Heróis anônimos, motoboys e motociclistas têm trabalho em Petrópolis reconhecido na cidade e fora dela
Não há percurso, distância, horário ou condição de estrada que os impeça de propagar o bem
Nos veículos mal há espaço para o condutor se equilibrar, mas como o cenário é de ajuda ao próximo, eles garantem que há sempre mais lugar para fazer o bem. Normalmente alvos de críticas, nos dias que se seguiram após a tragédia os motoboys têm sido descritos como alguns dos heróis anônimos no fornecimento de ajuda às vítimas e desabrigados pelo temporal. Vindos da cidade ou de fora dela, eles têm unido esforços para fazer a diferença.
Foto: Divulgação/Tiozão
Da janela de suas casas, nas ruas, ou através da internet, os petropolitanos têm aplaudido o trabalho feito com tanta garra e determinação pelos motociclistas. Por dias seguidos tidos como os únicos capazes de acessar áreas remotas em que nem mesmo o socorro havia chegado, a classe tem dado um verdadeiro show de empatia e respeito ao próximo. Afinal, não há percurso, distância, horário ou condição de estrada que os impeça de propagar o bem.
Foto: Reprodução/Twitter @omaisfaladoo
Cabeleireira, a petropolitana Beatriz Cortacio acompanhou o marido Leandro, que é motoboy, nas corridas voluntárias nos dias após a tragédia. Nas ruas, ela se deparou com a organização e a união dos profissionais que, juntos, trilham caminhos rumo à esperança por dias melhores. “São muitos deles e, no dia a dia, encontramos muita gente de fora, Miguel Pereira, Três Rios. A classe tem sido excepcional e feito muita diferença”.
Dias a fio numa rotina em que logo de manhã já se saía de casa sem hora para retornar, Beatriz testemunhou a gratidão dos moradores e o reconhecimento ao trabalho feito tanto por motoboys, quanto por motociclistas que tiraram suas motos da garagem de casa para ajudar. Mergulhando “de cabeça” na missão, a petropolitana auxiliou na arrecadação de verba para abastecer os veículos. Ao todo, foram 90 motos ajudadas pela ação.
Foto: Divulgação/Beatriz Cortacio
“Eu e meu esposo arrecadamos R$ 1,6 mil e abastecemos 90 motos. Nossa meta inicial era ajudar 70. Igrejas Evangélicas também se prontificaram a abastecer e, em um determinado dia, um posto abasteceu pra gente de forma gratuita. Foi assim, um ajudando o outro”. Proveitoso, o trabalho, para Beatriz, tem evidenciado a diferença feita pelos motociclistas, normalmente desvalorizados, na vida de famílias desamparadas em função das chuvas.
Foto: Divulgação/Beatriz Cortacio
E embora ela e o marido tenham voltado a trabalhar esta semana, ela conta que, entre um intervalo e o outro, o companheiro continua oferecendo ajuda a quem precisa. “Ele continua fazendo uns corres para as famílias que nos solicitam ajuda, levando cestas básicas para elas e quentinhas para os pontos de apoio”, descreve Beatriz. Como ela, quem também rapidamente se mobilizou para levar ajuda aos motoboys foi a petropolitana Giselle Tadeu Lameira.
Com o cunhado motoboy, Giselle acompanhou de perto o envolvimento dos profissionais do ramo na ajuda às vítimas da tragédia na cidade. Vendo que, passados alguns dias, a maior parte dos voluntários já registrava a insuficiência de combustível para dar continuidade à ajuda, ela deu início à arrecadação online de dinheiro para criar um fundo de apoio aos motoboys. Somente no primeiro dia foram mais de R$ 4 mil levantados.
“Motoboy costuma ser autônomo e, como eles não estavam trabalhando, não estavam recebendo. Pedi ajuda no Instagram e muita gente ajudou muito. Além do combustível, nós conseguimos ajudar com troca de óleo, de pneu, com tudo que eles estavam precisando”, aponta Giselle, que graças ao fundo criado ainda continua prestando auxílio a alguns voluntários.
O envolvimento dos motoclubes
Foto: Divulgação/Teresa Azevedo
Com homens e mulheres na direção, petropolitanos ou não, a mobilização de motoboys têm atravessado fronteiras. Presidente do motoclube Essência Estradeira, em Petrópolis, a capixaba Teresa Azevedo fez de sua casa, no Quitandinha, ponto de coleta de doações trazidas por motoclubes de diferentes cidades. “A gente é uma irmandade. Como teve essa fatalidade, eu entrei de frente e o pessoal veio e me apoiou”.
Foto: Divulgação/Teresa Azevedo
Praticamente sem espaço em casa para se locomover, Teresa tem registrado a chegada diária de caminhões lotados de doações. “Vieram caminhões de Cachoeira de Macacu, Itaipuaçu, Campo dos Goytacazes. Meu telefone não consigo nem carregar direito. Algumas doações eu estou segurando para quando as pessoas saírem dos abrigos porque vai ser aí que elas vão precisar mesmo. Estou dando a quem precisa”.
Foto: Divulgação/Teresa Azevedo
Alguns dos heróis anônimos surgidos a partir da tragédia em Petrópolis, os motoboys e motociclistas têm transformado a opinião pública acerca de seu trabalho e mostrado não apenas que junto se vai mais longe, mas que com empatia e solidariedade é possível trilhar caminhos de esperança em locais onde nem se imaginava chegar.
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