Connect with us

Conheça o morador de Petrópolis por trás de grandes monumentos da história do Brasil

História

Conheça o morador de Petrópolis por trás de grandes monumentos da história do Brasil

O marmorista João Lopes foi o responsável por produzir a Estátua da Justiça, em Brasília, os Três Pracinhas, no Aterro do Flamengo, os túmulos de Conde D’Eu e Princesa Isabel, na Catedral São Pedro de Alcântara e o Obelisco da “Avenida”, em Petrópolis

Os túmulos do Conde D’Eu e da Princesa Isabel, na Catedral, e o Obelisco da Rua do Imperador, são munumentos icônicos de Petrópolis. Assim como os Três Pracinhas e a Estátua da Justiça são para o Aterro do Flamengo e Brasília, respectivamente. Mas o que essas esculturas tão distintas poderiam ter em comum? Todas elas foram produzidas em Petrópolis, pelo marmorista João Lopes.

Foto: Arquivo Pessoal

Nascido em Escalos de Baixo, em Portugal, João Lopes veio para o Brasil antes que seu país natal fosse tomado pela ditadura do Salazar, em 1928, quando tinha 21 anos. De acordo com uma de suas netas, a jornalista Maria Rachel, o avô viajou apenas com o dinheiro que havia obtido com a venda de um anel dado pela madrinha dele.

“Ele contrariou a mãe, Rachel, ao imigrar, e partiu brigado com ela. Mas a pobreza em Portugal era muita e, naquele tempo, se dizia que no Brasil havia muito mais oportunidades. Acabou, anos mais tarde, ajudando toda a família além mar e foi o melhor sucedido entre os quatro filhos da minha bisavó, de quem herdei o nome”, conta.

O início dos trabalhos

João então se estabeleceu no Rio de Janeiro, próximo ao cemitério dos ingleses, e fazia bicos limpando fachadas de lojas. Até que encontrou um trabalho em uma marmoraria no Rio. “Cresceu muito rápido, sempre foi bastante trabalhador e logo ficou responsável por cuidar como empreiteiro das obras dos patrões”, declara Rachel.

Foi assim então que veio a reformar, em algum momento entre 1935 e 1940, a Casa D’Ângelo, na Rua do Imperador, em Petrópolis. “Um dia, minha avó, Deca, mineira de Ewbank da Câmara, mas residente de Petrópolis, passou por ali. Ele se enamorou dela e acabaram fazendo a vida aqui na cidade”.

O marmorista acabou virando industrial e seu próprio patrão e, por volta dos anos 40, fundou a João Lopes e Cia. Ltda. “Meu avô também fazia parte do Rotary Club de Petrópolis e foi presidente, e um dos fundadores, da Real Beneficência Portuguesa de Petrópolis. Inclusive, seu nome até hoje está numa plaquinha na recepção e ele tem sua foto exposta na parede da secretaria”, comenta a neta.

Foto da inauguração. Crédito: Arquivo Pessoal.

Obras

O artesão era muito amigo dos freis Querginaldo Memória e Aniceto, além do Monsenhor Gentil, o que fez com que a maior parte das pias de batismo e altares de Petrópolis tenham saído diretamente da sua oficina, que ficava localizada na Avenida Barão do Rio Branco, 2764.

Foto da inauguração da pia bastismal da Igreja do Rosário. Da esquerda para a direita, a pequena Maria Rachel e seu avô, João Lopes. Créditos: Arquivo Pessoal

E as obras feitas para igrejas da cidade não param por aí. Os icônicos túmulos do Conde D’Eu e da Princesa Isabel, que ficam no Mausoléu Imperial, na Catedral São Pedro de Alcântara, também foram feitas na oficina.

O momento do translado dos retos mortais do Porto de Havre, na França, até Petrópolis, em 1971, pode ser visto na reportagem produzida pela Agência Nacional. No vídeo, é possível ver João e seus funcionários acompanhando o fechamento dos túmulos.

“Saíram diretamente da Barão do Rio Branco também o nosso Obelisco, aquele da Avenida, o monumento dos Três Pracinhas e a Estátua da Justiça, em Brasília. Esta última, além de ter sido esculpida na oficina do meu avô, foi feita com granito petropolitano, se não me engano, proveniente de uma pedreira do bairro do Caxambu”, conta.

Na estátua, há uma sinalização com essa curiosidade, informando que o monumento foi construído a partir de um bloco de granito de Petrópolis, medindo 3,3 metros de altura e 1,48 metros de largura.

Foto tirada em cima do caminhão no dia em que a estátua partiu da marmoraria no Retiro, para Brasília. João Lopes é o que está de gravata. Foto: Arquivo Pessoal

“A Estátua da Justiça e os Três Pracinhas são criação do artista mineiro Alfredo Ceschiatti, que confiava ao meu avô a reprodução de suas obras. A prática era que os escultores entregassem os originais em um tamanho mínimo, e meu avô e sua turma, em especial o seu braço direito, Sr. Garrido, as esculpissem nesses blocos imensos”, explica Rachel.

Em Petrópolis, João também foi responsável pelos pedestais de alguns outros monumentos, como o da aviação, que está na Praça da Liberdade.

Além deste, há também a escultura do fundador do Rotary Club de Petrópolis, Paul Harris, o marco Rotário na cidade, instalado hoje na entrada do Quitandinha. “Este ficava antes perto da atual da rodoviária. A escultura foi feita em granito e em tamanho real”,

Os três pracinhas. Foto: Arquivo Pessoal

“Pelo Brasil foram muitas outras obras, como a fachada do Banco da Bahia, reformou teatros em Ilhéus e Manaus, a Catedral Metropolitana do Rio, o prédio do Bozano Simonsen e muitas outras. Gostaria de poder voltar ao passado, pegar mais detalhes e matar as saudades também, mas, infelizmente, não tive tempo”, finaliza Maria Rachel, que perdeu seu avô quando ainda cursava o primeiro período da faculdade de jornalismo.

Veja também:

Continue Reading

Você também vai gostar

Subir