Sobrevivente da tragédia dos ônibus relembra o dia fatídico e pede por justiça
Defesa Civil e Setranspetro elaboraram protocolo para prevenir que outros desastres como este aconteçam
Nesta quarta-feira (15) completa-se 1 ano da tragédia que vitimou mais de 240 pessoas em Petrópolis. Uma das cenas mais chocantes na época foi a do ônibus sendo arrastado para dentro do Rio Quitandinha com vários passageiros. Rosangela de Oliveira foi uma das sobreviventes deste desastre e, até hoje, convive com os fantasmas do dia e luta por justiça.
Foto: Mácia Foletto Agência O Globo
Trauma
Ao relembrar o acontecido, a petropolitana relata que, por estarem em terra, os passageiros acreditavam estar seguros dentro do ônibus, mas quando a água começou a subir mais, alguns combinaram de ir para uma rampa do outro lado da rua. Como tudo aconteceu muito rápido, das pessoas que estavam perto de Rosangela, ela foi a única que conseguiu sobreviver.
“Vi todas aquelas crianças e adolescentes gritando e chamando pela mãe. Foi muito triste. Estou vivendo com um fantasma terrível. Um vizinho meu que estava no ônibus faleceu e sempre que eu passo na casa da mãe dele, que tem mais de 80 anos, ela me pergunta porque eu não salvei o filho dela. É uma tristeza que quem vê de fora não tem noção. Tem hora que fico triste por ter me salvado, é muito ruim conviver com isso”, declara.
Dentre as vítimas deste desastre estava Gabriel Vila Real da Rocha, de 17 anos, que foi encontrado sete dias após o acidente, no Rio Quitandinha, altura da Rua Washington Luís, próximo de onde os ônibus estavam. Outra vítima foi o pequeno Pedro Henrique, de 6 anos, que teve o corpo identificado apenas após seis meses de espera. Além destes, Heitor Carlos dos Santos, de 61 anos, ainda não foi encontrado.
Pedro Henrique e Gabriel. Fotos: Reprodução
“Foi muito sofrimento. Tenho dois filhos e quando vi aquelas crianças todas gritando, chorando e lembrando das mães, senti como se tivesse perdendo muitos filhos naquele ônibus, porque na hora virei tia e mãe daquelas crianças todas. Ninguém tem noção do que nós passamos”, comenta.
Justiça
Rosangela aponta que durante todo o ocorrido houve muito descaso das autoridades. Segundo ela, os passageiros haviam ligado para o Corpo de Bombeiros, que informou só poder realizar atendimento caso alguém estivesse passando mal.
Além disto, após sair do prédio onde os sobreviventes foram socorridos, a petropolitana ficou 2 horas na rua sem ter como ligar para alguém ir buscá-la.
“Foi uma tragédia sim, mas a empresa de ônibus deveria se responsabilizar por todos os que estavam dentro do ônibus. Até agora eles foram muito omissos, mas nossas sequelas continuam até hoje. Deveriam ter mandado alguém para ver o que estava acontecendo, se tivessem vasculhado a área, achariam mais pessoas. Não me conformo com a forma que lidaram com tudo”, afirma.
Protocolos de inundação
Desde o ocorrido, a Secretaria de Proteção e Defesa Civil da cidade, juntamente com o Setranspetro, vem elaborando medidas para prevenir que outros desastres como esse aconteçam.
Dentre as principais ações estão a implementação de cancelas eletrônicas no corredor da Rua Coronel Veiga/Washington Luiz na Ponte Fones, Duas Pontes e UPA Centro, além de ilhas de segurança que sinalizam os locais seguros onde as pessoas devem aguardar a água baixar. Um protocolo para a evacuação do transporte público e capacitações para motoristas também foram realizadas.
Mapa das ilhas de segurança
Estas e outras medidas do protocolo de inundação estão contidas no Plano de Contingência para o verão 2023, que é disponibilizado na página oficial da Prefeitura de Petrópolis. “Se existisse um planejamento desses naquele dia muita coisa teria sido diferente”, finaliza.