9 curiosidades sobre obra e vida do caricaturista Lan
Importante nome da cultura do país morre nesta quarta-feira (4) em Petrópolis, deixando legado de grandes histórias e muitos amigos.
O caricaturista Lan morreu aos 95 anos nesta quarta-feira (4) em Petrópolis. Ele estava internado desde setembro no Hospital Beneficência Portuguesa e morreu em decorrência de uma pneumonia. Lan deixa um legado de obras que foram publicadas em grandes jornais do Brasil e do mundo, grandes histórias e de muitos amigos.
Nascido na Itália, morou também em países como Argentina, Uruguai e França, mas foi o Brasil o país que escolheu como lar. O corpo do Lan foi sepultado nesta quinta (5) no Cemitério Municipal de Itaipava.
Ao longo da vida, o caricaturista teve muitas paixões, mas três que se destacaram: o Flamengo, a Portela e, claro, a Olívia Marinho, com quem foi casado por 60 anos.
Olívia Marinho e o marido Lan – Foto: Felipe Vasconcellos
1. Primeira vez no Brasil
O nome de batismo é Lanfranco Aldo Ricardo Vaselli Cortellini Rossi Rossini. Ele nasceu em 18 de fevereiro de 1925 em Montevarchi, na Toscana. Lan veio ao Brasil pela primeira vez aos quatro anos de idade quando o pai, Aristides Vaselli Rossi, que era instrumentista, recebeu um convite da Orquestra Sinfônica de São Paulo.
2. E o primeiro amor no país?
O primeiro amor do Lan no Brasil foi sua babá Zezé. O caricaturista contava que ela foi a primeira mulher negra que conheceu e daí veio sua paixão e admiração por mulheres negras, que foram sempre retratadas em suas obras. A babá Zezé também era lembrada porque sempre levava balas de coco (outra paixão) para ele.
3. Os desenhos
O interesse pela arte de desenhar surgiu ainda quando era criança. Ele dizia que ficava olhando as paredes dos apartamentos e das casas que tinham papéis colados com desenhos. Ele observava os desenhos e ia formando outras figuras em sua mente.
Foto Arquivo Pessoal Lan Rossini
Já na escola chegou a fazer uma caricatura de um professor de química, que tinha guardada até recentemente. A carreira como caricaturista começou em 1946 no jornal El País. E em 1948 fez sua primeira exposição de caricaturas em Punta del Este, no Uruguai.
Ele dizia que Evita Péron foi quem o incentivou a desenhar mulheres em Buenos Aires.
Já no Brasil, na década de 1950, retratou a boemia carioca, as mulheres, o futebol e o samba.
4. Carreira
A maior parte da carreira do Lan foi no Jornal do Brasil para onde dedicou 39 anos de trabalho. Ele também chegou a trabalhar 10 anos no jornal O Globo e no jornal Última Hora. Nos últimos anos, dizia frequentemente que o futuro era o passado porque quando a idade chega, segundo ele, as memórias são as maiores companhias.
Foto: Cadu Dias
5. Autoexílio
Durante a ditadura militar no Brasil, ele foi orientado a sair do país. Sendo assim, Lan foi para Roma onde viveu por dois anos e depois para Paris onde permaneceu por um ano. Depois, ele retornou para o Brasil.
6. Quantidade de caricaturas
Lan não sabia mensurar quantas caricaturas já tinha feito ao longo da vida, mas imaginava algo muito além de 25 mil considerando os anos em que trabalhou em jornais impressos.
Em 2001 foi publicado o livro “As escolas de Lan” com suas caricaturas sobre o samba e com texto de Haroldo Costa.
7. Refúgio e Chimarrão
Depois de ter uma úlcera, Lan decidiu trocar a vida agitada da cidade do Rio de Janeiro por um sítio em Barra Mansa, bairro de Petrópolis. Foi onde o caricaturista e a mulher Olívia encontraram um refúgio.
Foto: Felipe Vasconcellos
No local, Lan mantinha um ateliê na parte externa da casa onde fazia as caricaturas, mas que nos últimos anos já não frequentava muito.
Um dos hábitos do italiano era tomar chimarrão pela manhã, observando a natureza.
8. Biografia e documentário
Christina Autran, jornalista e grande amiga do Lan, fez uma biografia sobre o caricaturista, que ainda não foi publicada por falta de patrocínio.
“Tentei de todos os lados, mas o projeto começou já numa fase de muita dificuldade. É uma pena queria ter dado esse presente para ele. O Lan merecia ter deixado essa iconografia reunida e publicada”.
Foto: Felipe Vasconcellos
Christina conta que se lembra muito da convivência com o amigo no Jornal do Brasil. “Ele chegava todo bonitão, com cachimbo, sentava com a prancheta e colocava um papel embaixo da mão para não manchar o desenho”, rememora.
Também está em andamento um documentário sobre o caricaturista. A Sou Petrópolis tenta contato com os produtores para saber em que fase está o processo para o lançamento.
9. Otimismo e bom humor
“Eu lembro do Lan como uma pessoa de uma doçura… Era gentileza absoluta. Uma elegância de figura e sentimentos. Era uma pessoa elegante em todos os níveis que a palavra pode significar. Ele esbanjava carinho. Sempre vi o Lan alegre, otimista, com projetos. Tenho as melhores lembranças, de momentos e de carinho enorme. Ele deixa um legado extraordinário”, diz a amiga Christina.
Lan era dono de um bom humor único. Sempre fazia brincadeiras sobre sua história, o futebol, a política… Em 2013 durante uma entrevista, ele me falou sobre uma pergunta que respondeu certa vez sobre quem eram os três maiores caricaturistas na opinião dele e respondeu: “Os outros dois são os irmãos Caruso”.
Lan ao lado do amigo Chico Caruso – Foto Acervo Pessoal Chico Caruso
No ano passado durante uma entrevista no dia do seu aniversário me contou: “Por mim, eu viveria mais 94 anos”.
E viverá por mais incontáveis décadas na história e na memória de cada um de nós que tivemos a honra e prazer de conviver com este artista.