Conheça a gari e escritora de Petrópolis que é sucesso internacionalmente
[Dia do Gari]: Angelica Paes já recebeu prêmios na Suíça e Estados Unidos pelas suas obras
Nesta quinta-feira, 16 de maio, é comemorado o Dia do Gari. Em Petrópolis, por trás do uniforme verde da Comdep, cada um destes trabalhadores reserva uma história. Assim é o caso da funcionária Angelica Paes que representa a classe dos garis e ainda é uma escritora premiada internacionalmente.
Fotos: Arquivo Pessoal
Portadora de dislexia e transtorno do deficit de atenção e hiperatividade (TDAH), Angelica aprendeu a ler somente com 9 anos. Desde então não parou mais e passou a sonhar em ser escritora. Começou, então, a escrever poesias e recitá-las para seus amigos e familiares.
Dificuldades
“Nessa época, uma professora me disse que eu não poderia ser nada na vida, me chamava de retardada porque eu escrevia errado. E eu viu isso como um desafio a ser cumprido. Eu falava que iria conseguir. Apesar das dificuldades, graças a Deus tive uma mãe, família e amigos maravilhosos que me ajudaram a me tornar o que eu queria ser”, conta.
Mesmo mais tarde, as dificuldades não pararam. Para ajudar nas contas de casa, Angelica começou a vender bombons e sempre comentava com os clientes que tinha o sonho de ser uma escritora reconhecida internacionalmente. Mas não era levada a sério.
“As pessoas sempre riam, falavam ‘você não sabe nem falar direito, vai ser escritora?’. Mas eu continuei me esforçando. Não foi fácil, chorei muito com cada palavra negativa, mas hoje me tornei espelho para muitas mulheres e quero ser inspiração para que ninguém desista dos seus sonhos”, declara.
Fotos: Arquivo Pessoal
Primeiro lançamento
Quando se casou e veio de Nova Friburgo para Petrópolis, conseguiu lançar seu primeiro livro. “Demorou 25 anos para isso. Participei de um concurso de poesia da Editora Vivara e consegui publicá-lo. Lancei minha obra de estreia, ‘O dia a dia em forma de poesia’ na Bienal de São Paulo no dia 8 de agosto de 2018”.
Formação
Além de escritora, Angelica é atriz com DRT, estudou enfermagem e se formou no curso normal do ISERJ, atuando como professora. A carioca chegou a passar em 8° lugar para pedagogia na UFF, mas não seguiu, pois se encontrou na área de marketing e comunicação, curso que irá se formar neste ano pelo IBMR. “Amo a parte de audiovisual e cultura. Meu sonho é fazer uma pós em jornalismo”.
Sua mãe atuava como doméstica e, com muito esforço, pagava todos os estudos da filha. Angelica tem nela sua maior inspiração. “Sempre a vi limpando as casas e falava que ia trabalhar com isso também. Via como uma profissão comum. Queria mostrar que mesmo com todo meu currículo e estudo, eu também posso ser uma auxiliar de serviços gerais. É um trabalho digno. Posso ser o que eu quiser”
Foto: Arquivo Pessoal
Atuação na Comdep
Há cerca de um ano, Angelica e seu marido prestaram o concurso para trabalhar na área de serviços gerais na Comdep. Atualmente, ela está no setor de coleta seletiva, onde faz palestras nas escolas, atua na parte do marketing e organiza a documentação fotográfica.
“Gosto muito de trabalhar na Comdep, ainda mais porque consigo ter essa flexibilidade de também focar na minha escrita. Todas as profissões são valorosas, nenhuma é melhor que a outra. Muitas pessoas esnobam os garis, mas também temos muito potencial”, pontua.
Fotos: Arquivo Pessoal
Premiações
Em março de 2023, Angelica foi homenageada no Salão de Genebra, na Suíça, onde recebeu o Prêmio Talentos Helvéticos Brasileiros, que homenageia os autores que mais se destacaram em suas cidades no Brasil e na Suíça.
“Fiquei muito surpresa, nunca tinha ido para fora do país. Aí lembrei que quando eu vendia bombons sempre falei q seria reconhecida internacionalmente e chorei. Vi tudo o que eu sonhei acontecendo. Viajei para a Suíça e autografei meus livros lá. Aquela menina que não seria nada, que socavam a cabeça dela pra prestar atenção, que cometiam racismo contra ela, que é disléxica e tem TDAH, foi ali, receber um prêmio na Suíça pelo seu trabalho. Foi muito gratificante”, relata.
Fotos: Arquivo Pessoal
Neste ano, Angelica também representou Petrópolis em uma premiação em Boston e foi convidada para ser condecorada e homenageada no consulado em Buenos Aires, em agosto.
Futuramente, a escritora sonha em montar uma biblioteca comunitária na cidade, visando a diversidade e igualdade. Ainda neste ano, Angelica planeja lançar seu novo livro “A magia dos sonhos” na Bienal de São Paulo.
O poder de um sonho
A escritora ressalta que é muito importante sonhar e acreditar, independente do que qualquer pessoa possa dizer. “Não precisamos ficar limitados a uma coisa só. Eu hoje sei que minha vida move outras vidas. Sou uma inspiração para outras mulheres. Quero sempre levar a elas que nada pode bloquear o sonho delas, seja negra, seja gari, seja periférica, seja o que for, basta acreditar e nunca desistir”, finaliza.
Fotos: Arquivo Pessoal
Os livros de Angelica Paes podem ser encontrados na Amazon e na Nobel Petrópolis. Seu trabalho pode ser acompanhado em @escritoraangeloficial.