Moradora de Petrópolis começa a estudar na terceira idade e se torna inspiração: “Não vou desistir não”
Sem oportunidade de entrar numa sala de aula quando era criança, Dona Cecília, aos 80 anos, se orgulha de há 10 deles ter dedicado seu tempo aos estudos
Dizem que o primeiro passo para conquistar é acreditar ser possível e, principalmente, crer em si mesmo. Assim, não há condição ou idade que irá lhe limitar, como bem comprova a senhora Cecília da Conceição Simões, de 80 anos. Decidida a estudar sem se incomodar com a idade, há cerca de 10 anos ela se sentou pela primeira vez em uma cadeira escolar. Hoje no equivalente à quarta série, ela fala com orgulho sobre o caminho trilhado e sua família.
Foto: Reprodução/Facebook
Nascida em Paty do Alferes, dona Cecília começou a trabalhar aos 5 anos de idade para ajudar a família, que morava “num matagal mesmo”, como ela descreve. Na época, seu pai trabalhava na queima de carvão. Assim, sua tarefa era costurar os sacos e contribuir com o negócio. Em uma família de dez irmãos, ela explica que desde bem jovem precisou auxiliar a mãe na criação dos mais jovens. Com isso, não sobrou tempo para ir à escola.
Casando-se aos 17 anos de idade, a patiense deu continuidade à tradição de família grande e teve nove filhos. Hoje, ela calcula que já sejam mais de 20 netos e bisnetos. Responsável por criar muitos deles – o que é motivo de grande orgulho para ela – decidiu, já na terceira idade, que realizaria um objetivo antigo seu: o de se dedicar aos estudos. Começou numa escola no Vale dos Esquilos, onde reside, e hoje estuda na Escola Paroquial São Pedro de Alcântara.
“Eu não sabia nada, nem meu nome. Graças a Deus hoje eu sei. Meus filhos eu coloquei todos para estudar”. Empenhada em fazer os estudos acontecerem, dona Cecília, que reside em Petrópolis há mais de 70 anos, tem na força de vontade sua principal aliada. De segunda a sexta, das 19 às 21 horas, suas horas de estudo são sagradas. De ônibus, ela faz o percurso de ida e volta sozinha até a escola, onde divide a sala com outros idosos de até 84 anos!
Quieta em sala de aula, a petropolitana de coração diz que se preocupa em absorver ao máximo os aprendizados. “A professora sempre fala: Cecília e Geraldo quase não tem boca para falar na sala. Sou muito quieta lá para prestar mais atenção no dever do que conversar”. Terapêuticas, as aulas são uma excelente forma de se manter ainda mais ativa do que já é. Afinal, seus dias terminam tarde e começam cedo, tamanha a quantidade de afazeres.
Já habituada a acordar, diariamente, às cinco da manhã, dona Cecília, que reside com um de seus filhos, brinca que quando ele a procura, ela “já bateu o pé”. “Tô sempre fazendo minha hortinha. Tenho minhas galinhas que eu cuido, meus três cachorros e ainda cuido dos meus netos. Mando para a escola, faço lanche, almoço. Adoro cozinhar no meu fogãozinho de lenha. Se tiver que fazer uma coisa eu vou e faço”, fala contente.
Viúva de seu marido que faleceu aos 82, dona Cecília admite que trabalha bastante, mas que também é muito feliz. “Enquanto Deus me der forças eu vou estudando. Não vou desistir não”. Matriarca da família, ela tem sido motivo de inspiração dentro e fora dela, já que até na vizinhança algumas de suas amigas já foram convencidas a ir junto dela para algumas das aulas. Sinal de que, além de aprender, há tempos dona Cecília também ensina muito!
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