Educação na pandemia em Petrópolis: a rotina do professor que viu a sala de aula migrar para a sala de casa
Professora das redes estadual e municipal, Cristiane Bairral Manzini conta desafios e aprendizados impostos pelo ensino 100% remoto desde que as escolas foram fechadas
Foi em março de 2020 que o novo coronavírus chegou a Petrópolis fazendo com que a sociedade tivesse que se adaptar repentinamente às mudanças impostas por um vírus invisível e letal. Todos os setores foram afetados. Um deles é a Educação que se viu em uma necessidade de se adaptar praticamente do dia para a noite ao ensino remoto.
Escolas fechadas. As salas de aula viraram as salas de casa. Mudanças impostas aos alunos, mas também aos professores. Um ano após e a Sou Petrópolis traz a rotina de quem teve que se adequar aos novos modelos de trabalho impostos pelo ensino remoto.
Cristiane Bairral Manzini é professora há 28 anos. Ela dá aulas para alunos das redes estadual – ensino médio – e municipal – ensino fundamental. E recorda bem de como foi que começaram as mudanças para a Educação em março do ano passado. “Saí da minha aula da manhã na sexta-feira, dia 13 de março, desejando um bom fim de semana e um “até semana que vem”. Naquele mesmo dia recebi a notícia de que não haveria semana que vem”.
Foto Arquivo Pessoal Cristiane Bairral Manzini
Em um primeiro momento, Cristiane acreditou que seriam 15 dias, antecipando o recesso de julho, e achando que no início de abril as aulas seriam retomadas. “Foram decretos sobre decretos e pela preparação que o Estado fazia das plataformas de aula online sabíamos que ia demorar. Foi aí que já na segunda semana de abril iniciamos o trabalho remoto. Todos tentando se adaptar, uns com mais dificuldades ou mais resistência do que outros, mas todos buscando preencher a lacuna deixada pelas aulas presenciais”.
Os desafios
Cristiane conta que passou por várias fases durante este um ano, que vão desde a queixa dos alunos do Ensino Médio sobre as dificuldades de estudar em casa, falta de tranquilidade no ambiente, questões tecnológicas, até o abandono dos estudos por parte de outros.
“Não posso dizer que o abandono foi por causa da falta de condições de acesso. Acredito muito mais em um despreparo das pessoas para serem autônomas do que qualquer outra coisa. Aliás, o isolamento nos mostrou claramente quem está preparado para encarar os novos tempos e quem ainda não está”, disse.
Segundo a professora, os estudantes tiveram momentos de negação, indignação, recusa em cooperar, até a resignação. Por fim, ela diz, “a maioria compreendeu que os resultados dependiam apenas deles e fizeram o que precisavam fazer”.
Já com os alunos do município, inicialmente o contato se dava por meio de uma plataforma que, de acordo com Cristiane, não necessariamente atendia à demanda de uma aula presencial, nem pedagogicamente, nem socialmente.
“Apenas a partir de setembro começamos a ter um contato mais frequente, através de redes de conversa e as mesmas atividades eram disponibilizadas pela plataforma. Conseguimos, aos trancos e barrancos, chegar ao fim de 2020 tentando não contabilizar tanto os prejuízos”.
Para ela, o próprio sistema e a idade das crianças tornam a dinâmica online ainda mais difícil, sem contar que são estudantes com menos acesso à tecnologia. “Para os alunos que não tinham acesso à internet, as escolas entregavam quinzenalmente as mesmas atividades, desta vez impressas, para que fizessem em casa. Aqueles que se dispuseram a ter contato com o conteúdo escolar, tiveram. Pode não ser o ideal, mas nada nesse momento está funcionando de maneira ideal. Por que com a escola seria diferente?”, indaga.
Aprendizados
Apesar dos desafios, Cristiane acha que o novo modelo de aprendizado não impõe perdas pedagógicas. “Não acho que no mundo que vivemos, cercados de informações por todos os lados, esse tempo represente uma grande perda de conteúdo. O que eu acho é que é uma perda de tempo tentarmos reproduzir de forma remota a escola que temos presencialmente”, ressalta.
A pandemia e o novo método de ensino também trouxeram um olhar para a necessidade de desenvolver a autonomia e o senso de autorresponsabilidade nos alunos, segundo a professora. “Eles não são preparados para isso, o que ficou muito claro durante o ensino remoto”.
Foto Arquivo Pessoal Cristiane Bairral Manzini
Além disso, ela disse que continua lidando com a falta de interesse por parte dos estudantes. O que nas salas de aula presenciais aconteciam com pedido de ir beber uma água, no ensino remoto se dá com o desligamento da câmera.
A escola dentro de casa
Segundo Cristiane, com o ensino presencial, o tempo era mais estabelecido e agora, com a sala de aula dentro de casa, isso não existe mais. Isso já é motivo suficiente para se sentir exausta nos três primeiros meses de aula de 2021.
“Tenho feito um exercício diário para não me submeter ao trabalho o tempo todo. Determino o meu limite, mas fico sempre com a sensação de estar em dívida com as minhas tarefas. Quando eu estava na escola eu estava trabalhando, mas a partir do momento em que eu saía, eu tinha minha vida normal. Agora não há vida normal. A escola está dentro da minha casa, todos os dias, o dia inteiro”.
Em isolamento há um ano, Cristiane explica que as atividades que faz em casa, como a psicoterapia e o exercício físico têm sido aliados para manter a saúde mental e emocional. “Desejo voltar o mais rápido possível à escola, mas não vejo como isso acontecer sem, minimamente, a vacinação dos envolvidos”, conclui.
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