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Dia do Estudante: aos 50 anos e impossibilitada de estudar na adolescência, petropolitana volta a ir à escola

Educação

Dia do Estudante: aos 50 anos e impossibilitada de estudar na adolescência, petropolitana volta a ir à escola

Conheça a história da petropolitana Raquel, aluna da Educação de Jovens e Adultos de uma escola do município

Por Cristiane Manzini sob supervisão de Luísa Abreu

Falta de vagas nas escolas e crianças trabalhando já foram realidade no Brasil há algumas décadas. Crianças e adolescentes que não conseguiam estudar acabavam entrando no mercado de trabalho para ajudar a família e aprender um ofício que, muitas vezes, serviria como a futura profissão.

Políticas públicas e legislações de proteção à infância mudaram este panorama, sobretudo nos estados mais desenvolvidos do país. No entanto, ainda encontramos adultos que interromperam a formação ainda na adolescência e precisam retornar à escola para concluir os estudos. Esse é o caso de Raquel Ciscoto Barbosa.

Foto: Arquivo Pessoal Raquel Ciscoto Barbosa

Infância difícil

Petropolitana de 50 anos, ela tem orgulho de ser aluna do 7º ano do Ensino Fundamental na Escola Municipal Prefeito Jamil Sabrá. Durante a infância ela morava em uma comunidade chamada Jurity. Localizada na Estrada do Brejal, no distrito da Posse, esta região fica bem longe do centro da cidade, dificultando o acesso a uma série de serviços. Ela conta que com a separação dos pais, quando tinha apenas 13 anos, precisou interromper os estudos.

Raquel relembra que precisou começar a trabalhar. “Tive que trabalhar na roça e tomar conta dos meus três irmãos”, comenta. 

Região do Brejal – Foto Reprodução Internet

Já adulta, ela passou a morar no centro de Petrópolis onde conheceu o ex-marido. A vida seguiu seu rumo e com o marido teve quatro filhos, duas meninas e dois meninos, o que dificultava pensar em retomar os estudos.

Foto: Arquivo Pessoal Raquel Ciscoto Barbosa

Com o passar do tempo, no entanto, ela se separou e resolveu voltar a estudar. A estudante destaca que foi incentivada a isso pelo atual companheiro. Em uma sociedade onde a mulher geralmente é vista como a responsável pelo lar e pelos filhos, é fundamental ter o apoio da família como uma forma de assegurar que esta mulher tenha tranquilidade de buscar os próprios objetivos.

O retorno

Raquel aponta que na infância precisou parar de estudar ainda no 4º ano do Ensino Fundamental, antiga 3ª série primária. Apenas muito tempo depois conseguiu retornar à escola para cursar a EJA – Educação de Jovens e Adultos. Mas como acontece com a maioria dos adultos que voltam a estudar, novamente teve que interromper os planos. Ela decidiu tentar mais uma vez e agora cursa o 7º ano.

Turma de Raquel no EJA, em um encontro no Palácio de Cristal

Os motivos e planos para o futuro

As razões que levam os adultos a voltarem a estudar são variadas. Seja para progredir na carreira ou para ocupar o tempo, frequentar a escola pode trazer muitos ganhos. Raquel tem uma história de superação. “Voltei a estudar para ocupar a minha cabeça, pois perdi meu filho caçula em 2020 e fiquei muito abalada. Com a rotina de estudos fico um pouco mais tranquila”, comenta.

Além da ocupação, ela manifesta o desejo de ir bem mais longe. “Meu plano de estudo é adquirir cada vez mais conhecimento e pretendo ir até onde for possível”, ressalta. 

Raquel e o neto – Foto: Arquivo Pessoal Raquel Ciscoto Barbosa

Muitos adultos retornam aos estudos apenas para concluírem a educação básica, porém existem casos de alunos que, incentivados pelos professores, progridem até o ensino superior, conquistando até uma nova profissão.

Dificuldades atuais

Raquel precisou parar de trabalhar por problemas de saúde relacionados à coluna e à fibromialgia. Quando jovem trabalhava em supermercado e, após um período se dedicando apenas à família, começou a trabalhar como cuidadora de idosos, atividade que exerceu por muitos anos.

Ela destaca que atualmente sem trabalho fica tudo mais difícil. Concluir a educação básica pode ajudá-la a encontrar outras atividades que não sofram interferência dos problemas de saúde que ela enfrenta. “Acho que à medida que adquirimos mais conhecimento novas oportunidades vão surgindo em diversas áreas”, afirma.

Sobre as dificuldades nos estudos, ela alerta sobre a saída de professores do quadro da EJA na escola. “Atualmente temos uma evasão muito grande nos quadros de professores, o que acaba desestimulando um pouco”, desabafa.

Escola Municipal Prefeito Jamil Sabrá – Foto Reprodução Internet

Os alunos adultos têm uma particularidade que é, muitas vezes, dividir o tempo entre trabalho, família e estudos. Portanto, a dinâmica escolar para este público deve ser tratada com cuidado, já que a desistência dos alunos é frequente em razão de inúmeros fatores externos. 

Em relação às disciplinas, Raquel diz que apesar das mudanças desde quando estudou na infância, é possível ter bons resultados. “Muita coisa mudou, porém, apesar das minhas limitações, consigo acompanhar sim”, comenta.

Mesmo com as dificuldades ela acredita que é importante buscar crescimento ao longo da vida. E conclui o depoimento incentivando outras pessoas a retornarem aos estudos de onde pararam. “Devemos sempre procurar evoluir e à medida que retomamos os estudos, adquirimos conhecimentos e podemos nos atualizar fazendo com que, assim, possamos interagir melhor com a sociedade e tornar o nosso meio melhor de se viver e conviver”, finaliza.

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