Petropolitanos que moram em outros países reforçam a necessidade do isolamento social para conter coronavírus
Seis petropolitanos espalhados pelos quatro cantos do mundo e um recado em comum: “fiquem em casa”. Conversamos com cada um deles, que relataram o que vem sendo feito para conter a pandemia do novo coronavírus nos países onde vivem. Eles deram um recado aos brasileiros, em especial, aos moradores de Petrópolis.
Foto Arquivo Pessoal: João Luis Celebrini, Camila Zoffoli e Vitor Lengruber
1. Itália – João Luis Celebrini
João tem 19 anos e mora na Itália, na região da Lombardia, que foi a mais afetada pelo surto de coronavírus.
“A situação aqui está bem difícil, pois estamos lutando com algo invisível e que está acabando com nossas vidas e de nossos familiares. Aqui na minha cidade, estamos de quarentena e nunca pensei que iria passar por algo assim na vida. Ruas desertas, lojas fechadas e no máximo o mercado está aberto”.
“Sair de casa aqui, só se for com uma carta dizendo que é por um motivo importante, se não levamos multas de 400 a 3 mil euros. Só pode uma pessoa por família entrar no mercado, com luva, máscara e, antes de entrar, o segurança põe álcool em gel nas nossas mãos. A situação é verdadeiramente algo muito sério, e que nós, jovens, devemos estar bem atentos, porque mesmo que sejamos mais fortes à doença, podemos transmitir tanto para os mais vulneráveis e mais idosos. Sei que muitos de vocês não podem parar de trabalhar, então o que eu aconselho é que se previnam e cumpram as medidas necessárias para não se infectarem e para não vir a infectar os outros”.
2. China – petropolitana que preferiu não se identificar
Essa petropolitana, que preferiu não vincular o seu nome à China, devido à rigidez do governo, mora em Pequim com o marido e três filhos. Após dois meses de isolamento, mais de 80 mil casos confirmados de coronavírus e mais de 3 mil óbitos, o país, finalmente, vem se recuperando.
“Foi por volta do dia 20 de janeiro que começamos a saber do vírus, e nessa época, já tinham mais de 200 pessoas infectadas em Wuhan (cidade onde o novo coronavírus surgiu). Logo depois, o governo já começou a distribuir máscaras para todo mundo e Wuhan foi totalmente fechada, aí já começamos a ficar mais assustados vendo que o negócio era sério mesmo”.
“Aqui em Pequim tem mais de 20 milhões de habitantes e, basicamente, todo mundo vive em condomínios e em prédios. Com a descoberta do perigo do vírus, o governo decretou a quarentena voluntária e as associações de condomínio se organizaram para fazer um controle sanitário. Passamos a ter apenas uma entrada, onde toda vez chegávamos mediam a nossa febre e se estivesse com uma temperatura acima de 37,4°C, a pessoa era levada ao hospital. Eles criaram os ‘fever hospitals‘ (hospitais da febre) e a gente tinha uma lista de todos eles para caso tivéssemos febre. A partir daí, tudo passou a ser muito bem controlado pelo governo: acabaram com os trens e carros de aplicativo intermunicipais; fecharam as escolas, inclusive até hoje; todo mundo que chegasse de outro país tinha que cumprir a quarentena; e as pessoas começaram a sair de casa apenas para fazer compras”.
“A gente passou a ter, também, um aplicativo que mostra em tempo real todos os casos confirmados, óbitos e recuperações de todas as províncias da China. E só agora que o comércio está voltando a funcionar. Na minha opinião e acredito que, na maioria das pessoas, o isolamento social foi a melhor medida para conter o vírus. Se a gente não tivesse seguido esse padrão de isolamento, teríamos perdido o controle de casos e haveria muito mais mortes”.
“Apesar de todas essas medidas terem sido muito difíceis para todo mundo economicamente, principalmente em um país de mais de 1 bilhão de habitantes, aqui nós temos o entendimento de que só seria possível controlar essa epidemia se cada um fizesse a sua parte. Então o que eu digo para minha família que está no Brasil é o seguinte: o vírus já está aí e a pandemia também. Não adianta querer lutar contra ele, porque quanto mais tempo você demorar para entender que o seu papel é ficar em casa para diminuir a propagação do vírus, o estrago vai ser muito maior e a quarentena vai levar muito mais tempo”.
3. Estados Unidos – Camila Zoffoli
Camila tem 30 anos e mora há 6 em Orlando, na Flórida. Os Estados Unidos já ultrapassaram a China e a Itália, e são o primeiro país com mais casos confirmados da Covid-19 (mais de 120 mil casos – informação obtida no dia 29 de março).
“Em Orlando, foi decretado o ‘Stay at Home’, que quer dizer que somente pessoas em serviços essenciais podem sair de casa. No momento só podemos ir ao supermercado e voltar para casa. Inclusive, os supermercados estão fechando cedo e a maioria do comércio, como restaurantes, só faz entregas. As aulas de escolas públicas estão suspensas. E a Disney, que é o parque que mais atrai pessoas do mundo todo, está fechada. Além disso, estão aplicando uma multa de $500 para quem estiver nas ruas e não estiver prestando serviços essenciais”.
