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Conheça a historiadora que está por trás da área de pesquisa do Museu Imperial, em Petrópolis

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Conheça a historiadora que está por trás da área de pesquisa do Museu Imperial, em Petrópolis

[Dia do Historiador] Alessandra Fraguas é corresponsável pela Área de Pesquisa e editora do Anuário do Palácio e coorganizadora do livro “D. Pedro II e Portugal: memória, representações e sociabilidades”

Nesta segunda-feira, 19 de agosto, é celebrado o Dia do Historiador. A data ressalta a valorização e o reconhecimento do trabalho dos profissionais que se dedicam ao estudo e à pesquisa da história, contribuindo para a preservação e a divulgação do conhecimento sobre o passado.

Figura importante na preservação do Museu Imperial, que permite pesquisa e o conhecimento sobre a história do Brasil, conheça Alessandra Bettencourt Figueiredo Fraguas, corresponsável pela Área de Pesquisa do Palácio e editora do Anuário do Museu Imperial – nova fase.

Fotos: arquivo pessoal – reprodução Instagram @missgiulialaura

Formação

Alessandra Fraguas é doutoranda e mestre em História Política pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Com uma carreira que abrange mais de 16 anos, Alessandra começou sua jornada como historiadora em 2008, após se formar em História pela Universidade Católica de Petrópolis (UCP) e em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Desde então, ela dedica sua vida profissional ao Museu Imperial, onde atualmente é corresponsável pela Área de Pesquisa e editora do Anuário do Museu Imperial – nova fase. Além disso, ela é coorganizadora do livro “D. Pedro II e Portugal: memória, representações e sociabilidades” (2023) e associada titular do Instituto Histórico de Petrópolis (IHP).

Despertar da paixão pela história

O interesse de Alessandra pela história foi despertado em 1989, durante as primeiras eleições presidenciais pós ditadura no Brasil. Envolvida nas mobilizações políticas daquele período, Alessandra buscava entender os complexos processos sociopolíticos em curso. 

“Minha reflexão crítica começou a se desenvolver alguns anos antes, em 1986, com a leitura do livro ‘Feliz Ano Velho’, de Marcelo Rubens Paiva, que abordava a história recente do Brasil sob uma perspectiva pessoal e contundente”, conta.

Missão do historiador

Do ponto de vista acadêmico, Alessandra diz que cabe aos historiadores, enquanto cientistas sociais, problematizar as questões relativas à memória. 

“A preservação da memória é um esforço coletivo, partindo de múltiplos sujeitos sociais, muitas vezes, com objetivos diversificados. Importante dizer que a Memória tem a ver com lembrar e comemorar, no sentido de lembrar juntos para perpetuar laços, sociabilidades e, em alguns casos, privilégios. Porém, esse exercício de memória também tem a faceta do esquecimento, de selecionar o que merece ser lembrado e de silenciar tantas outras narrativas possíveis. O papel do historiador é indagar, desconfiar, problematizar, compreender e, muitas vezes, denunciar a relação de forças que existe nos atos de ‘lembrar’ e o ‘esquecer’”, explica.

Foto: arquivo pessoal

Além disso, Alessandra detalha a atuação técnica do profissional nas instituições de memória, como os museus ou em órgãos responsáveis pela preservação do patrimônio. 

“A sua formação técnica o capacita para elaborar, executar e assessorar projetos de preservação do patrimônio cultural”.

Por onde começa o trabalho de um historiador?

Alessandra explica que o trabalho do historiador começa por um problema e que toda pesquisa visa responder uma indagação e uma problematização.

“Existe um objeto, um tema, mas o que diferencia o trabalho do historiador daquele desenvolvido por outros profissionais, como jornalistas e escritores, por exemplo, é a problematização. Existe uma questão mobilizadora da pesquisa, a qual será respondida a partir de um referencial teórico e de uma metodologia. É esse arcabouço teórico metodológico que viabilizará a leitura das fontes, a partir do viés da historiografia”.

Projetos de destaque

Entre os muitos projetos que já desenvolveu, Alessandra destaca o dossiê de candidatura dos “Documentos relativos às viagens de D. Pedro II pelo Brasil e pelo Mundo” ao Programa Memória do Mundo da UNESCO. 

“Esse acervo foi reconhecido como Memória do Mundo Internacional em 2013, um marco importante que impulsionou sua carreira acadêmica”.

Foto: arquivo pessoal

Especialização

Sua especialização em História Política, com foco nas dinâmicas de poder e conservadorismo no Brasil do século XIX, reflete seu interesse em entender as lógicas das elites e o conservadorismo político no país. 

“Atualmente, me dedico a compreender as fissuras intraelites imperiais do Brasil no século XIX, utilizando como principal fonte de pesquisa o arquivo privado de D. Pedro II”.

Desafios e novas tecnologias na pesquisa histórica

Alessandra reconhece as dificuldades que os historiadores enfrentam, como o acesso a arquivos, a conservação de documentos, e a necessidade de habilidades específicas, como a paleografia – forma antiga de escrita. No entanto, ela também celebra o impacto das novas tecnologias na pesquisa histórica, que ampliaram o acesso a documentos e permitiram a difusão mais ampla do conhecimento. Ela destaca, porém, o desafio da obsolescência dos documentos digitais, questionando como os historiadores do futuro acessarão informações geradas em plataformas digitais como e-mails e mensagens instantâneas.

Foto: arquivo pessoal

A digitalização dos documentos e de livros e a disponibilização em plataformas de diversas instituições no Brasil e no mundo abriram um “universo” para pesquisas que, anteriormente, seriam inviabilizadas ou demandariam altos custos, com viagens e estadias. A possibilidade de difusão dos textos acadêmicos, do compartilhamento dos resultados das pesquisas, teses, artigos e livros, a partir de periódicos online, ampliaram muito o acesso à produção do conhecimento em geral, e ao conhecimento historiográfico, em particular. Se não escrevemos mais em suporte papel, por exemplo, se enviamos e-mails ou mensagens de WhatsApp, ao invés de cartas, como os historiadores do futuro poderão acessar essas informações?”, questiona.

Desmistificando a história

Alessandra não acredita que a história se repete, mas entende que estruturas sociais persistentes moldam o espaço social ao longo do tempo. Ela argumenta que questões como o patriarcalismo, o conservadorismo e o racismo no Brasil são estruturas que, embora latentes, emergem com força em determinados contextos históricos.

“Existem estruturas que moldam o mundo social – o espaço social. Essas estruturas permanecem na longa duração, muitas vezes, por séculos. A depender da conjuntura, do estado das relações de força entre dominantes e dominados, em um determinado contexto, essas estruturas podem se mostrar mais brandas ou mais agudas”. 

Alessandra exemplifica os elementos da estrutura social brasileira, como o patriarcalismo, o conservadorismo e o racismo, que, em determinadas conjunturas, se mostram mais agudos do que em outras.

“Sempre estiveram ali, embora, às vezes, latentes. O recrudescimento dessas questões não resolvidas causa a falsa impressão de que a história se repete. Penso que a história não se repete. Simplesmente, o processo histórico é que é estruturalmente, ainda, o mesmo. Às vezes, mudam os sujeitos, os contextos, mas não a estrutura. Nesse sentido,  vejo o trabalho do historiador como uma ferramenta poderosa para entender e, possivelmente, transformar a sociedade”, finaliza Alessandra Fraguas.

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