MPRJ instaura inquérito para apurar responsabilidades relacionadas aos ônibus que caíram em rio em Petrópolis
Coletivos foram arrastados para o rio durante temporal no dia 15 de fevereiro. Três pessoas que estavam nos ônibus seguem desaparecidas
O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) instaurou inquérito civil para apurar as responsabilidades relacionadas aos dois ônibus da empresa Petro Ita, arrastados pela correnteza para o Rio Quitandinha durante o forte temporal no dia 15 de fevereiro.
O inquérito foi instaurado por meio da 2ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Petrópolis, após o MPRJ receber parentes das vítimas do acidente e sobreviventes na manhã desta quinta (3).
O objetivo, segundo o Ministério Público, é coletar informações, depoimentos, documentos e realizar outras diligências para subsidiar eventual ajuizamento de ação civil pública.
Foto: Evaldo Macedo
Um vídeo que viralizou na internet mostra os passageiros dos ônibus, que faziam as linhas 401-Independência e 465 – Amazonas, tentando se salvar. Três pessoas que estavam nos coletivos seguem desaparecidas. São elas: Pedro Henrique Braga Gomes da Silva, de 8 anos; Heitor Carlos dos Santos, de 61 e Antônio Carlos dos Santos, de 56.
Família segue em busca de Pedro Henrique / Foto: Divulgação
Não há ainda informações sobre quantas pessoas conseguiram se salvar e quantas não sobreviveram ao acidente. Um dos casos que ganhou grande repercussão foi o do adolescente Gabriel Vila Real da Rocha, de 17 anos. Nas imagens, ele aparece em cima do ônibus. Ao lado de Gabriel, está Pedro Henrique.
Foto: Divulgação
Leandro da Rocha, pai de Gabriel, passou mais de dez dias buscando o corpo do filho pelos rios da cidade. E mesmo após conseguir localizar e fazer o sepultamento, ele segue na luta para encontrar os outros desaparecidos.
“O que me dá forças é a dor que eu senti procurando meu filho. A mesma força que eu tive de achar o Gabriel é a força que tenho para ajudar a achar os filhos dos outros. Eu sei a dor que eles estão sentindo”, diz Leandro.
Reunião
Fotos: Divulgação
Na reunião desta quinta, sete promotoras e procuradoras de Justiça se reuniram com dez vítimas e familiares, além de um advogado na sala de crise montada pelo MPRJ na Rua 13 de Maio. Além disso, a equipe técnica da Coordenadoria de Promoção dos Direitos das Vítimas (CDV/MPRJ) prestou atendimento psicológico e de assistência social aos presentes.
Durante o encontro, os membros do MPRJ ouviram os relatos das vítimas, suas demandas e encaminhamentos diversos. Também colheram as informações e passaram aos participantes um panorama de suas atuações nas diferentes frentes relacionadas à tragédia.
“Ouvimos tudo o que eles tinham a dizer e explicamos tudo o que o MP vem fazendo, desde o dia 15, quanto ao desastre. Sempre digo que é importante dar voz para as vítimas e estabelecer um canal de comunicação. E deixamos claro que o Ministério Público vai adotar todas as providências cabíveis e apurar as eventuais responsabilidades relacionadas a este incidente”, disse a promotora de Justiça Vanessa Katz, da 2ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Petrópolis.
Os familiares foram acompanhados pelo advogado Rogério Lima Barros. “Apresentamos uma notícia de fato com pedidos de providência. Fizemos quatro pedidos, sendo que um deles, tratado aqui mais exaustivamente, foi sobre o auxílio que a empresa de ônibus precisa dar para as famílias, tanto nas buscas quanto fornecendo informações que vão subsidiar a polícia e os bombeiros para localizar essas pessoas desaparecidas”, disse Rogério.
Questionamentos
Entre as medidas iniciais do inquérito, a promotoria diz que requisitou que a Secretaria de Defesa Civil informe se havia agentes do referido órgão próximos ao local do incidente, controlando o acesso de veículos na rua Washington Luís.
Em relação à Viação Petro Ita, o MPRJ diz que solicitou os protocolos da empresa no que se refere a situações de pânico e incêndio, além da indicação de quem eram os motoristas e cobradores dos referidos ônibus.
Nota Petro Ita
Questionada pela Sou Petrópolis, a empresa Petro Ita informou que mesmo após inúmeros esforços não foi possível recuperar as imagens das câmeras de monitoramento dos ônibus, que foram completamente destruídos.
A empresa afirmou que assim como seus colaboradores, passageiros e toda a população petropolitana, foi vítima de uma catástrofe natural imprevisível, jamais vista nesta proporção no município, com perdas trágicas e prejuízos incalculáveis.
“Quando a Petro Ita conseguiu acesso ao local em que os ônibus foram arrastados, no início da madrugada, não havia nenhuma pessoa nos coletivos, não sendo possível identificar, de fato, quem eram todos os passageiros. O Setranspetro e as empresas de ônibus de Petrópolis lamentam e se solidarizam com todas as vítimas das chuvas que atingiram o município”, diz a nota enviada pela empresa. A Petro Ita afirmou ainda que os procedimentos de emergência foram adotados, com a utilização das janelas de emergência e abertura das portas, essenciais para que muitos passageiros fossem salvos.“Inclusive, o empenho dos profissionais da empresa no resgate aos passageiros pode ser comprovado através do depoimento dos sobreviventes que estavam nos ônibus”, conclui.
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