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Petrópolis teve 78 casos de estupro contra crianças e adolescentes em 2022; campanha busca conscientizar sobre o tema

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Petrópolis teve 78 casos de estupro contra crianças e adolescentes em 2022; campanha busca conscientizar sobre o tema

Dados são do Instituto de Segurança Pública (ISP). Maio Laranja chama a atenção para o combate ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes

Dados do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro (ISP-RJ) revelam uma situação preocupante em Petrópolis: 78 crianças e adolescentes foram estupradas na cidade em 2022. O número corresponde a 75% dos casos registrados no município durante todo o ano. Ou seja, mais da metade dos estupros ocorridos em Petrópolis no ano passado foram contra menores de 18 anos.

Neste mês, a campanha Maio Laranja chama a atenção para o tema, propondo o combate ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes em todo o Brasil.

Foto: Divulgação

Segundo o ISP, entre as vítimas, 72 eram meninas e 6 meninos e 40 têm menos de 11 anos. O órgão revela ainda que, em 23% dos casos, o abusador era pai, padrasto, mãe ou madrasta e, em 19% dos casos, a vítima foi abusada por outro parente.

A nível estadual, o ISP mostra que foram registrados 4.081 casos de abuso sexual com crianças e adolescentes em 2022 – uma média de mais de 11 estupros por dia no Rio de Janeiro.

Em todo o Brasil, os dados são ainda mais assustadores. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, que teve a última atualização em 2021, foram registrados, naquele ano, uma média de 130 estupros por dia contra crianças e adolescentes.

Maioria dos crimes acontece dentro de casa

Professora do curso de Psicologia da Estácio e psicóloga do Departamento Geral de Ações Socioeducativas (DEGASE), Izabela Saraiva destaca que, na maioria dos casos, as violências sexuais acontecem dentro do ambiente familiar ou doméstico da população infanto-juvenil.

Ou seja, muitas vezes a violência e o abuso estão atreladas às relações afetivas e pessoais dessas crianças e adolescentes, nos espaços que deveriam ser locais de segurança e cuidado.

Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil

“Todos devem estar atentos a sinais de mudanças no comportamento ou humor, que podem ser indícios de situações de violência. Ao mesmo tempo, cotidianamente, devemos combater os discursos que produzam a sexualização da infância e da adolescência, nos responsabilizando para não dispersar ou reproduzir falas e ações que coloquem esse público como objeto de intervenção, pois crianças e adolescentes são sujeitos de direitos e devem ter as necessidades de cada fase do desenvolvimento respeitadas, integralmente”, afirma a profissional.

Importância do acolhimento

Após a identificação da violência, é essencial a denúncia e a busca pelo acolhimento da vítima. A professora da Estácio observa que, do ponto de vista psicológico, o acolhimento profissional possibilita a reflexão da vítima, a fim de evitar traumas ou minimizar danos consequentes da violência sofrida.

“Abusos ou explorações sexuais podem gerar um sujeito permeado pelo medo, pela vergonha, pela ansiedade ou que irá apresentar mais tarde quadros de depressão ou dificuldades em suas relações sociais, sendo impossível mapearmos os desdobramentos da violência se não houver algum tipo de ajuda psicológica para essas vítimas. O combate à violência, ao abuso e à exploração sexual depende de todos nós, bem como o respeito e o acolhimento às nossas crianças e adolescentes”, aponta Izabela.

Foto: Divulgação

Como combater

Izabela destaca que é importante apoiar a educação sexual nas escolas e em espaços coletivos, assim como possibilitar uma criação atravessada pelo diálogo com esse público para que crianças e adolescentes se desenvolvam de maneira saudável e para que percebam sua rede de apoio integral.

Como denunciar

O Governo Federal dispõe de um telefone, o Disque 100, para denúncias anônimas de qualquer violação de direitos, incluindo situações que envolvam violência sexual contra crianças e adolescentes.

Além disso, as denúncias podem ser feitas aos órgãos policiais, como o 190 da Polícia Militar, e o 197 da Polícia Civil, e aos Conselhos Tutelares em cada município, que devem apurar e, quando confirmadas, encaminhá-las ao Ministério Público.

Sobre o Maio Laranja

Um caso bárbaro ocorrido na década de 1970 motivou a instituição do 18 de maio como o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, uma data importante, criada em 2000, para a mobilização social em torno de um tema sensível e urgente.

Naquela fatídica data em 1973, uma menina de 8 anos foi sequestrada, violentada e morta por jovens de classe média em Vitória (ES), crime que permanece impune.

Em 2022, uma nova lei federal ampliou a simbologia da data, instituindo o “Maio Laranja”, que durante todo o mês realiza ações efetivas de conscientização e combate ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes.

Casa da Esperança

Outra lei, essa estadual e autorizativa, autoriza os municípios do Rio de Janeiro a construírem e manterem uma Casa da Esperança, espaço que protege crianças vítimas de estupro e qualifica as mães para tirarem suas famílias das mãos dos abusadores.

O projeto foi fruto de uma marcha contra a pedofilia, que levou 5 mil pessoas às ruas de Petrópolis em novembro de 2017, após o caso de Melissa, menina de quatro anos que foi estuprada e assassinada no bairro Sargento Boening.

Criador da marcha, Washington Souza explica que, na época, muitas pessoas perguntavam como denunciar e, além disso, para onde levar essas vítimas.

“Descobri que não havia nenhum local específico e, junto a um amigo deputado estadual, criamos essa lei. Acontece que, desde então, nenhuma casa foi de fato construída. Os prefeitos e vereadores a quem questionei alegam não haver recursos e, pasme, isto não seria uma prioridade para os municípios. Com isso, entendi que a prevenção e combate à pedofilia tem menor importância do que a construção de mais uma pracinha em bairros, porque isso gera votos”, diz.

Foto: Divulgação

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