Foto Arquivo Pessoal Camila Zoffoli
“Os Estados Unidos é um país de primeiro mundo e está preparando stands de testes rápidos do coronavírus, mas mesmo assim a situação é muito preocupante. Se eu pudesse dar um recado para os petropolitanos agora, diria: fique em casa e tome as devidas precauções de higienização”.
4. Rússia – Vitor Lengruber
Vitor é estudante de Relações Internacionais da UCP e está fazendo intercâmbio na Rússia, que conta com mais de mil casos confirmados para Covid-19 e 8 óbitos, até o momento (informação obtida no dia 29 de março).
“Estamos em quarentena obrigatória, a partir do dia 30. Nós, aqui na Far Eastern Federal University, já estávamos em isolamento há cerca de uma semana e meia por conta de decisão da Universidade – aulas online, restrição de horários para entrar e sair dos dormitórios e justificativa para entrar nos prédios administrativos da FEFU”.
“Para ser honesto, acho que está sendo ineficiente, pois muitas pessoas continuam saindo para coisas desnecessárias, como bares, e acabam colocando em risco todo o grupo em que têm contato, incluindo os colegas de quarto. Não adianta 40 pessoas estarem em isolamento se meia dúzia contraem o vírus e passam para o restante’.
“A melhor solução agora é ficar em casa, quem puder. Mas isso deve ser feito em conjunto, com todos tendo consciência do que precisa ser feito e tendo responsabilidade. Para passarmos por isso, diversas pessoas dependem de cada um de nós. Caso contrário, não é eficiente”.
5. Irlanda – Ana Beck
Ana tem 24 anos e mora em Dublin, na Irlanda. Até o momento (29 de março), já são mais de 2 mil casos confirmados no país e 36 mortes por coronavírus.
“Primeiro o governo fechou as escolas e, depois, cinemas, restaurantes e os pubs, o que para Irlanda é um feito histórico. O primeiro ministro decretou lockdown em todo o país, fechando tudo e deixando apenas os serviços essenciais funcionando. As pessoas estão, a maioria, em casa. Porque a Irlanda é um país pequeno e o sistema de saúde aqui não tem preparo para atender tanta gente, então é bem preocupante”.
Foto Arquivo Pessoal Ana Beck
“Para não causar um colapso na economia local, o governo está dando um auxílio de 350 euros por semana para os trabalhadores autônomos e informais, empréstimos sem juros para empresários, entre outras medidas. Os hospitais, que eram particulares, também foram estatizados para todas as pessoas terem acesso à saúde durante esse momento de crise”.
“Me assusta muito as coisas que leio sobre o Brasil, porque quanto mais tempo demora para tomar as medidas, vira uma bola de neve e o sistema de saúde não aguenta, como aconteceu na Itália. Mal ou bem, aqui paramos, mas ainda temos o suporte do governo. No Brasil, as pessoas precisam ficar em casa, mas também precisam trabalhar, por isso as autoridades precisam fazer alguma coisa para parar essa curva e os brasileiros precisam fazer a sua parte evitando de ir para a rua”.
6. Nova Zelândia – Bernardo Barbosa
Bernardo mora há 3 anos na Nova Zelândia, onde já foram confirmados mais de 500 casos até o momento (informação obtida no dia 29 de março).
“O governo aqui agiu bem rápido em relação ao vírus. Por ser um país muito pequeno e com pouca estrutura hospitalar, seria muito difícil de tratar muitos casos. Foi criado um plano de ação bem no início, com 4 níveis de prioridade. Agora estamos no nível 4, que é de quarentena em todo o país. Está tudo fechado, exceto os serviços essenciais. O governo acionou um plano econômico para ajudar as pequenas e médias empresas, e os preços de aluguéis e produtos foram congelados”.
Foto Arquivo Pessoal Bernardo Barbosa
“Eu entendo que muitas pessoas não podem trabalhar de casa e ficar sem receber, e isso é muito preocupante. Mas a situação é séria e esse vírus, se não controlado, pode dificultar a vida de todo mundo por muito tempo. Um tempo muito mais longo que o período de quarentena. Acredito que todos estamos nessa situação juntos, então se você está passando dificuldades por não poder trabalhar nesse período, peça ajuda. Se o governo não te ajuda, pede para um amigo te ajudar nas compras. Pede para o seu inquilino adiar o aluguel. Com o tempo tudo vai se acertar, mas precisamos nos cuidar e nos ajudar nesse momento”.
Veja também:
Entenda por que os exames para Covid-19 demoram para ter um resultado
Petrópolis confirma mais um caso de coronavírus e número de exames em análise sobe para 70
Confira opções de mercados e mercearias que fazem entregas em Petrópolis
6 formas de apoiar os negócios de Petrópolis em meio à crise do coronavírus
Confira sugestões de delivery para apoiar os pequenos empreendimentos de Petrópolis
Confira as principais dúvidas e respostas sobre o coronavírus em Petrópolis