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Dia Internacional Contra a Discriminação Racial: casos de racismo continuam impunes em Petrópolis

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Dia Internacional Contra a Discriminação Racial: casos de racismo continuam impunes em Petrópolis

Cidade é a terceira do Estado com mais casos de injúria racial

Em 12 anos, o número de pessoas que se reconhecem como pretas ou pardas em Petrópolis aumentou consideravelmente. Na mesma proporção, a cidade é tida como a terceira com mais casos de discriminação racial

Foto: @fuipra_rua

“Numa sociedade racista, não basta não ser racista. É necessário ser antirracista.” A frase emblemática da filósofa Angela Davis nos leva à reflexão, neste 21 de março –  Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, sobre a importância de falar sobre racismo, como forma de mudança.

Aumento da população negra em Petrópolis

Dados do Censo 2022, divulgados recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos 278.881 habitantes da cidade, 77.843 (27,9%) se autoidentificam como pardos e 36.835 (13,2%) como pretos. No comparativo de  2010, 295.774 pessoas viviam no município. Destas, 74.919 se reconheciam como pardas (25,33%) e 32.565 como pretas (11,01%). Em 2022, a parcela da população que se identifica como parda e preta aumentou, respectivamente, em 3,9% e 13,1%.

Petrópolis 3° cidade com mais casos de racismo

O último Dossiê Crimes Raciais, do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro (ISP-RJ), aponta Petrópolis como a terceira cidade do Estado com mais casos de injúria racial. Com 300 mil habitantes, na época, foram registrados nos anos de 2018 e 2019, respectivamente, 22 e 29 crimes. Em 2020 houve uma queda no número de ocorrências – 12. Porém, já em 2022, o patamar subiu para 112 casos de injúria racial.

Como é para uma pessoa negra viver em Petrópolis?

São falas, olhares, gestos e recusas que levam ao apagamento da população negra em diversas áreas e setores em Petrópolis. Questionada sobre como é viver na cidade e como a cor da pele ainda influência na sociedade, a jornalista e petropolitana, Denise Pereira, diz que:

Foto: arquivo pessoal

“É algo bem difícil porque é uma cidade que não valoriza nossa cultura e nossa história nos grandes eventos, nas escolas, nos espaços culturais. Percebemos isso quando entendemos que os investimentos para o que é voltado para nós negros são bem menores do que para outros eventos do calendário na cidade; quando num museu não é contada a nossa história do negro ou quando é contada trata somente como sofredor e escravizado; quando enfrentamos o racismo ambiental no que se refere aos impactos ambientais sofridos nas comunidades em áreas de risco, formadas predominantemente por negros e pobres; quando na educação não é feito investimento forte para a formação de todos os nossos professores e educadores à respeito da  história da cultura africana e afro-brasileira em diferentes disciplinas para seja possível oferecer uma educação antirracista levando esse conhecimento tão vasto para nossos jovens o ano inteiro e não apenas no 21 de março, ou no 25 de julho, ou  20 de novembro. Não somos incentivados a valorizar nossas histórias africanas e afro-brasileira como potentes, nem nossa religião, nossa beleza, nossos inventores, nossos reinados, nossas festas. E essa valorização, quando acontece, é dentro de casa, nos terreiros de religiões de matriz africana ou em projetos de grupos de ativistas negros, de profissionais e educadores geralmente também negros que lutam diariamente por uma Petrópolis antirracista. Espero que nossas lideranças, principalmente políticas, mas também toda a sociedade petropolitana, inclusive e principalmente branca, reflitam e coloquem em prática a construção de uma Petrópolis antirracista, que possa ser boa para negros e pobres”.

Últimos registros de racismo em Petrópolis

“Você é uma preta de cabelo duro e você é feia”. As lamentáveis palavras foram ouvidas pela petropolitana, Joice de Souza Ferreira, de 21 anos, enquanto ela estava exercendo o seu direito de trabalhar, como cobradora de um ônibus na cidade. As ofensas foram feitas por parte de uma mulher branca, que ainda jogou casca de banana na vítima.  Na época, o caso chegou a ser registrado na delegacia e a criminosa foi presa em flagrante, sendo liberada logo após.

Foto: reprodução Inter TV

Fernanda Rocha estava aguardando um café na fila da lanchonete do supermercado quando outra cliente não negra, insatisfeita com a demora no atendimento, começou a reclamar e ofender uma atendente. Fernanda, então, pediu que a cliente tivesse paciência porque ela já seria atendida, mas foi ofendida e agredida fisicamente. 

Foto: reprodução G1 – Região Serrana

A agressora disse que não estava falando com Fernanda, que ela “tinha que ser preta” e que era uma “macaca”. Enquanto proferia as ofensas racistas, a mulher ainda passou a mão no braço, em referência à cor da pele da vítima. A acusada confessou e assumiu tê-la chamado de “macaca” e ainda debochou que nada aconteceria com ela. A vítima então registrou o caso na delegacia.

“Fez dois anos e até agora só houve uma audiência para ouvir as partes. Infelizmente, a justiça é muito lenta. E ainda estou sendo processada por ela, que alega que eu a agredi, mas somente me defendi quando ela partiu para cima de mim”, diz Fernanda. 

Racismo é crime

Previsto na Lei n. 7.716/1989, racismo é crime, inafiançável e não prescreve. Mas para os dois casos, a lei não foi válida, pois as acusadas continuam impunes.

Assistência

Petrópolis conta com o Núcleo de Atendimento Antirracista, que funciona de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h, na sede da Coordenadoria da Promoção da Igualdade Racial (Copir). As denúncias são feitas pelo telefone 0800-024-1000. O número é disponibilizado direto para denúncias e oferece assistência jurídica, psicológica e assistencial às vítimas de racismo na cidade.

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