Festival Interativo de Música e Arquitetura celebra os 180 anos de Petrópolis em evento gratuito
Comemoração acontece neste sábado, no Museu Imperial, a partir de 17h
Em sua segunda edição, o FIMA – Festival Interativo de Música e Arquitetura convida, desta vez, o público petropolitano a viver uma experiência imersiva que une música e arquitetura, em um importante monumento arquitetônico da cidade.
Foto: Arquivos Sou Petrópolis
Após sua estreia no Palácio Petit Trianon, na Academia Brasileira de Letras, em dezembro; sua passagem, em janeiro, por Belém (Palácio Lauro Sodré, Museu do Estado do Pará – MEP); e a recente homenagem ao aniversário da Rio de Janeiro, em concerto no Palácio do Catete (Museu da República) no último dia 5 de março – o projeto, desta vez, irá celebrar no sábado, dia 18, os 180 anos de Petrópolis e os 80 anos do Museu Imperial com a apresentação do Duo Santoro no Palácio Imperial. Formado pelos irmãos violoncelistas Paulo e Ricardo Santoro, o duo se apresentará acompanhado dos comentários do diretor do Museu Imperial, o historiador petropolitano Maurício Vicente Ferreira.
Foto: Guarim de Lorena
Outros estados
Além de Petrópolis, Rio de Janeiro e Belém, o FIMA estará presente também nos estados do Maranhão e Minas Gerais com historiadores da arte e arquitetos abrindo caminhos para que músicos brasileiros consagrados possam apresentar obras musicais que dialoguem com a arquitetura, a arte decorativa e a história destes icônicos edifícios, que representam alguns dos mais importantes patrimônios materiais do nosso país. Com patrocínio do Instituto Cultural Vale por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, todas as apresentações do FIMA têm entrada gratuita.
Programa e sua história
A viagem musical começa no início do século XIX, mais precisamente em 1822, ano em que Dom Pedro I viaja para Vila Rica (atual Ouro Preto, Minas Gerais) para buscar apoio ao movimento da Independência do Brasil. É nesse momento que o Imperador se apaixona pela Mata Atlântica e pelo clima ameno da região serrana, comprando poucos anos depois, em 1830, a fazenda do Córrego Seco com a ideia de erguer nesta terra um palácio.
Desta forma, o programa se inicia destacando dois compositores do tempo do primeiro império, que também foram professores de música de Dom Pedro I: Marcos Portugal, famoso compositor português conhecido em toda a Europa, e o Padre mestiço José Maurício Nunes Garcia, considerado o mais importante compositor brasileiro do fim do século XVIII e início do XIX. O músico surpreendeu D. João VI com seu talento, a ponto de ter sido nomeado Mestre da Real Capela, e passou a dar aulas de música para o infante até a chegada de Marcos Portugal à corte em 1811.
Do compositor português, o duo irá interpretar Três Modinhas da obra Marília de Dirceu, e do Padre José Maurício, o Método de Pianoforte 2º parte: lição nº 5. Ainda neste período, a música Lá no Largo da Sé Velha do compositor Cândido Inácio da Silva, autor de modinhas de grande popularidade no Primeiro Império e que também foi aluno do Padre José Maurício Nunes Garcia.
Devido à crise sucessória em Portugal, que o leva a regressar ao país natal, a fazenda passa para seu filho Dom Pedro II. Com decreto assinado em 16 de março de 1843, o novo imperador cria Petrópolis e dá início à construção de seu palácio. Sob o comando do engenheiro e superintendente da Fazenda Imperial, Major Julius Friedrich Koeler, uma grande leva de imigrantes europeus, principalmente alemães, é encarregada de levantar a cidade e o palácio além de colonizar a região.
Construído com recursos oriundos da dotação pessoal do imperador, o prédio, após o falecimento de Koeler, foi modificado por Cristóforo Bonini, que acrescentou o pórtico de granito ao corpo central. Para concluir a obra, foram contratados importantes arquitetos ligados à Academia Imperial de Belas Artes: Joaquim Cândido Guilhobel e José Maria Jacinto Rebelo.
Foi nesta mesma academia que poucos anos depois seria lido um ofício do diretor do Conservatório de Música do Rio de Janeiro comunicando ter sido escolhido o aluno Antônio Carlos Gomes para ir à Europa, às expensas da Empresa de Ópera Lírica Nacional, conforme contrato com o governo Imperial. D. Pedro II era um entusiasta deste compositor que, ainda jovem, havia sido agraciado pelo imperador brasileiro com a Imperial Ordem da Rosa. Carlos Gomes se tornaria o mais importante compositor de ópera brasileiro, destacando-se pelo seu estilo romântico, com o qual obteve carreira de destaque em toda a Europa. Para lembrar o momento das conclusões da obra deste magnífico palácio, o programa apresenta Al Chiaro di Luna, de Antonio Carlos Gomes.
