Mulheres de Petrópolis: conheça a fundadora da página ‘Feminismo’, que tem mais de 800 mil seguidores

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Ela tem 25 anos, é petropolitana, mas a sua influência vai além das fronteiras da Região Serrana. Daniela Moraes Brum, mais conhecida como Dani, é mãe do Benício, produtora de conteúdo, militante e criadora da página ‘Feminismo’, que hoje tem mais de 890 mil seguidores espalhados por todos os estados do Brasil.

Em 6 anos desde a criação da página, Dani vem mostrando que o feminismo vai muito além de ter amor próprio. É lutar pelo cumprimento das leis que protegem as mulheres, pelo fim do feminicídio, do assédio sexual, da desigualdade salarial, da cultura do estupro e por aí vai. “O feminismo é uma mudança coletiva, e é o meu dever falar para todas as mulheres (e para homens também) o quanto que o machismo machuca, fere e mata”, ela explica.

Foto: Firma Criadores

Daniela Moraes Brum é a segunda entrevistada da série “Mulheres de Petrópolis”, uma produção feita com a parceria entre Sou Petrópolis e o Café e Bistrô Duetto’s. Confira o resultado dessa conversa na ‘casa rosa’ mais charmosa da cidade:

1. Como o feminismo chegou na sua vida? E por que você decidiu criar a página @feminiismo?

Dani Brum: Quando entrei na faculdade eu já tinha uma ideia do que era feminismo, mas não fazia parte de nenhum movimento. E foi em 2013, quando aconteceu um caso de assédio nos jogos universitários, que comecei a fazer parte de um coletivo. Na época já comecei a ler livros e artigos sobre o assunto até que em 2014 criei a página. Só que era uma ferramenta mais para compartilhar algumas ideias e conhecer mulheres feministas de outros estados, porque aqui em Petrópolis eu não conhecia muita gente engajada nesse movimento.

2. Como a página cresceu tanto e hoje tem uma repercussão nacional?

DB: Em 2016 (2 anos depois de criar a página) eu estava com 40 mil seguidores, mas sem muito esforço e engajamento da minha parte. Foi tudo acontecendo a passos bem lentos. Até que no final de 2016 eu engravidei e com 5 meses de gravidez eu entrei em trabalho de parto prematuro e fui obrigada a me afastar do trabalho para ficar de repouso em casa. Na época comecei a pesquisar muito sobre violência obstétrica e questões sobre a maternidade. Simultaneamente, ia postando mais sobre isso e com mais frequência. Em julho de 2017 o Benício nasceu e eu resolvi levar o trabalho que eu vinha fazendo no Instagram mais a sério. Comecei a fazer textos autorais, compartilhar depoimentos de outras pessoas e atualizar diariamente a página, que começou a ganhar mais visibilidade, principalmente através da repostagem de famosos e de posts virais.

A partir daí, também comecei a dar uma cara para ela e mostrar quem estava por trás daquilo tudo. Era importante uma página que falava tanto de humanos ser humanizada, e foi aí que as pessoas começaram a criar um tipo de vínculo comigo.

Foto: Firma Criadores

3. Você esperava toda essa repercussão quando criou a página?

DB: Eu nunca tive essa intenção de criar uma coisa tão grande. Na verdade, nem sabia que isso era possível. Tanto que quando cheguei em 10 mil seguidores achava uma loucura e uma responsabilidade muito grande.

4. Quais tipos de cuidados você busca ter ao falar com tantas pessoas?

DB: A internet ainda não tem uma política ética muito bem definida e as pessoas acabam postando qualquer coisa sem muita responsabilidade. Mas a partir do momento que você passa a ter uma certa influência na vida das pessoas é muito importante ter consciência e cuidado com o que você posta. Eu, por exemplo, já cheguei a receber proposta de cirurgia plástica e intervenções estéticas que o único objetivo era usar a minha influência para que as pessoas fizessem esses procedimentos. Mas isso vai contra tudo o que eu falo e sou na página, então não faz sentido eu aparecer um dia lá toda ‘saradona’ só por dinheiro. Essa é uma responsabilidade que eu vi que precisava assumir desde o início, porque meu objetivo não é influenciar as pessoas a se modificarem.

