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‘Não são números, são seres humanos’, diz a filha da segunda vítima da Covid-19 em Petrópolis

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‘Não são números, são seres humanos’, diz a filha da segunda vítima da Covid-19 em Petrópolis

José Cruz de Souza tinha 59 anos e era muito querido por todos os familiares e amigos.

Todos os dias Petrópolis atualiza o “Boletim do Coronavírus” para informar a população sobre os casos da Covid-19. Naquele dia 9 de abril de 2020, José Cruz de Souza havia se tornado mais um óbito nas estatísticas do município. Mas para a família e amigos dele, restaram a dor e a lembrança de uma pessoa muito querida por todos, que amava fazer churrascos aos finais de semana e um pai excepcional. Emocionada, é assim que Daniele Bender descreve o pai.

“Meu pai era mineiro, de uma família muito humilde, mas veio para Petrópolis com 18 anos, que foi onde nasceu a nossa família. Mesmo não podendo dar nenhum luxo para gente, meu pai era muito carinhoso e muito presente. Fazia de tudo pelo nosso bem-estar”, lembra a petropolitana.

Foto Arquivo Pessoal Daniele Bender

José Cruz de Souza tinha 59 anos, era um homem ativo e saudável. Trabalhou mais de 30 anos na GE Celma e era apaixonado pelo o que fazia. Apesar de aposentado há dois anos, ele continuou trabalhando. Em março deste ano ele tirou férias e foi viajar para Maceió (AL) com a esposa, mas nessa época, Daniele conta que ainda não se falava tanto em coronavírus no Brasil como hoje.

Na volta, as filhas do casal pediram para eles comprarem máscaras e se protegeram, mas eles não conseguiram encontrar para vender. “Quando começou todo esse caos, cancelamento de voos e fechamento de tudo, eles estavam voltando de viagem. Mas as informações ainda eram muito vagas. Se não a gente não teria deixado eles irem, porque meu pai sempre foi muito cuidadoso e preocupado com essas coisas”, ela conta.

Já em Petrópolis, Lenise de Souza, mãe de Daniele, começou a ter febre e dor de garganta, mas nada que preocupasse muito. Dois dias depois, o pai começou a ter uma febre alta que não abaixava. Preocupados com os noticiários e vendo as semelhanças dos sintomas, eles deram entrada na Unimed e fizeram o teste para a Covid-19. Segundo a filha do casal, demorou cerca de nove dias para sair o resultado positivo do exame e, durante esse tempo, não entraram com nenhum medicamento específico.

“A gente sabe que ainda não existe um remédio específico para a Covid-19, mas às vezes a cloroquina poderia ter ajudado. Só começaram a usá-la quando ele já estava na UTI, não surtindo nenhum efeito positivo naquele momento. Os dois tiveram pneumonia bilateral e a minha mãe ficou 12 dias internada, junto com o meu pai, até ela ter alta. Mas o meu pai só foi piorando, mesmo tomando todos os antibióticos. Depois começou a usar o respirador na UTI. Todos os dias eram muito difíceis, pois não davam notícias do estado de saúde dele. Tínhamos que ficar implorando e, ao mesmo tempo, não podíamos visitá-lo”, ela lembra.

A irmã de Daniele, de 33 anos, que foi pegar os pais no aeroporto, também testou positivo para Covid-19, mas os sintomas foram brandos e, portanto, foi ela quem pôde cuidar da mãe após sair do hospital e começar o tratamento em isolamento domiciliar.

Foto Arquivo Pessoal Daniele Bender

Sem corresponder aos antibióticos, os pulmões de José começaram a ficar rígidos, parando de funcionar. Ele precisou fazer hemodiálise, pela primeira vez na vida, e no terceiro dia do tratamento os sinais vitais foram caindo e ele veio a óbito no dia 9 de abril. A rapidez em que tudo aconteceu e o fato dele não pertencer ao grupo de risco da doença surpreendeu toda a família.

“Desde o início da internação deles [do pai e da mãe], a gente tinha muita esperança que fosse ficar tudo bem, pelo resultado positivo do uso da cloroquina em pacientes com coronavírus e porque meus pais não tinham doenças pré-existentes. Não esperávamos tudo isso de forma alguma. Não podemos nem nos despedir”, conta Daniele.

José iria fazer 60 anos no dia 3 de maio e a intenção da família era fazer uma grande festa para ele. Para Daniele Bender, falta as pessoas, em especial os petropolitanos, enxergarem esses casos com mais humanidade e respeito.

“Me dói muito ver que as pessoas, principalmente em Petrópolis, só estão olhando para elas e não pensam que, independente, se é petropolitano ou não, se veio de viagem ou não, não são números, são seres humanos. São famílias que estão perdendo seus entes queridos sem terem como se despedir. Me dói muito as pessoas ficarem ‘satisfeitas’ de haver apenas três óbitos em Petrópolis. É porque não é um familiar delas. São só três pessoas, mas são três vidas que se foram. São poucos casos, porque algumas poucas pessoas se conscientizaram e estão em casa, mas se as pessoas forem para as ruas, de três casos podem virar milhares. Não tem leito nem suporte médico para todo mundo, então o que eu gostaria é que as pessoas tivessem mais empatia umas pelas outras e se cuidassem”, finaliza Daniele.

Foto Arquivo Pessoal Daniele Bender

De acordo com a última atualização divulgada pela Vigilância Epidemiológica, a cidade tem 222 casos registrados. Destes, 104 já testaram negativo para coronavírus, 41 obtiveram resultado positivo, 77 permanecem aguardando os resultados dos exames, realizados pelos laboratórios do Estado e Laboratório de Corrêas, 38 permanecem internados e 3 pessoas vieram a óbito. Além disso, a Secretaria de Saúde de Petrópolis investiga mais 7 óbitos suspeitos da Covid-19.

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