Em 15 de novembro de 1889, com a proclamação da República, a família imperial é banida do Brasil e se exila na Europa. Já o palácio é alugado pela princesa Isabel para o Educandário Notre Dame de Sion de 1871 até 1909. É dessa época o primeiro tango brasileiro de Ernesto Nazareth, de 1893, intitulado Brejeiro, considerado uma das músicas mais conhecidas da época. Aliás, o próprio compositor, perguntado em entrevista qual era a sua composição predileta, respondeu: “Ah!… Isso é que não pode ter resposta definitiva, assim à queima-roupa… Gosto de algumas… Lembra-se do Brejeiro? Todo o Brasil canta isso”, concluiu ele num sorriso.
Em seguida, entre 1909 e 1939, o Colégio São Vicente de Paulo funcionou no prédio, quando, infelizmente, grande parte do mobiliário e demais objetos foram vendidos ou desapropriados. Porém, nesta escola estudava um apaixonado por história, Alcindo de Azevedo Sodré, e graças a ele, que desde criança sonhava com a transformação do seu colégio em um museu histórico, que o presidente Getúlio Vargas criou, em 29 de março de 1940, pelo Decreto-Lei n° 2.096, o Museu Imperial. É desta época que fazem parte do programa duas obras da pioneira compositora, instrumentista e maestrina brasileira Chiquinha Gonzaga: Lua branca e Gaúcho.
A partir de então, uma equipe técnica liderada pelo próprio Sodré, que se tornaria o primeiro diretor do Museu, tratou de estudar a história da edificação e a localizar peças pertencentes à família imperial em diferentes palácios, para ilustrar o século XIX e o dia a dia de membros da dinastia dos Braganças. Como resultado, o Museu Imperial foi inaugurado em 16 de março de 1943 com um significativo acervo de peças relativas ao período imperial brasileiro.
Duetto
Neste resgate ao passado, segue-se o Duetto em Ré maior, de 1824, de Gioacchino Rossini, compositor condecorado por Dom Pedro I como Cavaleiro da Ordem da Cruz do Sul e que conheceu pessoalmente o imperador compositor que muito o admirava. O primeiro movimento é alternadamente espirituoso e rico, revelando o virtuosismo dos instrumentistas.
Já o segundo, é comovente e o terceiro, triunfante. Finalmente, o concerto se encerra com uma obra escolhida pelo próprio Duo Santoro: Três Duettos op. 53, de Reinhold Glière. Começa-se com o movimento Commodo, lembrando Dom Pedro II, que banido do Brasil, nunca mais pôde voltar ao seu palácio. A música apresenta um tema lírico e elegante que gradualmente aumenta em intensidade e culmina em uma melodia sublime que apresenta toda a amplitude do violoncelo.
Em seguida, Con moto, onde os violoncelos se entrelaçam criando uma conversa musical envolvente assim como a história presente neste museu. O último movimento Vivace é um tour de force de virtuosismo técnico, enérgico e rítmico, com movimentos animados e saltitantes que exploram a sonoridade dos instrumentos, mostrando que este é um prédio vivo, uma casa visitada anualmente por mais de 300 mil pessoas e onde hoje reside parte importante de nossas memórias.
Programação:
DUO SANTORO – Paulo e Ricardo Santoro, violoncelos
- MARCOS PORTUGAL (1762-1830)
Três Modinhas da obra Marília de Dirceu (6’)
Os mares, minha bela, não se movem
Já, já me vai, Marília, branquejando
Eu vejo, ó minha bela, aquele númen
- JOSÉ MAURÍCIO NUNES GARCIA (1767-1830)
Método de Pianoforte
2º parte: lição nº 5 (2’)
- CÂNDIDO INÁCIO DA SILVA (1800-1838)
Lá no largo da sé velha (2’)
- ANTONIO CARLOS GOMES (1836-1896)
Al Chiaro di luna (3’)
- ERNESTO NAZARETH (1863-1934)
Brejeiro (3’)
- CHIQUINHA GONZAGA (1847-1935)
Lua Branca (2′)
Gaúcho (2′)
- GIOACHINO ROSSINI (1792-1868)
Duetto em Ré maior (14’)
Allegro
Andante molto
Allegro
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