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Entrevista: conheça a quadrinista petropolitana lida por milhares de pessoas em todo o Brasil

Cultura

Entrevista: conheça a quadrinista petropolitana lida por milhares de pessoas em todo o Brasil

[Dia das Histórias em Quadrinhos]: Helena Cunha é a autora das HQs “Boa Sorte”, “Normal” e “Não sou Orlando”, acompanhadas por mais de 15 mil seguidores nas redes sociais

Nesta quinta-feira, 30 de janeiro, é celebrado o Dia Nacional das Histórias em Quadrinhos, que marca a data em que, há mais de 150 anos, foi publicada a primeira HQ no Brasil. Para comemorar a data, a Sou Petrópolis conversou com a quadrinista petropolitana Helena Cunha, que faz sucesso com suas histórias, lidas por milhares de pessoas em todo o Brasil.

Fotos: Arquivo Pessoal

Helena viveu em Petrópolis dos 8 aos 18 anos e hoje mora em São Paulo. Seus pais continuam por aqui e, por isso, ela visita com frequência a cidade. Com 35 anos de idade, a ilustradora já acumula em seu currículo três histórias publicadas, “Boa Sorte”, “Normal” e “Não sou Orlando”. Só no site da Amazon, as obras há contam com mais de 3,5 mil avaliações dos leitores.

Formada em cinema, foi fora das telas e dentro das páginas onde a petropolitana encontrou o seu lugar. Em entrevista à Sou Petrópolis, ela conta um pouco sobre a sua trajetória no universo das HQs, conquistas e planos para o futuro. Confira!

Primeiros lançamentos físicos de Helena. Fotos: Arquivo Pessoal

1. De onde vem esse seu interesse pelas histórias em quadrinhos? Quando isso se tornou uma profissão e você percebeu que sua carreira de fato havia começado?

H.C: Eu lia quadrinhos da Turma da Mônica quando era criança, mas conforme fui crescendo, perdi o interesse. Achava que só existiam quadrinhos infantis ou de super heróis. Só voltei a me interessar com uns 26, 27 anos.

Na época, eu trabalhava no centro do Rio, perto da Livraria Cultura, e passava muitos horários de almoço olhando os livros. Foi aí que eu entrei em contato com os quadrinhos novamente e vi que era um universo muito mais amplo do que eu imaginava, com formatos e temáticas para todos os gostos.

Quando fiz meu primeiro quadrinho, Boa Sorte, eu trabalhava em outra coisa, não considerava minha profissão. Aos poucos, os quadrinhos foram ganhando mais e mais espaço na minha vida. Eu não tinha ideia do que aconteceria quando imprimi o livro, estávamos no início da pandemia e todos os eventos tinham sido cancelados. Acho que comecei a considerar uma carreira quando comecei a vender os livros.

2. Quais foram as primeiras histórias que você criou? Já eram um escopo das que existem hoje?

H.C: A minha primeira história em quadrinhos eu fiz com uns seis ou sete anos, sobre uma galinha que botou quatro ovos. Minha mãe fez algumas cópias, graças a ela eu tenho um exemplar até hoje. Acho que meu estilo mudou bastante.

Primeira história criada por Helena quando criança. Fotos: Arquivo Pessoal

3. De onde vem as inspirações para as suas histórias e sobre quais outros temas você mais gosta de escrever? Quais outras mídias você consome e que te influenciam?

H.C: Eu gosto de escrever sobre pessoas. Pessoas imperfeitas encontrando outras pessoas imperfeitas e tentando enfrentar a vida. Não sei dizer exatamente de onde vem a minha inspiração, pode vir de coisas que eu vivi, que aconteceram com outras pessoas, de livros, filmes… De onde vier está ótimo, contanto que venha.

4. Nas suas HQs, você aborda, dentre outras questões, a descoberta e aceitação da sexualidade das personagens. Para você, qual a importância de trazer essa temática para as suas histórias?

H.C: Esse é um tema que sempre me interessou e que eu sempre busquei nas histórias que lia ou nos filmes que assistia na adolescência, no início dos anos 2000. Não era muito fácil encontrar essas histórias. Hoje eu escrevo o que gostaria de ter lido na época.

Páginas de “Boa Sorte”. Fotos: Arquivo Pessoal

5. Por qual motivo você acredita que tantas pessoas se conectaram com as suas histórias?

H.C: Putz, difícil essa. Acho que no caso do Boa Sorte teve o fator da pandemia. Estava todo mundo sem poder sair de casa e eu postava uma página por dia no meu Instagram. Acho que as pessoas se apegaram aos personagens ali.

