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Bullying: as escolas de Petrópolis estão preparadas para lidar com o assunto?

Educação

Bullying: as escolas de Petrópolis estão preparadas para lidar com o assunto?

Especialistas afirmam ser necessário mais empatia por parte da família e profissionais da educação, além de políticas antibullying que permitam a identificação e solução dos casos

Em grandes casos de violência escolar, como os recentes massacres em Blumenau e São Paulo, é comum evidenciar o bullying como motivador dos crimes, mesmo que ele não seja o único e nem o principal. Com as ameaças de ataques em Petrópolis em abril, a Sou conversou com especialistas no assunto para entender se as escolas da cidade estão realmente preparadas para lidar com o assunto.

Foto Divulgação PMP

O que é o bullying?

Primeiro, é preciso entender o que é o bullying e como ele se manifesta. De acordo com a psicóloga e psicanalista petropolitana Flávia Gonzalez esse fenômeno é caracterizado pelo comportamento agressivo, ativa ou passivamente, e repetitivo.

“Nesse contexto, há sempre uma criança no papel de dominador e a outra, na de dominada. Sendo assim, temos uma estrutura desigual e vertical das relações, que implica no domínio de um lado sobre o outro. É comum que o autor precise se sentir mais popular, poderoso e obter uma afirmação de sua autoimagem através da humilhação, ou exclusão, do outro”, comenta.

Impactos do bullying

A profissional alerta que o bullying pode impactar a infância, adolescência e vida adulta de quem sofre com ele.

“Os impactos do bullying na saúde mental podem ser severos e preocupantes. Temos indicativos de prevalência de  transtornos psicológicos como ansiedade, estresse, depressão, transtorno de pânico e transtorno do estresse pós-traumático. Esses quadros podem surgir na infância e acompanhar o sujeito até a sua vida adulta”.

Bullying X massacres

Apesar de ser comum a propagação da ideia de que o bullying é o principal, ou único, motivador dos massacres nas escolas, Flávia afirma que estudos mais recentes apontam um problema multifatorial.

“Ou seja, o aumento da radicalização crescente nas redes sociais, a propaganda armamentista, a ampliação dos discursos de ódio e o fortalecimento de seus grupos têm surgido nas últimas pesquisas como fatores que estão presentes na base dos massacres”, aponta.

A especialista afirma que “é preciso, portanto, entender que a situação está mais complexa, pois há algo no campo micro, como problemas familiares e escolares, e algo do campo macro, como esses problemas sociais estruturais. Sendo o jovem, o público alvo mais suscetível ao encontro dessas forças”.

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Bullying nas escolas

Apesar da escola não ser o único ambiente em que o bullying ocorre, é o principal deles. Isso porque, segundo Flávia, é lá onde acontecem as dinâmicas de formação de grupo e ampliação da autonomia.

“É fundamental que a escola trace um modelo antibullying, que haja um regimento interno com regras claras para profissionais, familiares e alunos. Assim, diante de algum indicativo inicial, ficará mais fácil e rápido agir no combate”.

Para isso, é necessária a elaboração de uma cartilha para identificação dos primeiros comportamentos e sinais de alerta. “Por fim, é recomendada a implementação de projetos que promovam a empatia, a troca e a participação familiar ativa no ambiente escolar”, acrescenta.

Ações em Petrópolis

De acordo com a Prefeitura, o município vem trabalhando em projetos que incentivam o combate ao bullying.

Em 2022, foi lançada em Petrópolis a campanha: “Um por todos e todos contra o Bullying”, onde por meio da arte de bonecos animados com a “Maricota”, criação do artista Léo Hang em parceria com a equipe da Psicologia Escolar, leva às escolas um momento de arte e reflexão. Mais de 9.200 alunos e alunas já passaram pelo projeto até agora.

Cena do musical Maricota. Foto: Divulgação PMP

Outro trabalho dedicado aos jovens estudantes da rede municipal é o “Fala que eu te escuto”. Projeto que proporciona e promove momentos da escuta e reflexão com o objetivo de acolhimento, autoconhecimento e projeto de vida.

“Sem dúvidas o bullying precisa ser combatido através de ações amplas dentro das escolas com o objetivo de cultivar a paz. E essas ações vem sendo realizadas e ampliadas nas escolas, com o objetivo de promover cada dia mais aos nossos alunos e alunas, ambientes emocionalmente mais saudáveis, garantindo o bem-estar, a boa convivência e o respeito à diversidade na escola”, disse Vanessa Senna, diretora do departamento de Inclusão e Psicologia Escolar da Secretaria de Educação.

Mas será que isso é suficiente?

A neuropsicopedagoga Liliam Bordon já deu aulas em escolas de Petrópolis e relata ter ouvido situações preocupantes por sofrer bullying.

Para ela, o problema é muito maior do que projetos de conscientização para os alunos, já que, em trabalhos realizados pela profissional dentro de sala de aula, as crianças entendem a problemática por trás dessas violências.

“Uma aluna de 7 anos me disse uma vez que tinha entendido que o coração do amigo é igual um papel, quando você amassa ele, não adianta desamassar pois ele continuará marcado. Então as crianças internalizam isso. Mas é preciso um trabalho contínuo”, ressalta.

Foto: Freepik

Papel da família

Além disso, muitas crianças não têm abertura para conversar sobre o assunto com a família. “Se essa criança ou adolescente não tiver acolhimento dentro de casa, onde ele vai ter? É comum ela ser sempre invalidada, que ela só estuda, que não tem contas pra pagar ou problemas de verdade. Então é necessário não só falar em sala de aula, mas, principalmente, conscientizar as famílias”.

Papel do professor

Outro grande problema já presenciado pela pedagoga em Petrópolis são casos de bullying partindo dos professores. “Quando isso acontece, os alunos passam a praticar também. Existem alunos que não gostam nem de tirar dúvidas, porque os colegas ou professores riem e se sentem melhor que os outros”.

Para Liliam, o papel do professor vai além de apenas educar, mas incentivar e proteger os alunos. “Se a pessoa que estiver à frente de uma sala de aula não tiver isso internalizado, não adianta. Enquanto educadores, nós salvamos vidas dentro das salas de aulas. Se eu como professora não incentivá-los e protegê-los, quem vai? Muitas vezes ele já não tem isso em casa. É preciso sempre ter alguém que pare o bullying”, finaliza.

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