Petrópolis ultrapassa marca de mil vítimas da Covid-19
Em alguns casos, a perda foi de mais de uma pessoa da família na cidade. A morte faz a saudade de quem fica gritar e deixa também o desafio de seguir em frente em meio à tristeza
Petrópolis chegou nesta quarta-feira (5) à confirmação de 1.007 mortes pela covid-19 desde o início da pandemia. Os óbitos são de pessoas de diferentes idades e classes sociais. Profissionais da saúde, políticos, empregadas domésticas, empresários, trabalhadores de diversas áreas.
Pais, mães, filhos, tios (as), amigos. Pessoas com uma história e que deixaram o vazio na vida de alguém. A morte faz a saudade de quem fica gritar e deixa também o desafio de seguir em frente em meio à tristeza.
Foto Reprodução Internet
Em alguns casos, a perda é de mais de uma pessoa da família. Esta é a situação da Natália Latsch, de 38 anos. Profissional da saúde em Petrópolis, ela trabalha na linha de frente da covid-19 e já se despediu de muitas pessoas. Mas a despedida mais doída aconteceu em abril. Ela perdeu mãe e pai em um intervalo de apenas quatro dias.
A mãe, Solange, tinha 63 anos, estava internada no Hospital Clínico de Corrêas e morreu no dia 17 de abril. Já o pai, Alcenir, tinha 65 anos, estava no Hospital Nossa Senhora Aparecida e faleceu no dia 21. Ambos tinham comorbidades e não tiveram a oportunidade de tomar nem a primeira dose da vacina.
Solange e Alcenir, pais da Natália – Foto Arquivo Pessoal
Poucos dias se passaram e Natália lida diariamente com a saudade e a dor de ver o filho Henrique, de 7 anos, sentindo falta dos avós.
“Essa doença é muito traiçoeira. As pessoas devem respeitar o uso de máscara, álcool em gel… Que não se aglomerem. As pessoas estão se aglomerando. Não estão respeitando essa doença que está matando muita gente”, diz Natália.
Variante é mais agressiva, diz médico
O mês de abril bateu recorde de mortes por covid-19 em Petrópolis: 250. A média foi de 8 mortes por dia. Ao todo foram 70 mortes a mais que em março deste ano, quando a Secretaria de Saúde do município confirmou 180 óbitos pela doença.
Foto Reprodução Painel da Covid-19
Segundo Luís Arnaldo Magdalena, infectologista e diretor médico do Hospital SMH Beneficência Portuguesa de Petrópolis, a variante da covid-19 de Manaus (P1) tem uma transmissibilidade maior e está mais agressiva.
Ele atribui a esta mutação do vírus o aumento no número de óbitos na cidade. “Quanto mais pessoas infectadas, mais pessoas doentes e maior será o número de óbitos”, explica.
Para o especialista, a vacinação é o caminho que deve ser seguido para diminuir a letalidade. “Vemos que a imunização reduziu e tem reduzido o número de óbitos e internações nas pessoas já vacinadas”.
Além disso, ele ressalta que os cuidados básicos devem ser mantidos, como uso de máscaras, higienização das mãos e evitar aglomerações.
Análise dos dados
Coordenador do Observatório Covid-19 da Fiocruz, o pesquisador Carlos Machado diz que esse aumento da letalidade em Petrópolis pode indicar que está havendo uma situação de “desassistência a pacientes com quadros graves de covid-19”.
Segundo o pesquisador, é nesses casos que a doença evolui rapidamente e em maior número para óbitos. “Esse indicador é calculado pela proporção de casos que resultaram em óbitos por covid-19. Os valores elevados de letalidade revelam falhas no sistema de atenção e vigilância em saúde, como a insuficiência de testes de diagnóstico, identificação de grupos vulneráveis e encaminhamento de doentes graves”.
Além disso, ele aponta uma avaliação que consta no boletim da Fiocruz das semanas 10 e 11 que é a “incapacidade de diagnosticar correta e oportunamente os casos graves que, somado à sobrecarga dos hospitais pode aumentar a letalidade da doença, dentro e fora de hospitais”.
Para o pesquisador, medidas efetivas no combate à covid-19 se refletem nas quedas dos números de internações e óbitos, como ocorreu em Araraquara, interior de São Paulo, que chegou a registrar colapso no início do ano.
Os números só baixaram após um lockdown rigoroso. Atualmente, 50% das vagas de internação no município são de pessoas de fora do município.
“O que vemos em Petrópolis não é uma situação para relaxar. Se compararmos a taxa de letalidade com a capital, Teresópolis e Nova Friburgo, Petrópolis chega a ultrapassar a cidade do Rio de Janeiro”, avalia.