Liga dos Educadores de Petrópolis critica volta às aulas em escolas particulares em meio a caos provocado por tragédia
‘O que ensinam as escolas que resolveram manter seu funcionamento “normal” em meio a essa tragédia?’, questionam educadores, sugerindo que o retorno acompanhe o calendário da rede municipal previsto para depois do carnaval
O grupo que compõe a Liga dos Educadores de Petrópolis critica a decisão de retomada presencial/ remota das aulas em algumas escolas do Centro da cidade em meio ao caos provocado pela tragédia que já confirmou 182 óbitos e outras 103 pessoas seguem desaparecidas.
Foto: Evaldo Macedo
“O que ensinam as escolas que resolveram manter seu funcionamento “normal” em meio a essa tragédia?”, questionam professores, por meio de nota publicada na página oficial da Liga dos Educadores.
Segundo os profissionais, as escolas particulares que não estão retomando presencialmente, estão exigindo o retorno online das aulas. “Mesmo que estudantes e professores não tenham a menor estrutura emocional e, até mesmo, material”, informa um dos professores, que preferiu não se identificar.
Os educadores sugerem que todas as escolas sigam o calendário da rede municipal, que prevê o retorno das aulas após o carnaval.
“Ao desconsiderar as famílias que tiveram prejuízos financeiros graves ou perderam tudo, inclusive o teto onde moravam, o que a escola ensina? Ao perceber que a escola pode ignorar a precariedade da cidade, os vários bairros sem transporte público, luz, água ou acesso a internet, o que o estudante aprende? O que aprende um estudante que vê sua escola ser indiferente a dor das famílias que sepultaram seus mortos e vivem o luto?”, diz outro trecho da nota publicada pela Liga dos educadores.
O texto questiona ainda: “Que lição a escola dá ao convocar professores para ensinar português, matemática, ou qualquer outra matéria, diante da angustiante espera por notícias dos entes queridos desaparecidos? A verdadeira aula está acontecendo nas centenas de pontos de apoio espalhados por toda cidade. A algumas escolas cabe entender que é hora de aprender”.
Resposta Sinpro
Segundo o coordenador geral do Sindicato dos Professores de Petrópolis e Região (Sinpro), Frederico Fadini, algumas escolas particulares optaram por retornar as aulas presencial ou remotamente nesta terça-feira (22).
Frederico afirma que o Sinpro é contra esta decisão, mas ressalta que, legalmente, não há nada que impeça a retomada das aulas. “Sabemos que a cidade não tem infraestrutura no momento para esse retorno, assim como estudantes e professores seguem abalados com a tragédia. Chegamos a mandar uma carta para as escolas sugerindo o não retorno, algumas acataram e outras, não”, disse.
Em nota publicada no site, o Sinpro diz ter recebido relatos de colegas informando que algumas escolas estão exigindo de seus professores que continuem com as aulas virtuais, mesmo em condições precárias de trabalho por causa das chuvas que vêm assolando nosso município.
Questão humanitária
“É uma questão humanitária, na atual situação de calamidade pública, que os professores tenham autonomia e liberdade de expressão para se dirigir aos seus empregadores e discutirem a melhor forma de as aulas serem ministradas – e que até sejam suspensas, dependendo da situação”, diz.
O Sindicato faz ainda um apelo aos donos de escolas que sejam solidários não só com a população, mas também com os profissionais que empregam.
Como ajudar as vítimas dessa tragédia?
Foto: Paróquia São José da Lagoa (A Paróquia São José da Lagoa fica na Avenida Borges de Medeiros, 2735, na Lagoa)
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