Se alguma mulher me pergunta sobre um tratamento que eu fiz no cabelo ou na pele, eu nunca uso imperativos como ‘faz isso ou aquilo’, eu tento sempre aconselhar a procurar um especialista que vai ajudar ela da melhor forma possível. Até porque cada um tem um corpo, então não consigo entender como existem influenciadores que colocam a cabeça no travesseiro à noite e dormem tranquilos sabendo que eles estão prescrevendo ou influenciando pessoas a fazerem uma coisa que pode prejudicá-las.

5. O que a maternidade mudou na sua vida?

DB: Eu tive uma gestação muito complicada e quase perdi o meu filho, mas mesmo assim segui firme e tive o Benício de parto normal. Eu achava que não ia conseguir, mas tirei forças de onde nem sabia que existia. Ele me fez enxergar o meu verdadeiro potencial, a minha força. Eu comecei a perceber que tive questões durante esse período que outras mulheres também tiveram, mas ninguém falava sobre isso. Então comecei a tratar a maternidade na página de forma real, sem romantizar.

Acho que a maioria das mães amam seus filhos, mas nem todas amam ser mães. Eu posso dizer com convicção que amo os dois. O que me incomodava era como as pessoas me enxergavam, porque atrás da ‘mãe Daniela’ tem uma mulher com desejos, sonhos e vontades, assim como qualquer outro ser humano. Então o que mudou muito para mim foi questionar algumas coisas e ter mais sensibilidade e empatia de entender os problemas e as histórias por trás das pessoas.

Ou seja, a maternidade me humanizou mais e me mostrou uma Daniela que eu ainda não conhecia: uma Daniela mais forte e determinada. E ao mesmo tempo, me deu uma maturidade e responsabilidade maior, não só com o meu filho, mas com o mundo, porque eu quero uma sociedade melhor para ele.

Foto: Firma Criadores

7. Como é educar um menino que também está inserido numa sociedade machista?

DB: Eu tento ver o meu filho como uma criança, e crianças gostam de brincar. Então lá em casa tudo o que ele aprende é brincando. Por exemplo, quando ele tinha uns 6 meses dei para ele uma boneca que era minha e ele foi entendendo o cuidado que ele tinha que ter com a ‘Pérola’ (nome que ele deu para a boneca). Ele dá comida, troca fralda, coloca para dormir, enfim, tarefas que naturalmente deveriam ser dos pais também. Mostrando dessa forma ele aprende sem nem perceber.

Para comer, por exemplo, desde muito pequenininho eu deixo ele comer sozinho e desde cedo ele aprendeu que o que ele suja, ele precisa limpar. É claro que ele é uma criança e, portanto, faz muita sujeira e a limpeza é mais simbólica, mas ele percebe a importância disso. Parte de mim, também, me policiar a não deixar minhas coisas jogadas, porque eu sou o exemplo dele. Então, tanto eu como o meu companheiro buscamos sempre ser gentis e educados com as pessoas, porque é o que ele vê que ele vai se transformar.

7. Hoje a página se tornou um negócio rentável? 

DB: Eu comecei a ter retorno financeiro com a minha página pessoal e com o @feminiismo não tem muito tempo. Hoje faço muitas parcerias, preferencialmente, com marcas menores e de mulheres. Mas faço com o maior prazer de negócios de homens empreendedores, até porque o feminismo não é só apoiar e emancipar mulheres, é ajudar pessoas mais humildes e talentosas que dependem dessa divulgação para alavancar seus negócio. Então, muitas vezes, faço até de graça, espontaneamente.

Se eu pudesse ajudaria todo mundo mas, ao mesmo tempo, também é o meu negócio e eu também tenho contas para pagar. Fora todo o trabalho de pesquisa e apuração que tem por trás das postagens. Em relação ao filtro que eu uso para quem entra em contato comigo, é fazer parcerias com negócios que façam sentido estar ali e, por isso, já recusei diversos trabalhos com empresas de emagrecimento, estética e por aí vai.