Dezenas de vidas são interrompidas por acidentes de trânsito em Petrópolis: “Todos temos alguém que nos espera de volta”
Três mortes em dois dias reacendem o alerta sobre a segurança nas ruas da cidade
Os últimos dias de outubro foram marcados por tragédias no trânsito de Petrópolis. Em menos de 48 horas, três pessoas perderam a vida em acidentes envolvendo motocicletas — histórias interrompidas em meio à rotina de uma cidade que convive, diariamente, com o risco nas ruas.

Foto: reprodução redes – Acidente ocorrido em 15 de setembro de 2025 – Araras
Mortes em sequência
No domingo (26), uma colisão entre um carro e uma moto na Estrada União e Indústria, em Nogueira, tirou a vida de dois homens, de 33 e 49 anos. Uma mulher, de 45, também ficou ferida e foi encaminhada para atendimento médico.
Menos de 24 horas depois, na manhã de segunda-feira (27), um novo acidente envolvendo carro e moto foi registrado na Avenida Ayrton Senna, no Quitandinha. A vítima, Gabriel, de 25 anos, não resistiu aos ferimentos e morreu no local.
Números que preocupam
As cenas, infelizmente, não são isoladas. Segundo o 15º Grupamento de Bombeiros Militares de Petrópolis, de 1º de janeiro a 31 de outubro de 2025, foram 832 acionamentos por acidentes de trânsito na cidade — um aumento em relação ao mesmo período do ano anterior, quando houve 793 registros.
As colisões entre veículos continuam sendo a principal causa dos atendimentos, com 484 ocorrências até outubro. Em seguida, aparecem as quedas de moto e outros veículos (243 registros) e os atropelamentos (91 casos). As capotagens somaram 14.
Entre os veículos mais presentes nas estatísticas estão as motocicletas. Só em 2025, foram 286 colisões entre carros e motos e 221 quedas envolvendo motociclistas — um dado que reforça a vulnerabilidade desse grupo no trânsito petropolitano.

Imagem ilustrativa de acidente ocorrido em 2019. Foto: Divulgação/Corpo de Bombeiros
Dados mostram um padrão
Os números da Companhia Petropolitana de Trânsito e Transportes (CPTrans), referentes ao último anuário completo (2024), já apontavam o tamanho do problema.
No ano passado, foram 1.784 acidentes com vítimas e 41 mortes registradas. Desses, 1.207 envolveram motocicletas, com 1.485 pessoas feridas, sendo 27 fatais.
A maior parte das vítimas era do sexo masculino (612) — um retrato de quem, em geral, está mais exposto nas ruas, seja a trabalho ou em deslocamentos diários.
As vias mais perigosas também são conhecidas da população: Estrada União e Indústria, Avenida Barão do Rio Branco, Rua Bingen, Coronel Veiga, General Rondon e Quissamã estão entre os pontos com maior número de ocorrências.

Foto: Reprodução / redes sociais – Acidente ocorrido no dia 28 de maio de 2025, na Estrada União e Indústria
Ações de prevenção
A CPTrans informou à Sou Petrópolis que os dados de 2025 ainda estão em consolidação, mas reforçou que investe, ao longo do ano, em ações educativas — principalmente em períodos como o Maio Amarelo e a Semana Nacional do Trânsito.
A Companhia também destacou intervenções estruturais para reduzir riscos, como a implantação de sistemas binários em Corrêas e no Quitandinha, que diminuem manobras perigosas, e a instalação de balizadores flexíveis em trechos críticos da Estrada União e Indústria, em Itaipava.

Foto: divulgação PMP
Por trás dos números, vidas interrompidas
Três mortes em dois dias. Três famílias em luto. Os números ajudam a compreender a dimensão do problema, mas cada estatística carrega uma história que se perdeu nas curvas e avenidas da cidade.
Enquanto os dados crescem, a sensação é de que a pressa e a imprudência seguem custando caro demais. Um desses casos foi o de Gabriel, vítima do acidente na Avenida Ayrton Senna, no Quitandinha.
Ele tinha 25 anos, era recém-casado e era uma pessoa muito conhecida no ramo esportivo da cidade, em especial, no futevôlei. O amigo Matheus Lima lembra com carinho e dor dos momentos compartilhados.
“Gabriel era meu amigo de anos, frequentávamos a casa um do outro. Trabalhamos juntos com futevôlei por quase três anos. O sentimento como amigo é de uma tristeza absoluta, um vazio que nunca será preenchido. Era um rapaz de 25 anos, casado há apenas três meses, trabalhador. É muito difícil lidar com uma perda assim. Acaba sendo um momento de reflexão, principalmente para os mais próximos”, conta Matheus.
Matheus também é motociclista e lida diariamente com o medo de pilotar pelas ruas da cidade.
“Infelizmente, a facilidade de comprar um carro ou moto está muito grande, e com isso aumentam os casos de irresponsabilidade. Ando de moto há 10 anos e nunca sofri um acidente, mas isso exige uma precaução enorme. Ainda assim, passamos por sustos todos os dias. A melhor saída seria investir em redutores de velocidade, multas e uma fiscalização mais constante.”
Matheus encerra o desabafo com um apelo que serve para todos que convivem com o trânsito, seja dirigindo, pilotando ou caminhando.
“Saímos de casa todos os dias sem saber o que nos espera. Todos temos alguém que nos ama e nos espera de volta. Precisamos ser mais conscientes — pilotando, dirigindo, até como pedestres. Por um deslize, podemos tirar a vida de um inocente ou colocar a nossa em risco. Nesse dia, infelizmente, eu perdi um grande amigo. Agora ficam apenas as lembranças”.

Foto: reprodução – acidente ocorrido no dia 21 de setembro de 2024, no Retiro
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