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Nascido na Região Serrana, jovem de 25 anos conquista vaga no maior laboratório de física do mundo

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Nascido na Região Serrana, jovem de 25 anos conquista vaga no maior laboratório de física do mundo

Natural de Teresópolis, João Pedro Gomes Pinheiro vai atuar ao longo de um ano e meio no CERN, localizado na Suíça

Recepcionado na Suíça em dezembro com o primeiro dia de neve do final do outono, ainda que a temporada no país seja de frio, para João Pedro Gomes Pinheiro, de 25 anos, a emoção de saber que pelos próximos meses o CERN – maior laboratório de física de partículas do mundo – será seu ambiente de trabalho e aprendizado é motivo suficiente para manter as condições climáticas e a adaptação a elas em segundo plano.

Foto: Divulgação

Nascido no interior de Teresópolis e apaixonado por Petrópolis, João Pedro vive hoje a realização de um sonho que, antes de mais nada, é o resultado de uma jornada de pelo menos oito anos de esforço e dedicação. Aluno de escola pública, ele conta que cursou o Ensino Médio no CIA José Francisco Lippi e que, ao final do último ano, foi introduzido ao trabalho da professora doutora Marcia Begalli – um divisor de águas.

“Durante longos papos com professores que hoje são meus amigos, Bruno Nogueira, Alexandre Mello e Augusto Moreira, para citar apenas alguns, descobri que, na verdade, desde cedo eu tinha espírito de cientista”. Na atuação de Marcia, professora da UERJ e uma das profissionais engajadas no detector ATLAS – a que João se refere como um dos dois grandes experimentos de propósito geral do CERN – ele explica que decidiu o caminho que iria trilhar.

E assim foi feito. Em 2020, se formou Bacharel e Licenciado em Física com desenvolvimento da monografia sob orientação de Márcia. Logo em seguida, o teresopolitano ingressou no Mestrado, desta vez orientado pelo professor doutor Luiz Mundim, responsável por coordenar o maior grupo no Brasil em colaboração com o experimento CMS do CERN. Já com o título de mestre, em 2022 João passou a cursar o doutorado, com o mesmo orientador.

Um objetivo de longa data

Quando olha para trás, o Mestre em Física revela que, já em 2015, passou a sonhar com a oportunidade de, um dia, trabalhar no CERN. Nos últimos anos, João Pedro desenvolveu pesquisas a partir da análise de dados em colaboração com cientistas do laboratório na Suíça. Ainda assim, ele explica que atuar diretamente no local multiplica as possibilidades de pesquisa e o permite, realmente, “colocar a mão na massa”.

Foto: Divulgação

“Trabalhar aqui fisicamente dá a possibilidade de desenvolver pesquisas na instrumentação dos detectores. O CERN possui tecnologia de ponta, uma infraestrutura que não existe em nenhum outro lugar do mundo. Não é à toa que foi daqui que saiu o protótipo do touch-screen, já na década de 70, e foi criada a World Wide Web (WWW) no final dos anos 80”, pontua com satisfação.

O recebimento da notícia

Conquista em muito atribuída ao apoio recebido pelos familiares, em especial aos pais e avó, a notícia da confirmação da viagem ao CERN foi recebida pelo físico no começo de outubro passado. “O professor Luiz, meu orientador, me ligou e disse: João, você tem disponibilidade de ir para o CERN em dezembro? Eu respondi: Eu tenho disponibilidade de ir para o CERN amanhã!”, relembra contente.

Foto: Divulgação

Por enquanto, o Brasil ainda não é um membro associado ao CERN, o que impossibilita a contratação de estudantes brasileiros diretamente pela instituição. Dessa forma, a maneira encontrada para viabilizar a atuação de João Pedro no laboratório foi por meio de um projeto submetido ao CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – que lhe permite atuar na Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear por seis meses.

Ao final desse período, o jovem profissional ainda irá atuar no laboratório por mais um ano – totalizando o período de um ano e meio – através de outra bolsa da agência de fomento CAPES, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Depois dessa temporada, o pesquisador retorna ao Brasil para defender sua tese de doutorado, que gira em torno da “medida de precisão do setor eletrofraco do Modelo Padrão”.

Mas, afinal, como se dá a atuação de João Pedro no CERN?

Desde que chegou a Suíça, João Pedro conta que tem trabalhado no upgrade de parte do detector de múons do CMS – Solenoide de Múon Compacto – chamado Resistive-Plate Chambers (RPC). Entre os estudos desenvolvidos está “a resistividade dos eletrodos das câmaras RPC e a procura por gases ecologicamente corretos a serem usados no detector em substituição aos convencionais, apontados como prejudiciais para o aquecimento global”.

O doutorando explica que muito do trabalho envolvendo o upgrade do CMS busca preparar o referido detector para o chamado HL-LHC, o Grande Colisor de Hádrons de Alta Luminosidade que é uma atualização de um projeto anterior, desenvolvido entre os anos de 2011 e 2020. “Há bastante trabalho pela frente, muitos eventos para analisar e, quem sabe, encontrar algo novo que cause outra revolução na nossa compreensão da Natureza”, reflete.

Foto: Divulgação

Em paralelo a isso, o teresopolitano tem trabalhado nas pesquisas que envolvem sua tese de doutorado e que dizem respeito “à medida de precisão do setor eletrofraco do Modelo Padrão”. Em sua análise, João procura “obter medidas de precisão da interação entre fótons e bósons W. Qualquer desvio dessa medida em relação ao que é previsto pelo Modelo Padrão pode indicar nova física”, afirma com entusiasmo.

Com bastante trabalho para frente e muitas metas para o futuro, João Pedro Gomes Pinheiro se diz animado para prosseguir e já com a intenção de, defendida a sua tese de doutorado, cursar o pós-doutorado no exterior para continuar a trabalhar presencialmente no CERN. Motivo de orgulho para os conterrâneos na Serra, o jovem de 25 anos prova que o caminho de aprendizados é longo e que o de conquistas que estão por vir também.

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