Connect with us

Petropolitana cria confeitaria sobre rodas e vira referência em sacolés gourmet

Cidade

Petropolitana cria confeitaria sobre rodas e vira referência em sacolés gourmet

Com fé, criatividade e uma bicicleta reformada, Aline de Paula transformou o último seguro-desemprego do marido em um negócio que hoje é símbolo de amor e persistência em Petrópolis

Do último seguro-desemprego à bicicleta de carga reformada. Foi assim que Aline de Paula Cruz, de 35 anos, moradora da Posse, em Petrópolis, deu vida à sua confeitaria. Casada com Daniel Chaves Mattos e mãe de Theodoro, de 10 anos, ela transformou dificuldades em força e fé — ingredientes que, junto com o amor à profissão, adoçam cada produto da Doce Menino Confeitaria, que hoje é referência na produção artesanal de sacolés gourmet e bolos decorados.

Foto: arquivo pessoal

Paixão por vendas

Desde criança, Aline já dava sinais de que o empreendedorismo estava em seu destino. Aos 18 anos, sua primeira experiência profissional foi em uma loja de R$ 1,99, no Natal. Depois vieram outras lojas, até que, em sua terceira experiência, ela se destacou e foi promovida à gerente em apenas seis meses.

“Fazia pulseirinhas de miçanga e vendia pros vizinhos. Sempre gostei de lidar com gente, com o público”, conta.

Maternidade e desafios

Em 2014, a vida de Aline se transformou com o nascimento do filho, Theodoro, diagnosticado com alergia alimentar severa. Gerente da loja, ela abriu mão da sua carreira para cuidar exclusivamente do filho. A oportunidade de uma renda extra veio em 2017, quando foi convidada para fazer trabalhos como modelo em uma agência.

“Meu esposo, na época, mantinha toda a despesa da casa. Até que ele foi demitido. O desespero bateu, pois como iríamos criar nosso filho e sustentar a casa? O trabalho de modelo não era de renda fixa”, lembra Aline. “Porém, Deus já tinha um propósito diferente para a vida da família”, completa.

Nascimento do Doce Menino

Foi com o restante do dinheiro que sobrou da última parcela do seguro-desemprego de Daniel que Aline convenceu o marido a investir nos primeiros ingredientes do que viria a ser o seu empreendimento.

A ideia dos sacolés gourmet veio de um amigo da família, Matheus, a quem Aline guarda com carinho até hoje.

“Ele disse: ‘Aí na Posse é quente, por que você não tenta vender sacolé?’ Nunca fui de cozinhar, mas aquilo ficou na minha cabeça. Compramos os materiais necessários, oramos a Deus e começamos a produzir nossa primeira remessa de sacolé gourmet. Não tínhamos uma identidade visual — nosso primeiro adesivo era ‘Oba Sacolé’. Aquilo me incomodava. Eu falei: ‘Precisamos de um nome’. Foi vendo meu filho, que na época tinha dois anos, brincando, que veio a ideia de ‘Doce Menino’, uma homenagem ao Theodoro, pois foi por ele que tudo começou. A primeira remessa foi toda vendida no bairro. Ficamos tão felizes”, conta Aline, emocionada.

Foto: arquivo pessoal

Bike dos sonhos

O que começou com um sonho virou o ponto de partida para um grande projeto de vida. Aline sonhou com uma bicicleta de carga e, mesmo sem condições financeiras, não desistiu.

“Eu já via cada detalhe dela no meu sonho. Insisti tanto que meu esposo foi atrás e encontrou uma, toda enferrujada, que trocamos pela nossa bicicleta e mais R$ 100. Quando vi, tive certeza: era ela”, lembra.

A família achou loucura, mas a bicicleta foi sendo reformada aos poucos, até ficar do jeitinho que Aline havia sonhado. Em outubro de 2018, ela teve sua primeira oportunidade de expor a bike, vendendo sacolés em uma festa de 15 anos. A virada veio em 2019, após um contato com um produtor de eventos no Castelo de Itaipava.

“Levei os sacolés. Meses depois, fomos convidados a participar de um evento no castelo. Não tínhamos dinheiro. Pegamos tudo emprestado — até o freezer”, conta.

No dia do evento, o cenário era de food trucks sofisticados, e a simplicidade da bicicleta chamou atenção.

“Vendemos só 10 sacolés no primeiro dia e voltamos para casa chorando, sem saber como pagar as dívidas. No caminho, achamos até a placa da bike, que havia se perdido na estrada. No segundo dia, vendemos tudo. Foi a confirmação de que estávamos no caminho certo. Vieram mais convites, e a bicicleta virou símbolo de superação, fé e credibilidade para nós”.

Foto: arquivo pessoal

Reinvenção na pandemia

Com a chegada da pandemia e o inverno de 2020, os sacolés perderam força. Sem experiência na cozinha, Aline começou a produzir bolos de pote. Com o tempo, o cardápio cresceu: bolos caseiros, doces gourmet, brownies, cupcakes, pirulitos de chocolate e o primeiro bolo decorado.

“Muita massa solada, muito prejuízo. Até que uma amiga, a Carol, compartilhou a receita dela. Me emociono até hoje. É sobre generosidade. Eu nunca tinha feito, mas ela insistia. Meu marido fez minha primeira bailarina com tampa de panela e carretel de linha. Tenho até hoje. É meu troféu”.

Foto: arquivo pessoal

De volta às ruas

De 2019 a 2024, Aline manteve as encomendas e, com Daniel trabalhando fora, as vendas nas ruas ficaram suspensas. Mas, em um dos momentos de oração, veio mais uma revelação: ela deveria ir com ele para as ruas. “Deus falou comigo: vocês dois juntos. Criamos o ‘DM nas Ruas’. Nossos vídeos mostravam a realidade de empreender com fé.”

Com a demissão de Daniel em 2024, o medo voltou. Mas Aline teve outra visão: a bike circulando com os dois. “Colocamos freios nela e fomos. Ele pedala, eu fico atrás. A recepção nas ruas é incrível. A buzina virou aplauso”.

Foto: arquivo pessoal

Referência em sabor e história

Atualmente, o Doce Menino trabalha com uma variedade de produtos, sendo os sacolés gourmet e os bolos decorados em chantininho suas especialidades. O atendimento é feito por encomenda e também nas ruas: às terças e quintas, na Posse; quartas e sextas, em Areal. Contatos podem ser feitos pelo WhatsApp: (24) 98818-0147 e Instagram: @docemenino_confeitaria.

Foto: arquivo pessoal

Reconhecimento e gratidão

Desde 2022, Aline e Daniel recebem destaques e homenagens — moções de aplauso nas câmaras municipais de Petrópolis e Areal —, além do carinho incondicional dos clientes.

“Cada entrega é única. Criamos laços com cada cliente. O Doce Menino não é só sobre doces. É sobre amor, superação e fé”.

Aline quer, no futuro, ensinar outras mulheres a empreender: ministrar cursos sobre vendas de rua e confeitaria.

“Entendi que o propósito do Doce Menino vai muito além da cozinha. É levar inspiração. Mostrar que é possível começar do zero. Que a fé, aliada à persistência e dedicação, gera resultados que nem sonhávamos. O medo não pode nos paralisar”.

Foto: arquivo pessoal

Veja também:

Continue Reading

Você também vai gostar

Subir