De Petrópolis ao Brasil: saiba como anda a jovem do “quartinho de estudos de bambu”
História viralizou e percorreu o país em 2019
Em 2019 o Brasil se comoveu com a história de um pai que, vendo a dificuldade da filha em encontrar concentração para os estudos na casa de caseiro em que viviam, decidiu construir para ela – então estudante do curso de Direito – um quartinho de estudos de bambu. Moradores de Itaipava, os dois tiveram sua relação de união e companheirismo repercutida em todo o país, com uma série de publicações sobre o caso na internet e na TV. Dois anos depois, saiba como andam Gisele e Paulo Cassin: pai e filha que dão uma lição de comprometimento e resiliência.
Foto: Rodrigo Proença/Estácio de Sá
Natural de Eugenópolis, em Minas Gerais, Paulo se mudou para Petrópolis com a esposa e os três filhos há cerca de 10 anos na tentativa de oferecer a eles mais oportunidades nos estudos. Sem nunca medir esforços para garantir à família a realização de seus sonhos, foi o caseiro quem, em 2019, construiu com as próprias mãos para a filha uma área de estudos cercada por bambus. E o material empregado não poderia ter sido outro: tida como uma das árvores mais resistentes do mundo, é também lembrete diário de paciência e persistência para Gisele.
Fotos: Arquivo pessoal Gisele Cassin
Chegando a participar de grandes programas da televisão brasileira, como o “Encontro”, com Fátima Bernandes, e o “Hora do Faro”, com Rodrigo Faro, a jovem recorda a repercussão que o caso teve há dois anos. “Eu tinha feito um post simples no Instagram agradecendo ao meu pai pelo cantinho que ele tinha feito e, no dia seguinte, quando eu acordei, o post tinha explodido. Era uma sensação de que eu não queria dormir para não ter que acordar”, exprime Gisele que, se naquela época era estudante do 7º período de Direito, hoje já foi aprovada no TCC com nota 10.
Foto: Arquivo pessoal Gisele Cassin
E não para por aí! Tendo, de lá para cá, estagiado no Tribunal de Justiça, na Defensoria Pública e na Procuradoria do Estado, Gisele também já se prepara para prestar a segunda fase do exame da OAB que, muito em breve, será cumprido, ainda, por seu pai, de 51 anos. Os dois prestaram ENEM ao mesmo tempo e, juntos, têm percorrido a caminhada da educação superior. “Agora que acabei a faculdade o meu pai é o que mais tem usado o quartinho de bambu. Ele já está estudando para a primeira fase da OAB”, diz.
Com uma coletânea de histórias do tempo de faculdade que vão dos dias em que a moto do pai quebrava na rua e os deixava na mão, embaixo de chuva, às vezes em que o dinheiro era curto e fazia os dois dividirem o lanche nos intervalos, Gisele atribui a esses momentos vividos em conjunto uma ligação cada vez maior existente entre os dois. “Eu acho que, para mim, vai ser muito mais emocionante a formatura dele do que a minha. Não fosse ele eu não teria conseguido. Assim que eu for aprovada na OAB, quem vai receber a carteira vai ser ele”, afirma.
Foto: Arquivo pessoal Gisele Cassin
Um sonho de longa data
Segundo Gisele, além de sonhar em ver os filhos formados, o pai, Paulo, também sempre se imaginou numa faculdade. E foi motivado pela filha que, lá atrás, ele tomou o primeiro passo para tornar o sonho realidade. Se formou no Ensino Médio pelo ENEM – prestado na mesma época do que Gisele, chegou a dar início aos estudos em Engenharia Elétrica, mas pouco depois, também por intermédio da filha, foi inscrito e aprovado no curso de Direito: área que, de acordo com ela, sempre o encantou.
“Daquele jeito mineiro dele, sempre que meu pai via o filho de algum amigo advogado, ele dizia que a pessoa tinha conseguido formar um filho doutor. Sempre que eu falava em Direito, meu pai se encantava muito, então decidi matricular ele pelo Prouni e, se ele passasse, eu contava. Quando contei que ele tinha sido aprovado foi como se ele tivesse realizado o sonho da vida dele”. Hoje estudante do oitavo período de Direito, Paulo tem a conclusão de seus estudos prevista para o final do primeiro semestre de 2022.
Planos futuros
Conhecida no Instagram pelo perfil “Escolhi Ser Servidora” (temporariamente desativado), Gisele explica que, mais do que servidora pública, sua intenção a partir da profissão é, de fato, servir pessoas. Chegando a pensar, quando mais jovem, que a única forma de o fazer seria através da área da Saúde, Gisele conta que seu contato com o Direito a fez ter a certeza de estar no segmento certo. “Quando eu descobri a área do concurso público e comecei a estagiar em órgãos públicos, eu percebi que poderia ajudar pessoas, e sempre tive na minha cabeça que minha missão era essa”.
Dedicada, hoje, a passar na segunda fase da OAB, Gisele explica que, passada essa etapa e, com o retorno dos concursos públicos, seu principal objetivo será o ingresso em Tribunais de Justiça. Na internet, sua ideia é usar seu perfil – de onde tirou um intervalo para retomar seu equilíbrio na pandemia – para trabalhar a saúde emocional nos estudos. Afinal, a exemplo do bambu de seu quartinho, Gisele também tem encontrado a habilidade de “se dobrar” de vez em quando e, ainda assim, retomar a força de seu eu interior.