De modo geral eu acho que trato de temas que são comuns a todos nós: amadurecimento, medo de não ser aceito, a dificuldade para se encontrar e as relações que vamos formando no caminho.

Artes feitas por Helena. Fotos: Arquivo Pessoal

6. Depois do sucesso de “Boa Sorte”, como foi pra você lançar Normal e, agora, “Não sou Orlando”? Pode contar um pouco sobre o que fala cada uma dessas histórias?

H.C: Foi assustador. Com Boa Sorte eu não tinha ideia do que aconteceria e deu muito mais certo do que eu poderia imaginar. Eu tinha medo da comparação com ele, tanto que meu segundo livro teria sido Boa Sorte 2, mas a pressão para fazer algo à altura e o medo das críticas me paralisou.

Mas tudo bem, porque assim nasceu Normal. Normal é a história da Clarinha, uma adolescente que cansa de esperar a cura gay da igreja e tenta fazer um pacto com o diabo para virar hétero. É uma comédia. Obviamente o plano dela não dá certo e assim começa a sua jornada de auto aceitação.

Já com Não sou Orlando  foi diferente. Eu tinha um prazo apertado para terminar o livro antes de um evento importante, então não deu tempo de me preocupar com o que as pessoas achariam. Os livros chegaram da gráfica na véspera, pra você ter uma ideia, então eu desliguei essa parte do cérebro e entrei no modo de ação.

Não sou Orlando é uma mistura de Orlando, da Virginia Woolf, com memórias da minha adolescência e da minha descoberta enquanto lésbica e de um amigo que me acompanhou em toda essa jornada. Foi muito difícil o processo de fazer o livro, porque é muito pessoal, mas também foi muito rápido, parecia que eu já tinha tudo pronto, só faltava passar para o papel.

No final das contas eu amei o resultado. Agora estou trabalhando no meu próximo livro, a continuação de Boa Sorte (ainda sem título) e estou tentando ignorar a ansiedade e aproveitar o processo. Falhando miseravelmente.

Capa e página de “Não sou Orlando”. Fotos: Arquivo Pessoal

7. Quais você considera serem os maiores feitos da sua carreira?

H.C: A relação que eu crio com os leitores. Me deixa feliz demais quando alguém me diz que o livro foi importante para ele ou ela, que viveu uma situação parecida, que o livro ajudou num momento difícil. Uma vez, em um evento, uma menina apontou pro Boa Sorte e falou: “chorei igual a uma cachorra”. Foi o melhor elogio que eu já recebi.

8. Como rolou o processo para as suas histórias serem publicadas fisicamente e por qual motivo você também decidiu publicá-las nas suas redes sociais?

H.C: Na verdade foi o contrário. Eu pretendia imprimir Boa Sorte e vender em feiras e eventos de quadrinho, mas assim que eu terminei o livro começou a pandemia e foi tudo cancelado. Eu estava lá, com a história pronta, sem saber o que fazer, não conhecia quase ninguém do meio.

Aí eu resolvi postar no meu Instagram, uma página por dia, que pelo menos meus conhecidos leriam e eu não teria tido anos de trabalho à toa. Com o tempo, as pessoas começaram a se interessar e eu fui ganhando mais seguidores, um monte de gente curiosa pra saber o final da história perguntavam se eu vendia o livro impresso. Foi aí que eu pensei que talvez fosse viável imprimir o livro.

Primeira remessa de “Boa Sorte”. Fotos: Arquivo Pessoal

9. Quais são os seus próximos passos e lançamentos previstos?

H.C: É o Boa Sorte 2! Está quase pronto, mas ainda não tem título. O livro sai em junho deste ano pela editora nVersos e conta a história da Erica, que depois de alguns anos fora da cidade precisa voltar e lidar com alguns fantasmas do passado.

10. E pra finalizar, qual a importância das histórias em quadrinho na sua vida e qual você acredita ser a importância para a sociedade em geral?

H.C: É muita, eu amo quadrinhos e amo o jeito que eles impactam os leitores. Tenho muita sorte de trabalhar com isso. Acredito que os quadrinhos são a porta de entrada para a leitura. Quantas crianças não aprenderam a ler com um gibi?

Além disso é uma mídia simples, acessível tanto para quem faz quanto para quem lê. Não precisa de mais que um papel e um lápis para começar a fazer quadrinhos. Claro que é muito difícil e trabalhoso se manter no meio, não quero romantizar a área, mas ainda assim é uma das formas mais democráticas de contar história.

Fotos: Arquivo Pessoal

O trabalho de Helena pode ser acompanhado pelo Instagram @helenacunhas.

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