Mulheres de Petrópolis: conheça a história da fundadora do ballet mais antigo da cidade
Em seus 75 anos de idade, pode-se dizer que Heloisa esteve a maior parte de sua vida em salas de aula, dançando e ensinando ballet. Por isso é difícil falar dela sem falar do Ballet Heloisa Schanuel, que completou, em 2019, 50 anos de história em Petrópolis. Durante todo esse tempo, passaram pela academia mais de 2,5 mil alunas, de todas as idades.
Falar de Heloisa Shanuel é falar de trabalho, de dedicação, de amor, inspiração e, principalmente, de muita fé. Depois de 7 anos lutando contra o câncer, a história dela poderia ser uma história triste e de lamentações. Mas diferente disso, a gratidão e o otimismo na vida que ela tem são raros de se ver. E apesar de já ter recebido diversos prêmios honrosos na cidade, incluindo o de ‘Mulher de Ouro’, ela não se importa e nem lembra o nome das premiações. Afinal, Heloisa tem coisas mais importantes para se preocupar, como viver e agradecer.
Foto: Firma Criadores
E é por essas e outras que Heloisa Schanuel é a primeira entrevistada da série “Mulheres de Petrópolis”, uma produção feita com a parceria entre Sou Petrópolis e o Café e Bistrô Duetto’s. Confira o resultado dessa conversa na ‘casa rosa’ mais charmosa da cidade:
1. Como você define esses 50 anos do Ballet Heloisa Schanuel?
Heloisa Schanuel: Foram 50 anos de muito trabalho e dedicação. Mas apesar disso, o ballet para mim nunca foi um peso. Foi muito aprendizado e a oportunidade de poder passar para os meus alunos ensinamentos não só da dança, como de vida. A emoção é muito grande de pensar quanta gente já passou pela a minha vida através do ballet.
2. Como surgiu o ballet na sua vida?
HS: Com 11 anos eu comecei a fazer ballet na Academia de Ballet Eunice Linton, onde eu morava, e desde o início já havia me apaixonado pela dança. Minha aula era às 17h, mas eu chegava 14h para assistir todas as aulas antes da minha. Quando fiz 12 anos eu fui chamada pela minha professora para ajudá-la e acabei aprendendo muito e melhorei a minha técnica. Aos 16 anos passei a ajudar também na academia em Niterói. Segunda, quarta e sexta estava lá e terça e quinta na Tijuca. Ou seja, todo meu tempo era dedicado aos estudos e ao ballet. Para poder conciliar os dois, usava meu final de semana para pôr toda a matéria em dia e não me permitia tirar nenhuma nota ruim.
Foto: Firma Criadores
Em 1959 eu perdi uma viagem à Europa, organizada pelo colégio, para não deixar de faltar quatro aulas de ballet. Só fui ter essa oportunidade de novo de sair do Brasil ano passado, quando fiz 50 anos de casada. Na ocasião, para os meus pais não implicarem, disse que estava com medo do avião cair. Eles acreditaram.
3. Como você decidiu que seria professora de ballet?
HS: Enquanto morava no Rio atuava mais como ajudante da minha professora de ballet. Quando comecei namoro com meu marido, a ideia de ser professora aqui (Petrópolis) começou a ganhar forma. Em maio de 1969 a minha professora, que tanto admirava, faleceu. Em junho casei em Petrópolis, vindo morar aqui e trouxe na mala muito aprendizado, não só sobre o ballet, como sobre as fantasias, que na época eram feitas todas a mão. Cheguei aqui determinada a iniciar a minha própria academia, enquanto ainda dirigia as academias da minha antiga professora no Rio e em Niterói.
4. Qual a sua relação com Petrópolis?
HS: Minha relação com Petrópolis começou aos 18 anos, quando subi a serra para tentar conseguir o teatro do Palácio Quitandinha para uma apresentação de ballet. Não consegui, mas acabei conhecendo o meu futuro marido. Casando, me mudei para cá e comecei a trilhar uma nova vida aqui. Eu me adaptei muito bem e, hoje, prefiro aqui ao Rio de Janeiro.
5. O que é preciso para formar um negócio sólido e reconhecido em Petrópolis?
HS: Dedicação. Cheguei aqui com 25 anos. Comecei a dar aula de ballet no Clube Petropolitano para apenas sete alunas, sendo que as primeiras eram primas e a irmã do meu marido. No ano seguinte, nasceu a Ana Claudia, minha primogênita. De lá para cá foram muitos anos de trabalho, conciliando com a criação dos meus filhos, que hoje são cinco.
Dei aula durante muito tempo sozinha no Petropolitano, no Clube 85, no Monte Líbano, no Colégio Santa Catarina. Quando eu estava grávida do meu terceiro filho comecei a dar aula em um salão em casa. Depois, até 2000, no Colégio Santa Isabel até chegar ao nosso endereço atual, na Rua do Imperador.
6. Como você define o Ballet Heloisa Schanuel?
HS: Disciplina e respeito. Em toda a minha vida e através da minha primeira professora de ballet aprendi a importância dessas virtudes. Eu acho que ballet não é só a dança, vai muito além. Recentemente, na apresentação dos 50 anos do Ballet Heloisa Schanuel, cheguei a me emocionar de escutar de ex-alunas que vinham me abraçar e me dizer o quanto aprenderam coisas que levaram para a vida toda no ballet.
7. Você consegue ver seu crescimento pessoal atrelado ao crescimento do ballet?
HS: Com certeza. Mas um crescimento que não sobe nunca a cabeça, sempre com o pé no chão.
8. Quais as maiores dificuldades que você enfrentou nesses 50 anos de história?
HS: Apesar dos obstáculos do dia a dia, eu sempre procurei agradecer mais do que reclamar e Deus foi muito generoso comigo. Me deu uma família linda e um trabalho que eu gosto. E quando as pessoas me perguntam se o câncer me abalou, eu sempre digo que em nada. Pelo contrário, esses 7 anos lutando contra a doença me deram mais força e fé. Sempre digo que o câncer foi uma bênção na minha vida, pois eu pude conhecer o poder de Deus em vida. Hoje estou curada e saudável.
Heloisa anda com uma frase na bolsa, que leva para todos os lugares: “A fé é a medida do poder de Deus na minha vida”. Foto: Firma Criadores
As pessoas recebem o diagnóstico de câncer e acham que estão condenadas à morte. Mas quem não morre? Deus sempre esteve comigo e hoje eu tenho certeza que não existe nada mais importante na vida do que a fé.
9. Qual a sua maior satisfação na vida?
HS: É ver a minha família bem e unida. Eu sou casada há 50 anos e nunca discuti com o meu marido. É claro que depois da doença a gente se uniu mais, mas ver meus filhos, noras e netos bem e unidos é isso que me deixa feliz.
10. De todos esses anos de ballet e de trabalho, qual foi seu maior aprendizado?
HS: É saber tratar os outros como a gente gostaria de ser tratado.
11. Qual o legado você busca deixar para os seus familiares e para as pessoas que passaram pelo Ballet Heloisa Schanuel?
HS: É amar, amar sem medida.