Cinco meses da tragédia: lojas de Petrópolis são exemplo de resiliência e resistência
Doces Vizani, Inverno D’Itália, Pequenos Travessos e Bonecando tiveram prejuízos incalculáveis após as chuvas de fevereiro e, depois, a de março. Força de vontade e solidariedade de quem as apoia são os combustíveis para que elas sigam se reinventando a cada dia
Na psicologia, a palavra resiliência é definida como a capacidade de lidar com problemas, adaptar-se a mudanças, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas. Nesse contexto, empresas de Petrópolis atingidas pelas chuvas de 15 de fevereiro, são exemplo de resiliência em seus processos de reconstrução. Cinco meses depois, elas seguem tentando contornar os prejuízos somados pelas enchentes e deslizamentos, que foram agravados com uma nova chuva em 20 de março.
Foto: Giovani Garcia
Nas duas situações, ruas inteiras foram destruídas e lojas invadidas pelas águas. Apesar das marcas profundas, o caos deu espaço à solidariedade e muitas empresas começam a se reerguer agora, na alta temporada, após contarem com ajudas sejam vindas de vaquinhas on-line ou da própria família e amigos.
Seja nas tragédias passadas ou nas atuais, a certeza que fica é de que Petrópolis e os petropolitanos são capazes de se reerguer, não importam as adversidades e nem quanto tempo seja necessário. Pensando nisso, a Sou Petrópolis reuniu histórias de superação de algumas empresas atingidas pelas tragédias que têm como combustíveis a força de vontade e as atitudes de quem se solidarizou nesse período para se reinventar a cada dia.
Doces Vizani: da queda até a reconstrução
Muito tradicional em Petrópolis, a Doces Vizani foi fortemente atingida pela tragédia. No dia 15 de fevereiro, uma cratera se abriu na rua onde a fábrica ficava, na Estrada da Saudade.
Foto: Divulgação
Como contenção, foram colocadas placas de concreto para evitar novos problemas, mas não foi o suficiente para impedir que a tragédia do dia 20 de março destruísse por completo o sonho dos idealizadores da marca.
Foram 30 anos de trabalho perdidos, além de todas as máquinas necessárias para o preparo dos doces. De acordo com Carlos Vizani, dono da empresa, a água cavou em torno do concreto, fazendo com que o peso causasse a queda da estrutura.
Além da fábrica, a casa da família, que ficava na parte de cima, também acabou interditada. Sem casa, trabalho e sustento, esse seria o fim da Doces Vizani, mas a família não desistiu.
Apoiada nos petropolitanos e por uma vaquinha online, a fábrica conseguiu se mudar para um novo endereço e iniciou a recuperação, que está no início, mas já mostra a força de superação.
Em uma publicação no Facebook oficial da Doces Vizani, a família agradeceu aos que ajudaram e participaram desse novo passo. “Com muita alegria e gratidão, viemos agradecer por todos que nos ajudaram de alguma forma nesse momento difícil e conturbado. Foram muitas pessoas enviando palavras de encorajamento. Também com alegria informamos que estamos tendo um novo recomeço, agora em um novo endereço”.
A Doces Vizani agora está na Rua Luvercy Fiorino, número 92, no Loteamento Samambaia e já voltou a receber clientes.
Inverno D’Itália: um novo espaço
Afetada pelas duas tragédias, a cafeteria, que ficava na Rua do Imperador, acabou se mudando para a Avenida Ipiranga. Além dos traumas adquiridos pelas perdas consecutivas, ter de se reinventar também foi um problema para a equipe, afirma Bruna Gallozio, dona do Café.
Fotos: Divulgação
O receio de abrir um novo ponto, de acordo com Bruna, também era grande, já que as coisas poderiam não dar certo. Ela comentou que a reconstrução foi difícil por conta da adaptação e por ter que enxugar custos. No novo cardápio, apenas os produtos mais pedidos permaneceram, o que trouxe inovação para o empreendimento.
“Essa mudança deu certo, agora estamos em uma rua mais tranquila. A redução de custo ajudou e agora estamos melhores do que estávamos, com um atendimento mais dinâmico e rápido”, comentou.
A cafeteria agora tem apostado na técnica “Coffe to Go”, onde o consumidor retira o produto no estabelecimento e leva para casa, em uma demonstração clara de adaptação à nova realidade.
Pequenos Travessos: das perdas à retomada
A Pequenos Travessos, loja de artigos infantis, também foi muito atingida pelas chuvas deste ano. Localizada na Rua do Imperador, a loja sofreu com danos e perda de produtos, mas está se recuperando com o apoio da população de Petrópolis.
Fotos: Divulgação
“Estamos vivendo um dia de cada vez. Renovando o estoque, mesmo com receio. Todas as noites relembro o terror e as cenas de tristeza, porque as feridas ainda estão abertas. As marcas ainda estão evidentes em vários lugares, mas com o apoio de todos, a vida continua. O segredo é sempre acreditar que dias melhores virão”, conta Rosane Ferreira, dona da loja.
Segundo a empresária, os problemas estão sendo superados com esforço, coragem e vontade de reconstruir. “Já estamos com novas promoções e novidades para os clientes e nos reestruturando”, diz.
Bonecando Atelier: da tragédia à esperança
O atelier funcionava no bairro Vila Felipe. Durante a forte chuva de 15 de fevereiro, a família teve parte da casa e o espaço onde confeccionava os bonecos soterrados. Com as chuvas de 20 de março, perderam o que restava, como máquinas e matéria-prima, ambas necessárias para a confecção dos objetos.
Foto: Adriana Kochem
“Em janeiro, com o aumento dos pedidos, contratamos duas pessoas para trabalhar na confecção, mas a tragédia veio e atingiu o atelier e a casa. Estávamos com muitos pedidos, mas tivemos que devolver todo o dinheiro, mesmo já tendo investido nas peças”, disse Tatiana Ferreira, criadora do Bonecando.
Atualmente, a Bonecando Atelier está contando os dias para voltar a pegar os pedidos dos clientes e à confecção das peças. A previsão, de acordo com Tatiana, é que isso ocorra até o fim deste mês de julho.