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Falta de transparência de órgãos públicos abre margem para fake news em meio à tragédia em Petrópolis

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Falta de transparência de órgãos públicos abre margem para fake news em meio à tragédia em Petrópolis

Para especialista, ‘transparência é um princípio que deveria ser básico ainda mais em um momento de tragédia como esse’

A falta de transparência de órgãos públicos tem sido um entrave para quem trabalha na cobertura da tragédia em Petrópolis. A cidade foi devastada por um temporal, que provocou alagamentos e deslizamentos e a morte de 181 pessoas até o momento. Outras 104 seguem desaparecidas.

Foto: Felipe Grinberg

Em meio ao desastre, a circulação de desinformação é recorrente – desde notícias falsas de rompimento de represa a informações de prédios caindo e trombas d’água.

Outro exemplo, ocorreu no domingo (20), sexto dia de buscas após o temporal, quando a população foi surpreendida com áudios em grupos de aplicativo de mensagens que falavam sobre uma pessoa que havia sido resgatada com vida dos escombros, no bairro Vila Felipe. Em outros grupos, disseram que sete ou oito pessoas tinham sido resgatadas.

Questionada sobre a veracidade do fato, a Defesa Civil de Petrópolis respondeu, 16 horas depois, que o pedido da Sou Petrópolis deveria ser encaminhado ao Corpo de Bombeiros.

A informação já tinha sido solicitada à assessoria do Corpo de Bombeiros às 18h36 de domingo. A resposta padrão chegou às 15h47 desta segunda (21), apenas com o número total de óbitos, sem confirmar ou desmentir o fato.

Foto: @maridcrocha

A Sou Petrópolis voltou a perguntar na tarde desta segunda e quase duas horas depois recebeu a informação: “O CBMERJ não tem registro de resgate com as características mencionadas”, ou seja, de pessoas sendo resgatadas com vida.

Comunicação com a imprensa

O governador do Estado do Rio de Janeiro, Claudio Castro, concedeu apenas uma entrevista coletiva sobre a tragédia na quarta-feira (16), acompanhado pelo prefeito Rubens Bomtempo. O prefeito chegou a falar com a imprensa, também em entrevista coletiva, na noite de sexta-feira (18).

Após sete dias de busca, não há ainda porta-voz que se comunique diariamente com a mídia.

Foto: Gladstone Lucas

Repórter de um veículo de notícias de abrangência nacional, que preferiu não se identificar, diz que as respostas à imprensa estão demoradas e não estão centralizadas.

“[A comunicação] faltou durante dias com os bombeiros que estavam mais espalhados em outros locais que corpos foram encontrados. E tem muita informação desencontrada dos Bombeiros e da Defesa Civil. Tinha que ter algo centralizado, com horário minimamente certo e coordenado com todos os órgãos”, sugere profissional, que tem experiência na cobertura de tragédias, como em Brumadinho. Na cidade mineira, repórter conta que as informações eram repassadas à mídia de manhã, de tarde e de noite.

Foto: Bruno Soares

Jornalista de Petrópolis, Andreia Constâncio, reforça que a falta de transparência em informações, seja em tragédias como a que estamos vivendo agora, seja em ações rotineiras no município, acaba gerando desinformação e muitas fake news.

“Num momento como este, um canal rápido de informações oficiais é fundamental para orientar a população e minimizar sofrimentos. O que estamos vivenciando hoje em Petrópolis são ações desordenadas e informações truncadas (muitas vezes completamente erradas ou fora de contexto). Tem muita gente mais preocupada em falar nas redes sociais, que realmente informar de forma precisa nossa população”, afirma.

Foto: Felipe Grinberg

Nesta segunda-feira (21), o Ministério Público do Rio de Janeiro enviou nota afirmando que solicitou maior articulação entre os órgãos públicos que atuam na cidade e melhoria da comunicação institucional com a população petropolitana.

A Sou Petrópolis questionou a Prefeitura de Petrópolis sobre quais medidas serão tomadas a partir da solicitação do MPRJ e aguarda resposta.

Transparência é princípio básico

Para José Antonio Lima, editor-assistente do Projeto Comprova, faz parte do trabalho jornalístico buscar diferentes fontes na apuração de uma matéria, porém em casos como de tragédia natural, como ocorreu em Petrópolis, ele afirma que cabe ao poder público centralizar o fornecimento de informações.

“Em uma situação como essa eu não consigo ver alternativas muito claras ao poder público [como fonte de informação]. E, neste caso, a ausência dele torna tudo ainda mais grave. O jornalista fica em uma situação de fonte única sem poder recorrer às informações oficiais”, disse.

Foto: @projetodomorro

Para ele, a falta de comunicação entre os órgãos públicos e os jornalistas é uma forma de cercear o trabalho da imprensa no momento em que esta parceria tinha que estar  funcionando da melhor forma possível. “Transparência é um princípio que deveria ser básico ainda mais em um momento de tragédia como esse”, destaca.

Público receptivo à desinformação

José Antonio explica que a desinformação circula quando existe um público receptivo a ela. Ele acredita que, com o surgimento das agências de checagem, muitas pessoas aprenderam a lidar com a desinformação, mas reforça que ainda é difícil para a maioria conseguir identificar sem a ajuda da imprensa profissional.

“Em um cenário de tragédia, a minha impressão é de que as pessoas, mesmo as que estão mais acostumadas a lidar com desinformação, ficam mais suscetíveis a compartilhar e acreditar nesses conteúdos e isso se torna um problema. Então, por um lado temos a ausência do poder público e, por outro, a população suscetível em meio a uma tragédia”, afirma.

Foto: Willen Vieira

O editor-assistente do Projeto Comprova orienta ainda para que as pessoas tomem o máximo de cuidado para compartilhar conteúdo sem saber se são verdadeiros. A dica é para que a população seja orientada pelo que é divulgado pela imprensa profissional.

“Às vezes até mesmo pessoas bem intencionadas compartilham informações que elas acham que são verdadeiras, mas podem partir de um erro de um relato e aí eventualmente colocar alguém em risco”, ressalta.

Como ajudar as vítimas dessa tragédia?

Foto: Paróquia São José da Lagoa (A Paróquia São José da Lagoa fica na Avenida Borges de Medeiros, 2735, na Lagoa)

Para saber como ajudar as vítimas do temporal, reunimos diversas maneiras nas matérias abaixo:

– Ajuda, em geral:
– Voluntariado:
– Causa animal:
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