[Dia do Feirante] Conheça a história da feira livre do Centro que emprega mais de mil pessoas em Petrópolis
Mais do que barracas, a feira de Petrópolis é feita de histórias que nem a balança pesa
Com mais de mil trabalhadores diretos e indiretos, a feira livre do Centro representa um dos pilares do comércio popular da cidade. Antes mesmo do sol nascer, já tem gente acordada, amarrando lona, descarregando frutas e sorrindo para quem chega cedo. Quem passa rápido pelo local talvez nem repare, mas ali, entre abacaxis alinhados e o cheiro de pastel no ar, mora uma das tradições mais antigas de Petrópolis: a feira livre. E neste Dia do Feirante, celebrado nesta segunda-feira (25), a ideia é simples — ouvir quem faz tudo isso acontecer.
Foto: Divulgação
Início da Feira Livre
Em 17 de fevereiro de 1917, Petrópolis inaugurava oficialmente sua feira livre no Centro da cidade. Antes disso, porém, as barracas eram montadas na movimentada Rua Floriano Peixoto, marcando o início de uma tradição que atravessa gerações.
Com o passar dos anos, a feira resistiu ao tempo e se consolidou como um dos símbolos do comércio popular petropolitano. Hoje, são mais de 300 barracas oferecendo produtos que vão de frutas, legumes e verduras frescas a embutidos artesanais.
Instalada atualmente na Rua Souza Franco, a feira não é apenas um ponto de compras, mas também um atrativo cultural, preservando sabores, cores e histórias que fazem parte da identidade da cidade.
Uma tradição que atravessa gerações
Na Banca dos Mineiros, o feirante Zé Maria já perdeu as contas de quantas terças e sábados passou naquele mesmo canto da Rua Visconde de Souza Franco. Começou ajudando o pai ainda menino, com 11 anos, e hoje, mais de 60 anos depois, mantém o ofício ao lado da filha e do neto. “A feira virou minha vida. Aqui tem cliente que viu meu cabelo preto e agora vê branco”, brinca.
Assim como ele, muitos feirantes mantêm viva a tradição que passa de geração em geração. A feira, além de trabalho, é lugar de afeto, pertencimento e memória.
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Foto: Sou Petrópolis
A feira atrelada a boas recordações
A história de Vera Lucia também se mistura com a da feira. A feira já faz parte da rotina de dona Vera Lucia Fernandes de Lima, de 71 anos, há 59 deles. Atividade a que deu início ainda ao lado de seu pai, a feira representa, para ela, a arte de conquistar pessoas pelo interior de cada uma. Ambiente que está sempre atrelado a boas recordações, é no local que Lucia coleciona amizades e um bem estar sem igual. Em sua barraca, além de frutas fresquinhas, a petropolitana também presenteia os fregueses com uma personalidade que cativa e com palavras que podem ser mais doces do que as próprias mercadorias.
Foto: Arquivos/Sou Petrópolis
“Eu trabalhei com o meu pai desde os meus 12 anos, então a feira já faz parte da minha vida. São sempre recordações boas e pessoas que você conquista mais pelo interior do que pelo dinheiro. Eu digo que são 55 anos aprendendo”. Tendo tido que se afastar por três meses do ambiente que tanto aprecia durante a pandemia, Lucia relembra a falta que estar na feira lhe fez e as formas encontradas de, ao menos, aliviar o sentimento, fosse indo aos domingos, às 5h30 da manhã, ou relembrando os bons momentos vividos.
Foto: Arquivo pessoal/Vera Lucia Fernandes de Lima
Feira, uma fonte de alegria
A banca de frutas, de número 1 da feira, é muito mais do que um simples ponto de venda. É um verdadeiro ponto familiar, onde a interação com o público e alegria de Dona Maria por estar rodeada por seus entes queridos, que transformam cada dia de trabalho em uma celebração da vida, como ela mesma diz.
“Aqui, eu me sinto útil e feliz. Trabalho com a minha filha Maria Angela, meu genro Jadir e meus netos Júnior, Leandro e Vinicius. Daqui eu tirei o sustento dos meus seis filhos, que quando mais novos também me ajudavam, mas acabaram seguindo outras profissões”, diz ela, enquanto organiza e atende o público com um sorriso no rosto.
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Foto: Sou Petrópolis
Entre o Pix e o fiado: a feira que resiste ao tempo
A feira livre de Petrópolis mudou. Hoje aceita cartão, Pix, QR code e até sugere uma nova possibilidade: a integração das maquininhas ao Cartão Imperial, um programa de benefícios sociais já utilizado na cidade.
Para Gênesis Pereira, presidente da Associação dos Feirantes, essa seria uma grande conquista. “Com isso, os feirantes teriam mais possibilidades de vender, e os clientes mais facilidade para comprar. Todo mundo ganha”.
Mas nem tudo é modernidade: o fiado ainda resiste, assim como o jeitinho de separar os produtos frescos para o freguês antigo ou o pastel com cana que já virou ponto turístico.
Fotos: Arquivos Sou Petrópolis
Demandas que ainda precisam ser ouvidas
Apesar da evolução, os desafios permanecem. Segundo Gênesis, os feirantes ainda sentem falta de maior incentivo governamental, como treinamentos, redução de impostos e apoio para comercialização dos produtos.
“A segurança também é uma pauta constante. A presença da Guarda Municipal e da Polícia Civil durante a madrugada poderia evitar furtos e garantir mais tranquilidade tanto para os feirantes quanto para os clientes. Além disso, a divulgação das feiras nas redes sociais é uma ação simples e eficaz que poderia aumentar o público e valorizar ainda mais esse patrimônio cultural e econômico da cidade”, conta.
Funcionamento da feira
A feira livre do Centro funciona na Rua Souza Franco, no Centro de Petrópolis, às terças-feiras, das 6h às 14h, e aos sábados, das 6h às 15h. Também é possível comprar as frutas, legumes e verduras com os feirantes aos domingos, no Alto da Serra, de 6h às 15h.
Mais do que barracas, a feira de Petrópolis é feita de histórias. De famílias, de trabalho duro e de resistência. Neste Dia do Feirante, o que fica é o reconhecimento: por trás de cada produto, tem alguém que acordou cedo, enfrentou sol ou chuva, e sorriu pra te vender com carinho. E isso, nem a balança pesa.
Foto: Divulgação
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