Setembro Amarelo: “Falar sobre depressão e suicídio é prevenir”, diz psiquiatra de Petrópolis
Segundo o Ministério da Saúde, 14 mil brasileiros tiram a própria vida por ano, média de 38 casos por dia. Apesar da gravidade, o tema ainda é tratada com muitos tabus
O Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, lembrado neste dia 10 de setembro, chama a atenção para um dos problemas de saúde pública mais graves da atualidade. A data integra o Setembro Amarelo, campanha internacional criada para conscientizar sobre a importância de falar abertamente de saúde mental, combater tabus e ampliar o acesso à informação.
Rosane Bittencourt- Médica Psiquiatra e Professora de Psiquiatria e Saúde Mental da UNIFASE – Foto: divulgação
Dados
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 700 mil pessoas tiram a própria vida todos os anos no mundo. No Brasil, os números também chamam a atenção: são cerca de 14 mil mortes anuais, o que equivale a uma média de 38 casos por dia, segundo o Ministério da Saúde. Apesar da gravidade, o tema ainda é cercado de silêncio.
Quebrar tabu
Para a médica psiquiatra Rosane Bittencourt, mesmo com o acesso à informação estar cada vez mais democratizado, falar em suicídio ainda é um grande tabu. Ela destaca que melhor forma de abordar o assunto é com naturalidade, incentivando palestras, entrevistas e conversas sem preconceitos. “A informação ainda é a melhor forma de enfrentarmos os preconceitos e tabus”.
Diferença de tristeza e depressão
Um dos primeiros passos, segundo a especialista, é compreender que tristeza e depressão não são a mesma coisa. “A tristeza é uma emoção humana universal, geralmente passageira, ligada a perdas ou frustrações. Já a depressão é um transtorno mental persistente, marcado por sintomas que vão além do humor deprimido, como perda de interesse em atividades antes prazerosas, alterações no sono e no apetite, sensação de culpa ou inutilidade e, em casos mais graves, ideação suicida e sintomas psicóticos”.
Os sinais de alerta muitas vezes aparecem de forma lenta e progressiva. Mudanças no padrão do sono e da alimentação, irritabilidade, fadiga constante, retraimento social, dores sem causa aparente, lentificação da fala e até desleixo no autocuidado podem indicar o início de um quadro depressivo. “Esses sinais muitas vezes se instalam de forma lenta e progressiva até caracterizarem uma depressão franca”, explica Rosane.
Foto: Freepik
Busca por ajuda e tratamento
Diante dos primeiros sintomas, a recomendação é procurar ajuda profissional o quanto antes. “Buscar diagnóstico e estabelecer o tratamento precoce é fundamental para não permitir o agravamento da condição e alcançar a remissão o mais rapidamente possível”, destaca a médica.
O tratamento combina diferentes abordagens. Os antidepressivos, prescritos de acordo com cada paciente, são recursos importantes, mas a psicoterapia desempenha papel igualmente relevante. “Além disso, a chamada psicoeducação — que envolve paciente e familiares no entendimento sobre a doença e seus sinais — é apontada como essencial”.
Família e amigos no processo de recuperação
A família e os amigos também têm papel decisivo no processo de recuperação. A presença, o apoio afetivo e o respeito aos limites da pessoa em sofrimento podem fazer a diferença. “Muitas vezes, apenas a presença afetiva já é suficiente para que a pessoa saiba que está segura e querida”, reforça Rosane.
Hábitos saudáveis como prática de atividade física, alimentação equilibrada, sono regulado e momentos de lazer ajudam a melhorar a autoestima e a sensação de bem-estar. Porém, em momentos de maior fragilidade, o paciente pode não ter energia para buscar ajuda sozinho. Nesses casos, a rede de apoio deve assumir o protagonismo e conduzir a pessoa até o atendimento profissional.
Para a psiquiatra, falar sobre depressão e suicídio é um convite ao diálogo que salva vidas. “O silêncio em torno do tema só aumenta o sofrimento. Informação, acolhimento e acesso a tratamento adequado são caminhos fundamentais para a prevenção”, conclui.
Foto Reprodução Internet / ISTOCK
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