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12 anúncios de um jornal antigo de Petrópolis que vão mexer com a sua cabeça

História

12 anúncios de um jornal antigo de Petrópolis que vão mexer com a sua cabeça

“Vende-se cavalos, charutos e pessoas”.

Matéria atualizada às 18h do dia 3 de abril de 2024

O século XIX foi marcado pelo Império no Brasil, um período em que a segregação racial estava presente em todos os ambientes, inclusive nos jornais. Tais periódicos, além de contar histórias e informar, são registros do tempo, dos hábitos e costumes de uma época.

Os recortes que você vai ver agora eram muito comuns antigamente, embora ler isso hoje cause um certo estranhamento. Eles foram tirados do Arquivo Histórico de Petrópolis e publicados pelo jornal local ‘O Parahyba’, em 1857.

1. Bengala

Se você perdesse alguma coisa, o mais óbvio era publicar no jornal. Afinal, não existia página no Facebook de achados e perdidos.

“Perdeu-se, no domingo 3 do corrente, uma bengala pequena de unicorne com dous anneis de ouro no castão, no caminho do Itamaraty, ou mesmo na Cascata; quem achasse pode entregal-a na typographia desta folha, pelo que se lhe ficará muito agradecido”.

“Unicornes” já estavam na moda.

2. Alfinete

Seja lá o que você tivesse perdido, a esperança era a última que morria, até mesmo de encontrar um alfinete.

“Se alguem tiver achado um alfinete de peito com um grande brilhante, perdido entre as ruas D. Affonso, Imperatriz e Imperador, e quizer restituil-o, será gratificado. Nesta typographia se dirá quem o perdeu”.

Anuncia a perda do alfinete, mas está preocupado mesmo é com o grande brilhante.

3. Gratificação

E se você achasse, podia ser recompensado.

“Perdeo-se no dia 23 do corrente, da rua Thereza n. 6 até ao rumo da Lagem, uma caixinha de velludo, encarnada, com uma alfinete de brilhante; roga-se a quem a achar o favor de entregal-a em casa do Sr. Freitag Abreu e Lima”.

Perder alfinete de brilhante era muito comum, pelo visto.

4. Criado

“Ótimas” vagas de emprego também eram anunciadas.

“Precisa-se contractar um criado de condição livre, que seja moço e morigerado, branco ou de côr, para acompanhar e servir um moço solteiro. Previne-se que terá também de tratar de um cavalo de cocheira. Se alguém nestas circumstancias a quizer engajar, dirija-se a esta typographia que se lhe dirá quem precisa”.

Repare nos pré-requisitos da “vaga de emprego”.

4. Vende-se moleque

Mas o mais impressionante é que nos classificados vendia-se de tudo, inclusive pessoas.

“Vende-se um vistoso moleque de 18 a 20 annos de idade, muito com pedreiro de cimalha e tornijo, na rua do Imperador n. 3”.

Não era um moleque qualquer.

5. Dois por um

Na compra de uma “crioula” você levava o filho junto.

“Vende-se uma crioula de 18 annos, com um filho de 1 anno, sabendo cozinhar soffrivelmente, e inteligente oara todo o serviço de casa; seu ultimo preço é 2.000, e o motivo da venda não desagradará ao comprador: para vêr e tratar na travessa de Joinville n. 9”.

Se você não está muito indignado com isso, reflita.

*Crioula: termo pejorativo e discriminador contra a pessoa da raça negra ou afrodescendente.

6. Também vende-se “cavallos”

Bem ao lado da venda de moleques, havia venda de cavalos.

“Vende-se um bonito cavalo russo-queimado, muito novo e manso e de bons andares; para ver e tratar, rua Theresa n. 38”.

Repare a semelhança com o anuncio do “MOLEQUE”.

7. Ameaça

E se você se sentisse ofendido, podia desabafar ali mesmo (a semelhança desse desabafo com as indiretas no Facebook não são mera coincidência).

“Avisa-se ao sujeito lá do alto, que no dia 25 do corrente teve a habilidade de pular pela janela de uma casa particular e dirigir certas palavras a uma senhora que na casa se achava… de não continuar, do contrario será seu nome publicado. Um ofendido”.

‘Ass: Um offendido’. 

8. Convite

No meio disso tudo tinha divulgação de eventos.

“O Sr. Sanelli recém-chegado da corte no dia 30 do próximo passado, tem a honra de convidar o respeitável publico para assistir às habilidades de alguns de seus ratos, hoje das 10 da manhan às 10 da noite, na casa nova da rua de D. Affonso”.

“Habilidades de alguns de seus ratos”? É isso mesmo?

9. Perus perdidos

Anúncios como esses eram comuns.

“A pessoa a quem faltão dous perús pode-os mandar buscar no bilhar da rua de Bourbon, onde lhe serão entregues dando signaes”.

Parece que alguém achou um perú. Ou melhor, “dous perús”.

10. Preto fugido

Perus achados dividiam espaço no jornal com anúncios como esse.

“Fugio no dia 24 de Março próximo passado, um escravo de nome Manoel, de nação Angola, estatura baixo e magro, barbudo, boa figura; que o levar ao abaixo assignado na fazenda do Sumidouro, ou na rua Bragança n. 21, será pago comforme o seu trabalho”.

“Muitos signaes de castigo pelo corpo” era só mais uma característica como cor da pele e magro.

11. Preta fugida

“Desappareceo no dia 11 docorrente de casa do Sr. Jorge Karmm, na Villa Theresa n. 14, tendo sahido com licença para passear, a preta Rita, de nação Benguella, de altura regular, fala ligeiro e tem dedo pequendo pé um pouco levantado; levou chale de merinó amarelo, vestido de chita em cassa, de babados com barra azul, e tem muitos signais de castigo pelo corpo. O abaixo assignado dá boa gratificação a quem a apprenender, e protesta com todo rigor da lei contra quem a tiver acoutado. Villa Thereza 15 de Julho de 1858”.

Sr. Jorge Karmm, esperamos sinceramente que o senhor nunca tenha encontrado o seu “item perdido”.

12. Mas ATTENÇÃO!

Charutos eram importantes.

“Na rua do Imperador n. 42 acaba-se de abrir uma loja de charutos de todas as qualidades, como Havana legítimos, Hamburguezes, Bahia, etc, etc. cigarros de palha, de papel, e hespanhoes; papel almaço, de pezo, e paquete pautados; e papel de fantasia e envellopes, etc”.

Infelizmente, tão importantes quanto vender gente.

A Abolição da Escravidão no Brasil só foi ocorrer em 1888, através da Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel. Apesar do incômodo de reviver essas lembranças, de ver negros sendo tratados como mercadoria e de saber que depois de décadas a discriminação racial ainda persiste, é curioso perceber, na prática, como a tecnologia mudou a forma de comunicação entre as pessoas.

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