Descarte indevido do lixo agrava situação das enchentes em Petrópolis
Especialista explica que o lixo obstrui as drenagens fluviais da cidade e propicia a retenção de água nas vias, dificultando o escoamento e provocando enchentes
O descarte indevido de lixo nas ruas e rios de Petrópolis é motivo de preocupação para especialistas. Mesmo antes da tragédia do dia 15 de fevereiro, o acúmulo desses resíduos já era visível em diversos pontos da cidade.
“O acúmulo de lixo favorece a obstrução das drenagens fluviais da cidade e propicia a retenção de água nessas vias, dificultando o escoamento das águas e provocando enchentes. Sobretudo em situações em que a concentração da chuva sobre uma certa área por determinado tempo, for muito acima do esperado para a época”, explica Luciana Silva da Costa, professora e coordenadora do curso de Ciência Biológicas da Universidade Estácio Petrópolis.
Foto: Reprodução Instagram @maridcrocha
Para Luciana, que também é especialista em Ecologia de Ecossistemas e de Paisagem, o lixo depositado nos rios e ruas ao longo do tempo foi sim um fator que contribuiu para que tudo acontecesse.
Ela lista ainda outros pontos fundamentais que corroboraram para a tragédia. Veja abaixo:
- a baixa previsibilidade de eventos extremos de chuva é um fator de extrema importância, sobretudo em áreas de relevo acidentado, que são mais suscetíveis à desmoronamentos e perda de solo;
- a crescente expansão urbana e estabelecimento de edificações, muitas vezes precárias, sobre encostas e margens de rios, colocando as vidas humanas e não humanas em risco;
- a transformação de áreas vegetadas e drenadas com córregos e rios em áreas urbanas, ocupadas por edificações;
- Necessidade de um planejamento urbano que observe especificidades socioambientais, geográficas e econômicas da região ou do município.
Foto: Reprodução Instagram @maridcrocha
Solo saturado
Luciana explica que sob condições de chuvas intensas, elevada umidade e nebulosidade, a retenção de água no solo o torna saturado, pois não tem para onde escoar toda essa água.
“Agora, imagine um solo saturado em área de encosta? É muito provável que, por gravidade, ocorra movimentos de massa, ou seja, desmoronamentos. Obviamente, é preciso levar em conta a profundidade do solo, sua composição e sua idade, bem com as características das moradias. Uma das tarefas importantes é que a população tenha consciência de que existe relação entre esses fatores e que aquilo que achamos que é local e sem importância, na verdade pode ter implicações desastrosas”, afirma.
Conscientização
Para Luciana, a palavra de ordem no momento é conscientização. No sentido de que ter consciência desses fenômenos e de como eles agem, ajuda a entender o que é preciso mudar urgentemente e isso inclui a forma de usar e cuidar dos recursos naturais, do solo, do ar, das águas e da biodiversidade.
“De alguma forma, o impacto que causamos no ambiente em que vivemos reflete diretamente ou indiretamente nas nossas vidas, como se vê nos desastres ambientais. Observamos, por exemplo, que existe uma parcela da sociedade que acaba sendo mais afetada que as demais, que geralmente são as mais desprivilegiadas socioeconomicamente”, diz.
A especialista reforça ainda que Petrópolis está situada em uma Área de Proteção Ambiental, uma categoria de Unidade de Conservação de Uso Sustentável, o que precisaria ser observado com mais cuidado.
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