Em dois anos, ‘Projeto do Morro’ já profissionalizou 800 jovens: um deles é Ramonzinho, que viralizou depois de gesto solidário

O projeto é do morro, mas seus frutos já têm sido colhidos para além dele. Fundado em 2009, o chamado ‘Projeto do Morro’ se propõe a promover a inclusão social de jovens e adultos a partir da oferta gratuita de esportes e cursos profissionalizantes. Um dos beneficiados pela iniciativa é ‘Ramonzinho’: jovem de 28 anos que conquistou a internet esta semana, após promover, de graça, o corte de cabelo de moradores de rua.

Fotos: Divulgação

Aluno do curso de barbeiro do ‘Projeto do Morro’, Ramon André emocionou os petropolitanos no início da semana a partir de um gesto de solidariedade. No Centro, ele realizou o corte de cabelo de pessoas em situação de rua sem cobrar nada. E o tratamento foi completo: além do serviço propriamente dito, os “clientes” também receberam palavras motivacionais de quem os viu além do que a aparência é capaz de dizer.

“Me confundi com as datas da ação social que vamos realizar no projeto e acabei indo para o Centro nesse dia. Na Avenida, decidi cortar o cabelo de um senhor, que me disse que há 40 anos não cortava o cabelo porque a depressão tinha tomado a vontade dele. Aquilo me tocou bastante, então decidi fazer outros cortes. Nisso o dono do projeto, que estava de passagem, fotografou e postou na internet”, conta Ramonzinho.

Neto de barbeiro, Ramon explica que foi após o falecimento do avô, Edson de Jesus Forte, que passou a cogitar trabalhar dentro do ramo. O primeiro passo foi tomado este ano, a partir da realização de um curso profissionalizante dentro do ‘Projeto do Morro’. Ele conta que não apenas vai continuar a cortar o cabelo “dos irmãos de rua”, como pretende também, no futuro, abrir a própria barbearia.

Na foto, o avô, barbeiro, seguido do neto, Ramon André, que agora segue os mesmos passos. Fotos: Divulgação

“Sempre existe um anjo na nossa vida pra iluminar a gente. Tá chegando o Natal e muita gente preocupada em como vai ser por causa da pandemia. Os moradores de rua já não têm família e ainda perdem a auto estima por causa da depressão. Não vou parar de cortar o cabelo deles. São pessoas sensíveis, então enquanto faço os cortes eu brinco, falo coisas boas para mostrar a eles que vale a pena ser feliz na vida”.

Se o plano de abrir a própria barbearia se consolidar, Ramonzinho vai se unir ao time de mais de 30 ex-alunos do Projeto do Morro que, nos últimos dois anos, abriram seus próprios negócios dentro da área em que se especializaram a partir da iniciativa. No mesmo período, segundo o coordenador e idealizador do projeto, Bruno Gonçalves, foram mais de 800 alunos formados dentro dos cursos profissionalizantes.

Foto: Divulgação

“O projeto atende hoje mais de 250 famílias no Alto da Serra e no Boa Vista. As atividades são todas gratuitas. A única contribuição que a gente pede é no momento de inscrição, no valor de R$ 50. Assim conseguimos mandar fazer as camisas para os alunos e, depois, os certificados de conclusão. Da mesma forma que o Ramonzinho enxerga as pessoas normalmente tidas como invisíveis, nosso projeto busca promover a inclusão social”.

Tamanha é a devoção de Bruno à causa que, lá atrás, ele abriu as portas da própria casa para que a realização das atividades fosse possível. Hoje, a edificação em questão é ocupada exclusivamente pelo Projeto do Morro. Ele passou a morar em outra localidade, mas sua presença no Alto da Serra é constante e fruto de quase 22 anos de atuação em trabalhos sociais e danças urbanas.

“Em 2009 comprei um terreno no Morro da Oficina com o intuito de promover a dança de rua. Com o tempo abri mão da casa, de aluguel, de tudo, e hoje são três andares de projeto social. Procuramos transmitir para os alunos que é importante que eles devolvam para a sociedade as oportunidades que eles têm recebido, que eles retribuam ao próximo o que eles adquiriram dentro do projeto, e foi o que o Ramonzinho fez, por exemplo”.

Foto: Divulgação

Com aulas de capoeira, jiu-jitsu, yoga e várias outras, o Projeto do Morro – cujas engrenagens são movidas por professores voluntários – disponibiliza, ainda, cursos para barbeiro, manicure, cabeleireiro, designer de sobrancelha e depilação, por exemplo. Sem fundos, o projeto tem batalhado para concluir, agora, o telhado do terceiro andar do prédio.

Interessados em conhecer a fundo e contribuir com o Projeto do Morro podem fazer contato com o Bruno pelo telefone (24) 98833-5161. A iniciativa pode ser acompanhada pelas páginas do Facebook (Projeto do Morro) e Instagram (@projetodomorro) em que, em breve, serão publicadas as instruções de inscrição para as turmas de 2021.

Veja também:

• Dez iniciativas e projetos sociais para fazer uma boa ação em Petrópolis nesse fim de ano 
• Jornalista dá início à produção de curtas-metragens para contar histórias do comércio tradicional ativo de Petrópolis