Dois meses após tragédia, moradores seguem pedindo limpeza em bairros atingidos pela chuva
Moradora do Caxambu diz que ‘ambiente está insalubre’. Outras áreas que seguem com marcas e rastros de 15 de fevereiro são: Vila Felipe, Sargento Bonening, 24 de Maio, Chácara Flora e Morro da Oficina
Dois meses se passaram após a tragédia de 15 de fevereiro, que deixou mais de 200 mortos na cidade, e moradores das áreas mais atingidas em Petrópolis seguem pedindo a retirada de entulhos e limpeza. Caxambu, Sargento Boening, Vila Felipe, Chácara Flora, Morro da Oficina e 24 de Maio foram as áreas mais afetadas e sessenta dias depois ainda convivem com os rastros daquele temporal.
“A Comdep removeu algumas coisas, mas ainda tem muitos escombros a serem removidos. O ambiente está insalubre”, diz Raquel Neves, moradora da Rua Bartolomeu Sodré, no Caxambu.
Imagem feita no dia 13 de abril mostra entulhos no Caxambu/ Foto: Raquel Neves
Nesta semana, Raquel chegou a fotografar a situação no bairro. Ela diz que o município diz que vai retirar o entulho, mas ainda falta muito para a região voltar à normalidade. “Disseram que irão remover, mas tem dias e nada. Esse trecho onde caiu a pedreira, está sem iluminação pública a noite. Sem sinalização, extremamente perigoso”, afirma a moradora.
No Sargento Boening, registros feitos pela fotógrafa Mariana Rocha impressionam por mostrar que pouco foi feito na região desde a tragédia.
Sargento Boening/ Foto: Mariana Rocha
Para Mariana, o cenário de destruição que permanece, só piora a dor e o medo da população, que continua tendo que conviver com essas cenas dolorosas no dia a dia.
“Por outro lado, há o risco da gente começar a naturalizar esse cenário, porque quando a gente se habitua, a gente vai deixando de se chocar, e quando a gente não se choca, paramos de cobrar o que é nosso direito. Que é não passarmos por mais tragédias evitáveis como essa”, diz a fotógrafa.
Nesta semana, a Secretaria de Obras informou que vai iniciar o escoramento para estabilizar o prédio do BNH do Sargento Boening atingido pelo deslizamento, realizar a remoção da terra e, após esse trabalho, os técnicos vão realizar nova vistoria para avaliar a recuperação do prédio.
Mariana Rocha também fotografou a região do Vila Felipe, outra área muito afetada pela chuva de fevereiro.
Vila Felipe/ Foto: Mariana Rocha
A fotógrafa conta que os registros são uma forma de garantir a memória desse período que a cidade enfrenta.
“Eu espero que essas fotos sejam aliadas na missão de não esquecermos o que aconteceu, como ocorreu em outras tragédias. Todos nós, sociedade civil e poder público, temos a obrigação de não deixar o que aconteceu ser esquecido. E preservar essa memória, a meu ver, é também uma forma de respeito a dor de quem perdeu familiares, amigos e suas casas”, afirma.
Medo e insegurança
Quem vivia na Rua 24 de Maio e teve que sair devido ao risco de rolamento de uma pedra de seis toneladas, também fala sobre o sentimento dois meses após a tragédia.
Pedra com risco de rolamento na Rua 24 de Maio / Foto: Ascom PMP
Este é o caso da fisioterapeuta Taila Julia, de 32 anos. Ela e toda a família moravam no bairro. Só a mãe da Taila morava na 24 de Maio há 40 anos. “Nunca tinha ocorrido nada parecido, sabemos que não podemos pensar o pior, mas hoje está tudo tão mudado que não temos mais certeza de nada”, diz.
A fisioterapeuta e a família conseguiram o aluguel social e mesmo que a situação da pedra seja resolvida – atualmente conta apenas com um sensor que mostra a movimentação em tempo real, Taila conta que não sente mais segurança na Rua 24 de Maio. “Não me sinto mais segura lá e minha mãe já tem 76 anos, não acho justo ela terminar a vida com medo”, desabafa.
Sobre a limpeza
Por meio de nota, a Prefeitura disse que a Comdep segue atuando na limpeza e manutenção dos bairros citados e tem feito operações de tapa buraco e recuperação de redes.
O município informou que mais de 205 mil toneladas de detritos foram retiradas das áreas atingidas e mais de 400 casas foram limpas pelas equipes da Companhia. Grande parte dessas residências estão localizadas nos bairros do Chácara Flora, Vila Felipe, 24 de Maio, Rua Nova e Caxambu, segundo a Prefeitura.
Desmontes de pedras
De acordo com o município, 1850 toneladas de pedra foram retiradas em toda a cidade desde o dia 22 de fevereiro. Em quase dois meses de trabalho, os técnicos especialistas na remoção das rochas já percorreram as localidades do Caxambu, Rua Primeiro de Maio, Saldanha Marinho, Morro da Oficina, Rua Teresa, Vila Felipe, Rua Uruguai, Rua Barão de Águas Claras, Rua Dr. Thouzet e São Sebastião.
Na última segunda-feira (11), as equipes trabalharam no Alto da Serra para a retirada de 10 pedras, com cerca de 160 toneladas ao todo. Em quase dois meses de trabalho, equipes já retiraram 1,8 mil toneladas de pedra em áreas afetadas pelas chuvas.
No último fim de semana, a Prefeitura diz que os desmontes de pedra se concentraram na localidade do Chácara Flora, de onde foram retiradas outras sete pedras, com um total de 90 toneladas.
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