Conheça o Joel, único engraxate remanescente do Centro de Petrópolis
Dia do Engraxate: uma profissão realizada por poucos, mas com muito carinho por quem a preserva
Reminiscência de um costume antigo, a atividade do engraxate é raramente vista em meio à configuração do mundo contemporâneo. Para muitos rito de passagem, é no Terminal do Centro que Joel Izidro do Nascimento, de 59 anos, convida o público a um momento de pausa. Seja para ter o calçado engraxado ou então para admirar o encontro do passado e presente, é ele o único engraxate que preserva a tradição com uma cadeira em Petrópolis.
Patrimônio histórico, como ele mesmo brinca, Joel aprendeu o ofício aos 12 anos. Naquela época, seu irmão trabalhava na bilheteria da rodoviária e, sabendo que o proprietário da cadeira precisava de um ajudante, o indicou. O período de auxiliar do Sr. Silvio Caetano durou cerca de um ano, de 1977 a 1978. Tempos mais tarde, quando atingiu a maioridade, Joel foi convidado a adquirir a cadeira na qual aprendeu a profissão e fez dela seu ponto.
Foto: Ronan Rampini
“Eu gosto muito de trabalhar como engraxate porque a gente cultiva boas amizades. Tem clientes que são amigos de tanto tempo que nos conhecemos”. Desde 1983 no mesmo local, Joel já viu e viveu muito. Entre as principais transformações sociais e culturais testemunhadas ao longo das décadas, ele destaca um dos vários costumes que caíram em desuso – o cuidado tido pela juventude em engraxar sapatos antes dos bailes.
“No fim de semana existiam muitos bailes e clubes na cidade. Os jovens faziam questão de ir e tinha que ser com o sapato bonitinho. Não existe mais aquele capricho de antigamente”. Em épocas assim, o petropolitano explica que prolongava sua carga horária para atender à demanda que, às vezes, o mantinha trabalhando na cadeira das sete da manhã às dez da noite, sendo após às seis o horário de movimento mais intenso.
Foto: Arquivo pessoal/Joel
Em um período em que a cidade apresentava outra configuração, Joel explica que existiam cadeiras de engraxates também no Edifício Cinda e na subida da Rua Teresa – esta última há bastante tempo. “Com o passar dos anos, os outros fecharam e fiquei só eu”. Atividade abastecida pela circulação das pessoas, o profissional explica que, com o passar dos anos, precisou adotar uma nova configuração, ditada pelas novas circunstâncias.
A primeira delas foi a transferência da rodoviária para o Bingen, o que afastou dele clientes que residiam no Rio e que, quando vinham a Petrópolis, traziam seus pares de sapato para engraxar; a segunda, por sua vez, foi a pandemia. “Alguns clientes do Rio sentavam na cadeira durante a manhã inteira. Tinha um deles que sempre trazia uma bolsa com uns 20 pares”.
Hoje com o tempo dividido entre a atividade de engraxate e a produção de cestas de café da manhã, durante a semana Joel atende, principalmente, clientes de longa data com hora marcada ou então realiza a coleta dos calçados solicitados nas casas dos fregueses. Os sábados e domingos, contudo, continuam a ser dedicados à atividade que sente tanto prazer em realizar e que, inclusive, já chegou a compartilhar com o filho.
“Antigamente, era comum que algumas empresas nos chamassem para engraxar os sapatos dos funcionários em datas comemorativas. Numa dessas ocasiões, meu filho levou a cadeira para a Cervejaria Itaipava e lá recebeu o convite para ficar dentro da empresa”. Concluído o curso de cervejeiro, ele passou a trabalhar na área e, dentre as cidades em que já atuou, estão São Paulo, Rio Branco, no Acre, e Ipatinga, em Minas.
Motivo de orgulho, o ofício do engraxate é, para Joel, fonte de alegria e satisfação. Técnico em Turismo pelo Ministério de Turismo, a melhor forma de passear pela história, para o profissional, é pelos sapatos de cada um. Aqueles que desejarem ser atendidos por Joel podem o fazer tanto aos fins de semana, ou então entrando em contato pelo telefone (24) 98823-2902.