

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Petropolitanos que moram no exterior relatam angústia com tragédias consecutivas na cidade

De Paris, Londres e Portugal, petropolitanos falam sobre sentimento de impotência com as tragédias de 15 de fevereiro e 20 de março

“Impotência! Esse foi o principal sentimento de estar longe em um momento como esse e não poder fazer absolutamente nada”. O depoimento é da jornalista petropolitana Rebeca Gehren, que está morando em Paris há dois anos e meio. O sentimento traduz o que tantos petropolitanos como ela, que estão morando fora, sentem ao ver a cidade atingida por tragédias consecutivas.

Fotos: Arquivos Pessoais Rebeca Gehren, Philippe Ladvocat e Nathalia Leal

Em 15 de fevereiro e em 20 de março, a cidade contabilizou 241 vítimas após registrar fortes temporais, que provocaram inundações e deslizamentos. Outras três pessoas seguem desaparecidas. Desde então mais de 2.700 casas foram interditadas pela Defesa Civil.

Foto: @maridcrocha

Do outro lado do Oceano Atlântico, Rebeca e o marido, Renan Vargas, acompanharam a situação em Petrópolis. Nesta última tragédia, os dois foram tomados pela aflição ao buscar notícias de um parente.

“Nós perdemos contato com uma pessoa da família no meio da tempestade, quando uma parte da casa [amarela da Rua Washington Luís] já tinha caído. Ficar aquelas horas sem notícias nos deixou como muitos petropolitanos naquele dia: totalmente no escuro, com medo que o pior tivesse acontecido. Felizmente, depois de um tempo que não é possível contar, soubemos que ela estava bem. Mas sabemos que não foi assim pra muita gente”, relata.

Nos dias que se seguiram, Rebeca conta que acompanhou o máximo que podia todo o trabalho de resgate e socorro às famílias atingidas. “Muitas conhecidas, um vizinho, um parente de um amigo…”, lembra.

Campanha à distância

Após a tragédia de 15 de fevereiro, o petropolitano Philippe Ladvocat, que mora em Londres, mobilizou uma campanha de arrecadação para ajudar as vítimas em Petrópolis e arrecadou quase R$ 5 mil. O dinheiro foi doado ao Centro de Defesa dos Direitos Humanos (CDDH) que atua na cidade.

Apesar de ter conseguido ajudar a cidade de alguma maneira, ele também cita o sentimento de impotência frente à destruição.

“O pior de estar longe quando essas tragédias acontecem é que é difícil saber a dimensão de certa forma e, claro, a preocupação de não poder ir ver com os próprios olhos e ajudar, saber como as pessoas que a gente conhece estão. Também ver as imagens da cidade destruída e, por estar muito longe, aumenta ainda mais a angústia de saber que isso está acontecendo. Existe uma sensação de impotência de que a gente pode fazer pouco estando longe – mesmo fazendo as doações”, diz.

Foto: Marianny Mesquita

Philippe acrescenta que tem sido difícil ver todo o descaso com a cidade. “São governos que deixam acontecer essas tragédias repetidamente e que não fazem nada efetivamente para conter dentro do que é possível fazer. Minha angústia é enorme, mas nem se compara com a de quem vive em Petrópolis, depende da cidade, do comércio do turismo. Quem perde tudo e não tem para onde ir”, afirma.

Lembranças e indignação

De Lisboa, em Portugal, Nathalia Leal se recorda da adolescência em Petrópolis, quando a mãe ligava para avisar que o rio tinha transbordado. “Cresci morando praticamente na beira do rio da Coronel Veiga. Perdi as contas das vezes que minha mãe me ligou para avisar para não voltar para casa da escola por esta rua. Era para voltar pelo Siméria, pois o rio já estava cheio, como os petropolitanos muitas vezes dizem”, recorda.

Nathalia, que também é jornalista, vê com indignação o fato de esta situação de o rio sempre transbordar na Coronel Veiga ter sido normalizada.

“O descaso daqueles que deveriam cuidar de nós já vem de muitos e muitos anos. Se tornou normal e normalizar esta situação não é benéfico para ninguém. Para aqueles que estão longe como eu, as cenas que insistem em se repetir tornaram-se angústia, impotência em não poder fazer nada. Nos sobram apenas as ligações que se repetem diariamente para saber se aqueles que amamos estão bem e em segurança”, relata a jornalista.

Sobre o 15 de fevereiro

Em 15 de fevereiro de 2022, Nathalia conta que se viu exilada, apenas com o telefone na mão tentando localizar o pai e o irmão que estavam no centro da cidade.

“Nossa querida avenida, quando o rio tomou o seu curso e carregou tudo e todos que estavam pela frente. Eu consegui achar minha família, mas foram muitos que não tiveram essa sorte”.

Registro da Avenida alagada em 15 de fevereiro/ Foto: Bruno Soares

A jornalista ressalta que as casas deveriam ser sinônimo de porto seguro, mas em Petrópolis ela vê como agora são sinônimo de perigo.

“Não se sabe quando a chuva vem, não se sabe quando o solo vai ceder, não se sabe quando os responsáveis serão corajosos o suficiente para admitir que já deveriam ter feito algo e assim fazer, o mais rápido possível”.

Solidariedade

Em meio a cenários de devastação, perdas de pessoas, prejuízos incalculáveis para o comércio, impacto direto no turismo, o que resta é a solidariedade que vem de quem mora na cidade e se mobiliza para ajudar, de quem mora em outros estados e no exterior.

“Os petropolitanos demonstram a força da união para ajudar a todos. Não mediram esforços para salvar quem precisava de ajuda como podiam e, muitas vezes, colocar suas próprias vidas em risco. E mais uma vez digo, atos heróicos sim, mas desnecessários se os governantes da cidade tivessem se importado como deveriam, não só agora, mas há tantos anos atrás”.

Esperança

Em uma cidade que chora seus mortos, que batalha para voltar a vibrar a frequência da vida, que busca alternativas para se reconstruir,  é a solidariedade – somada ao amor de viver em uma cidade que tem tanto para contar no que diz respeito à sua história, que exibe aos visitantes a beleza de seus casarões históricos e oferece atrativos que encantam quem passa por ela – que mantêm o sentimento de esperança dia após dia.

E essa força vem também desses petropolitanos que, mesmo de longe, acompanham e ajudam a cobrar medidas para uma Petrópolis mais segura.

“Deixo aqui meu apoio e carinho para todos os petropolitanos, que amam esta cidade, que cresceram aqui. Para todos que sofreram perdas imensuráveis com toda esta tragédia que assombra Petrópolis em tempos de chuva. Não percamos a esperança, não percamos a solidariedade e não percamos a vontade de ver Petrópolis linda, alegre e viva, como ela é”, encerra Nathalia.

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