‘Nasci de novo’, diz manobrista que estava dentro de ônibus arrastado para o rio no temporal em Petrópolis

O manobrista Daniel Nascimento, de 26 anos, estava dentro de um dos ônibus que foram arrastados para o rio durante o temporal de terça-feira (15) em Petrópolis. Ele conta que conseguiu sair minutos antes do coletivo virar: “Nasci de novo”, diz.

Os ônibus faziam as linhas 401-Independência e 465 – Amazonas. Daniel estava dentro do Amazonas. Ele conta que todos os bancos estavam ocupados e que tinha muitas crianças voltando da escola, além de idosos.

Quando a água tomou conta das ruas, o manobrista disse que todos estavam na expectativa da chuva parar e a água abaixar, como sempre ocorre, porém a chuva só apertava e, de repente, a água começou a entrar nos ônibus, o que foi deixando rodoviários e passageiros em pânico.

Foto: Daniel Nascimento

Quando viu a situação piorar, com  nível da água subindo, Daniel puxou a alavanca de emergência para retirar a janela. “Olhei para fora e não tinha como sair, nem tirar as pessoas. Não tinha onde segurar”, conta.

Diante do desespero, foi que apareceram dois heróis, segundo Daniel. Funcionários do Condomínio Quinta de Altiora, que fica na Rua Washington Luís, chegaram com uma corda e começaram a resgatar alguns passageiros do ônibus da linha 401.  Segundo Daniel, este coletivo estava mais próximo do condomínio.

Depois começaram a tirar também os do ônibus em que Daniel estava, porém com dificuldade já que o coletivo estava mais próximo do rio. “Fui o quarto a sair. Tenho uma dívida enorme com esses moradores. Se não fossem eles, ia morrer todo mundo. Essa história que já é triste, seria ainda pior. Eles ficaram o tempo todo com a gente e nem sei quem são”, afirma.

Homens saíram primeiro

O manobrista diz que os homens foram saindo primeiro dos coletivos para ajudar a resgatar as mulheres, crianças e idosos. “Estavam todos muito nervosos e a correnteza estava muito forte. Não tinha como colocar uma criança sozinha na corda. A água ia levar, ela estava muito forte”, afirma.

Logo depois que saiu, Daniel disse que a água começou a chegar no parabrisa do ônibus e o resgate que estava difícil ficou ainda pior quando uma barreira deslizou no condomínio, represando a água e fazendo com que a traseira do ônibus começasse a flutuar.

“A gente chegou a amarrar uma corda no portão na tentativa de segurar o ônibus, mas a água estava tão forte que arrancou até o portão. Ainda caiu poste com fio de alta tensão e ficamos com muito medo de não conseguir mais fazer o resgate, que nessa hora já era por meio de uma escada trazida por um terceiro morador do condomínio que permitiu salvar um homem com um bebê e uma senhora com uma criança”, conta.

Depois disso, quando o ônibus começou a virar, Daniel disse que já não tinha mais o que fazer. “De repente só via as rodas dos ônibus para cima e o coletivo foi arrastado para o rio. Começamos a gritar, mas ninguém respondia. Só depois que soubemos que algumas pessoas conseguiram sair nadando. Era umas 21h quando um amigo começou a me chamar. Achei que tinha perdido ele”, lembra.

Sobre sobreviventes

Daniel estima uma média de 65 passageiros nos dois coletivos. Para ele, é possível que mais da metade não tenha conseguido se salvar. “Soubemos de poucas pessoas que sobreviveram”, lamenta.

Por meio de nota, o Sindicato das Empresas de Transportes Rodoviários (Setranspetro) disse que não é possível informar, de forma precisa, o que aconteceu com os passageiros, uma vez que os ônibus já estavam vazios quando foi possível acessar o local da catástrofe.

Ainda segundo o Setranspetro, há notícias sobre sobreviventes nos dois coletivos, entre eles os rodoviários.

“O Setranspetro e as empresas de ônibus estão desoladas com a tragédia em Petrópolis. O Setranspetro segue apurando as informações e lamenta profundamente a tragédia, manifestando seu profundo luto e solidariedade aos familiares e amigos das vítimas”, informa.

Daniel diz que a todo momento houve comunicação com a empresa e pedidos de socorro aos bombeiros, que chegaram no local por volta das 21h30. “Não tinha como chegar antes. Não tinha passagem. E o que a gente pôde fazer, a gente fez”, conclui.

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