“Muito do que eu fiz, só acreditei depois de ver gravado”, diz cabeleireiro sobre resgates na tragédia
Em fevereiro passado, viralizaram imagens de Fabricio Guerra em meio à correnteza para salvar motoristas ilhados no Centro
Entre as tantas imagens que marcaram a tragédia de 2022 em Petrópolis está o emocionante registro do socorro prestado pelo petropolitano Fabrício Guerra a motoristas que estavam ilhados no Centro. Sem pensar duas vezes na própria segurança, ele se lançou à correnteza para garantir o resgate de quem havia sido pego de surpresa pela enchente. Olhando para trás, ele explica que “parecia ter entrado num estado de transe, de modo automático”.
Fotos: Reprodução/Instagram @anacletoangelo
Sem sequer imaginar que imagens daquele momento seriam registradas por pessoas que o testemunharam, nos dias que sucederam a tragédia Fabrício foi surpreendido pela repercussão de seu gesto solidário que, por sinal, não se restringiu somente aos resgates no Centro. De volta para casa, no Morin, ele descobriu que o imóvel havia sido destruído por uma barreira e, ainda assim, priorizou o apoio às famílias mais atingidas da região.
Dividindo seus dias entre a entrega de mantimentos aos locais cujo acesso era limitado a motocicletas e a limpeza de sua própria casa, Fabrício viveu impulsionado pela força de vontade em ajudar. “Depois do vídeo que viralizou, muita gente me mandou mensagem. As pessoas começaram a me chamar de herói. Coisa que eu não sinto que eu sou. Só fiz o que quem se considera ser humano deveria fazer: ajudar o próximo”, descreve.
Entrevistado pela equipe do Fantástico e contemplado por uma vaquinha iniciada pelo projeto Razões para Acreditar, o petropolitano conta que foi ajudado por muitos. Somadas as contribuições financeiras e aquelas dadas a partir de materiais de construção, foram cerca de R$ 30 mil arrecadados – próximo da metade do valor utilizado para erguer um muro de contenção em seu terreno. Segundo ele, ainda faltam mais três, incluindo os muros laterais.
“Só nesse primeiro muro de contenção eu gastei R$ 68 mil com a mão de obra e pagando caminhão para levar areia. E isso porque eu ralei junto praticamente todos os dias. Trabalhava no salão de dia e à noite ficava na obra”. Ainda em processo de reconstrução da casa, Fabrício, que dos 33 anos de idade, há mais de 20 deles trabalha como cabeleireiro, tem direcionado suas energias ao trabalho como forma de cura e superação.
Foto: Reprodução/Fantástico
“Mesmo com tudo o que aconteceu, tenho voltado meu esforço para a profissão e me autoimposto isso de me tornar melhor. As coisas ainda não tão normais. Fiquei com alguns traumas bem complicados porque são coisas que mexem bastante com a gente”. Até hoje sem saber como explicar o socorro prestado em meio à correnteza, Fabrício diz que só foi acreditar ou descobrir muito do que havia feito graças às imagens captadas em fotos e vídeos.
Exemplo de resiliência e empatia, Fabrício é um dos tantos petropolitanos que souberam colocar a dor do outro acima da sua. Aqueles que desejarem o ajudar nas obras de casa podem o fazer pelo PIX de CPF 134.161.247-31.