Jovem petropolitano conquista bolsa em universidade dos Estados Unidos
Gabriel Henrique Ferreira Fernandes, de 19 anos, irá ingressar na Maryville University, em agosto
Nascido em Petrópolis, o jovem Gabriel Henrique Ferreira Fernandes, de 19 anos, vem alcançado o mundo por meio da educação. O petropolitano foi um dos selecionados para uma bolsa na Maryville University, nos Estados Unidos. O estudante foi aceito no curso de International Studies (Estudos Internacionais), equivalente ao de Relações Internacionais no Brasil, na universidade localizada no estado do Missouri.
Maryville University. Foto: Divulgação
A competição, que aconteceu em janeiro deste ano, reuniu vestibulandos dos EUA e de outros lugares do mundo. Gabriel esteve entre os 650 participantes que competiram por diversas bolsas acadêmicas, incluindo a Multicultural Scholarship, alcançada por ele. Após um processo seletivo que começou com mais de 2 mil candidatos, ele foi um dos 26 selecionados para receber a bolsa, destinada a estudantes que se destacam pelo engajamento com diversidade, inclusão e impacto social em suas trajetórias acadêmicas.
Após a última fase da competição, Gabriel foi recomendado pela universidade e pelo Comitê de Diversidade e Inclusão para receber uma bolsa de 75%, com possibilidade de chegar a 100% dos custos de sua graduação, incluindo mensalidades, moradia e alimentação durante quatro anos. Além disso, ele já obteve aprovações em outras quatro universidades americanas: Sewanee: The University of the South, Stetson University, University of Kentucky e Barry University, somando até agora um total de US$ 180 mil dólares em bolsas parciais de estudo.
Como funciona a candidatura
Diferente do modelo tradicional do vestibular brasileiro, onde a nota de uma única prova pode definir o futuro acadêmico de um estudante, o processo de candidatura para universidades nos EUA envolve uma análise muito mais ampla do perfil do candidato, incluindo desempenho acadêmico ao longo do Ensino Médio, atividades extracurriculares, cartas de recomendação de professores e conselheiros e a escrita de redações que refletem a trajetória pessoal e objetivos profissionais do estudante.
“Muitos cursos cobram mais de R$ 50 mil para auxiliar os estudantes nesse processo, então busquei ajuda em um preparatório online. Já havia participado de simulações da ONU, competições de debates e fundei um projeto social voltado para ajudar pessoas a desenvolverem inteligência emocional e habilidades de se expressarem em público, uma iniciativa que já impactou estudantes de diversas cidades no Brasil. Tudo isso me ajudou a conquistar essa bolsa”, declara.
Carta de convite para a bolsa. Foto: Divulgação
Trajetória de impacto e liderança
A bolsa disputada por Gabriel é destinada para estudantes que demonstram liderança, impacto social e engajamento com diversidade e inclusão. Os finalistas têm a chance de participar de programas acadêmicos e sociais voltados para justiça social, intercâmbio cultural e desenvolvimento comunitário durante seus 4 anos de graduação na universidade.
“Vejo essa oportunidade como um passo essencial para expandir meus aprendizados, desenvolver novas iniciativas no campus de uma universidade e, no futuro, trazer esse conhecimento de volta ao Brasil. Meu objetivo é continuar abrindo portas para que mais jovens possam continuar sonhando e alcançar oportunidades, independentemente de sua origem. Agora, aguardo a possibilidade de ter os custos cobertos para viabilizar a ida aos Estados Unidos em agosto”, comenta.
Participação em evento em Harvard
A paixão por Política e Relações Internacionais levou Gabriel a ser um dos participantes de uma das maiores conferências para estudantes do ensino médio do mundo e presencial em Boston, a Harvard Model United Nations, promovida pela Universidade de Harvard em Janeiro de 2024, que reuniu mais de 4 mil estudantes de diversos países ao redor do mundo.
“Agora, também planejo fazer um minor em Psicologia, que é uma especialização complementar dentro da graduação, permitindo estudar outra área do conhecimento sem que isso prejudique o foco principal do curso. Escolhi Psicologia como complemento com o objetivo de entender mais sobre o comportamento humano e as semelhanças que podem existir na formação de políticas públicas, buscando entender como as decisões políticas impactam as pessoas de diferentes culturas e realidades”, relata.
Conferência promovida por Harvard em 2024. Foto: Divulgação
De Petrópolis para o mundo
Para Gabriel, essas conquistas representam mais do que uma oportunidade individual, é um símbolo de que jovens brasileiros, independentemente de sua origem socioeconômica, podem acessar espaços globais. “Quero que minha história mostre a outros jovens que o ensino superior fora do Brasil pode ser uma realidade, não apenas um sonho distante. Existem caminhos, e cada vez mais estudantes de diferentes contextos estão provando que podem chegar lá”, pontua.
Nascido em Petrópolis, Gabriel passou sua infância na cidade antes de se mudar para o Rio de Janeiro devido ao trabalho de seus pais. Apesar da mudança, ele sempre manteve uma forte conexão com sua cidade natal, que moldou sua visão de mundo e seus valores.
Um dos momentos mais marcantes em sua trajetória foram eventos culturais como a Bauernfest de Petrópolis, que lhe ensinaram como diferentes culturas podem se conectar e se enriquecer mutuamente. “Via como a celebração fortalece a identidade local e impulsiona a economia e o turismo, o que despertou meu interesse em entender a diversidade cultural em um nível global”, ressalta.
Gabriel estudou em escolas particulares durante toda sua trajetória, e a que mais o marcou foi, curiosamente, a escola que apareceu no filme “Ainda Estou Aqui”, que ganhou o Oscar recentemente, o Colégio SION. “Esse filme fala muito sobre resiliência, algo que também marcou minha caminhada até aqui”.
Participação em debates no Colégio Sion e cena de “Ainda Estou Aqui”. Foto: Divulgação
Agora, ao vivenciar essa nova experiência acadêmica, ele vê a bolsa como uma oportunidade de continuar expandindo esses laços e construir novas pontes entre culturas, unindo sua vivência em Petrópolis, no Rio de Janeiro e no futuro em uma universidade internacional.
“Essa experiência de vida me ensinou a transitar entre diferentes realidades e enxergar o impacto que pequenas comunidades podem ter no crescimento de um indivíduo. Cada nova vivência amplia ainda mais essa perspectiva”, reflete.
Do “impossível” à realidade
Gabriel destaca que, desde cedo, carrega consigo esse objetivo de estudar no exterior, mas devido a sua origem humilde ouviu que estudar fora era um privilégio restrito a poucos. “No ensino médio, uma pessoa muito próxima a mim me disse que ninguém na nossa escola havia conseguido algo assim antes, então eu também não conseguiria”, relembra.
Ainda assim, ele buscou alternativas acessíveis para se preparar e ir atrás do seu sonho, aprendeu inglês de forma autodidata estudando com materiais na internet e após se formar foi recomendado por professores e pelo diretor do colégio em que estudou através de cartas de recomendação a se candidatar para as universidades.
“Se eu pudesse voltar e falar com aquele Gabriel de anos atrás, que acreditava que esses espaços não eram para ele, eu diria para continuar. Por mais que muita das vezes senti forte o desejo de desistir, eu diria que cada obstáculo que enfrentei só fez essa jornada ter ainda mais sentido. Porque, quando um de nós abre uma porta, ela não se abre só para um, mas para todos que virão depois”, finaliza ele.
Foto: Divulgação
Os próximos passos de Gabriel podem ser acompanhados em @gabrielfferns.
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