Jornalista petropolitana é assediada virtualmente e transforma constrangimento em luta

Postar uma foto no Facebook não deveria ser motivo para medo ou algum tipo de receio, mas não foi isso que aconteceu na última terça-feira (29). O que era para ser uma forma natural de expressar liberdade, transformou-se em um grande constrangimento para uma jornalista petropolitana, que prefere não ser identificada.

Ela publicou uma foto de costas com o corpo coberto por uma canga com a seguinte descrição: “Axé”. Sem pensar duas vezes, o comentário do assediador foi: “Prefiro a parte da frente. Sem roupa”. Vendo a repercussão negativa, ele apagou o comentário.

Reprodução de grupos de WhtasApp

A primeira reação foi de impotência, mas ela preferiu transformar essa dor em luta. “Quando eu vi o comentário fiquei muito nervosa. Não sabia como agir. Pensei e decidi expôr a situação para combater esse tipo de desrespeito. Me senti invadida, sabe? Não está sendo fácil, mas alguém tem que dar a cara para lutar por um futuro melhor”, revela emocionada a jornalista.

Segundo a presidente da OAB/Mulher em Petrópolis, Dra. Priscila Braga, a frase pode ser caracterizada como crime de assédio. “Contar piadas com carácter obsceno e sexual, avaliar pessoas pelos seus atributos físicos e tecer comentários sexuais sobre a forma de vestir ou de parecer são formas de assédio.  A mulher que passar por essa situação deve denunciar à polícia e processar o assediador”, esclarece a advogada.

Coragem que se transformou em união

Inconformada com a falta de respeito, a jornalista preferiu não se calar e usar o caso dela como instrumento de transformação, uma vez que muitas mulheres passam por essas situações, mas preferem não contar a ninguém por medo ou por vergonha. “Poderia simplesmente apagar o post, mas iria contra as minhas próprias ideologias e lutas”, ela conta.

A partir deste episódio, um movimento de sororidade começou a se formar no grupo de WhatsApp da Imprensa de Petrópolis. Foi criada uma campanha nas redes sociais para alertar às mulheres de que esse tipo de comportamento não é aceitável e precisa ser denunciado. Com a hashtag #TodosUnidosContraOassédio, diversos profissionais da área e pessoas que lutam por essa causa aderiram ao movimento.

Reprodução de grupos de WhtasApp

“Nós não somos objetos. Nós temos alma, nós temos coração. Nós temos o nosso corpo que é um local sagrado pra nós. Nós não podemos aceitar que um homem qualquer nos desrespeite dessa forma. É por isso que vamos nos unir, vamos lutar e não vamos permitir que isso aconteça. Temos que denunciar”, reforça a jornalista.

Dados da violência em Petrópolis

Dados do Dossiê Mulher 2018, divulgados pelo Instituto de Segurança Pública do estado do Rio de Janeiro (ISP/RJ) em Petrópolis foram registrados 3 casos de assédio sexual no ano passado. Um número pequeno, mas que reforça a importância de fazer o registro.

“É importante que a pessoa que for assediada vá a delegacia e denuncie. Lá ela vai receber toda a orientação que precisa para preservar a informação. Assim fica mais fácil identificar o suspeito e prosseguir com a investigação”, informa Dr. Claudio Batista, delegado da 105ª Delegacia de Polícia de Petrópolis.

Em 2018 foram registrados 22 casos de importunação ofensiva ao pudor, que é quando alguém nos causa algum tipo de desconforto, ou constrangimento a partir de uma conduta com conotação sexual. A maioria das vítimas desse crime em Petrópolis (36,4%) tem idade entre 30 e 59 anos e não tem qualquer relação com o assediador (63,6%).

Para denunciar:

Disque Denúncia

Basta ligar para 180. A denúncia pode ser feita de forma anônima para garantir a segurança da pessoa.

Nuam – Núcleo de Atendimento à Mulher

Localizado na 105ª DP – Retiro

24 horas por dia

Cram – Centro de Atendimento à Mulher

O Cram funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, na Rua Santos Dumont, 100 – Centro. É possível entrar em contato pelo telefone (24) 2243-6152 ou, em caso de emergência, pelo número (24) 98839-7387.

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