Baixa qualidade da internet afasta mão de obra e prejudica desenvolvimento em Petrópolis
Para especialistas, falta de investimentos na área pode gerar perdas de emprego e, consequentemente, prejuízos com relação à injeção de capital na economia local
A precariedade do serviço de internet oferecido em Petrópolis fica cada dia mais evidente com uma série de reclamações sobre as operadoras que prestam o serviço na cidade: internet lenta e quedas constantes estão entre alguns dos pontos citados por quem precisa da banda larga para o dia a dia.
Foto: Divulgação Serratec
Só no Procon, são registradas cerca de 15 reclamações por dia por conta dos maus serviços de internet na cidade. E este ponto pode ser classificado como uma grande barreira para o município que abriga o Polo Tecnológico – Serratec – e o Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), onde funciona o supercomputador.
A baixa qualidade da internet representa um entrave para o desenvolvimento da cidade, além de afastar a mão de obra qualificada.
“Me arrisco a afirmar que sem internet de qualidade não há desenvolvimento. O avanço do modelo de trabalho remoto é um exemplo. Petrópolis exporta capital intelectual e mão de obra qualificada para diversos lugares do Brasil e do mundo. As pessoas conseguem (ou deveriam conseguir) trabalhar de suas próprias casas através internet”, diz Gustavo Braz, diretor de operações da Orange, uma das empresas de tecnologia situadas no Serratec.
Gustavo explica ainda que é preciso ter estabilidade tecnológica, considerada como um dos fatores associados a estabilidade emocional para quem precisa da internet para trabalhar. “Ter uma internet instável e que não propicia a realização de uma tarefa ou entrega de um projeto causa estresse e faz com que a pessoa precise lidar com situações adversas que seriam evitadas com uma internet de qualidade”, explica o diretor de operações.
Entre os prejuízos que isso pode provocar para a cidade como um todo, Gustavo afirma que uma infraestrutura de baixa qualidade pode pesar, por exemplo, na decisão de uma empresa que está disposta a trazer sua operação para a cidade ou até mesmo fazer com que empresas que já estão instaladas em Petrópolis tomem a decisão de sair. “Dessa forma perdemos em geração de empregos e, consequentemente, injeção de capital na economia local”, afirma.
Perda de mão de obra
Foi a dificuldade em conseguir uma internet de qualidade que fez o designer industrial, Jonathan Robin, sair de Petrópolis para buscar outra cidade para morar e trabalhar. Ele conta que, em 2016, antes da pandemia, tentou conciliar o emprego morando com os pais no Vale dos Esquilos, mas a banda larga não atendeu o que precisava para o trabalho que já era remoto naquela época.
Foto: Arquivo Pessoal
“Foi minha primeira experiência em home office, trabalhando diretamente com uma empresa Suíça. E não conseguia qualidade de internet na cidade. A velocidade era abaixo do que precisava porque trabalho com arquivos muito grandes. Sem contar as quedas constantes que ora era por conta da chuva ora por queda de árvore ou ainda pelos caminhões que arrancavam os fios. E aí eu ficava dias sem internet. Petrópolis é uma cidade muito mal conectada”, destaca.
Para Jonathan, que agora mora em Londres, o município precisa estar atento a essas questões, ainda mais com o avanço do trabalho remoto provocado pela pandemia.
Serviço essencial
Sócio da Neki, uma das empresas situadas no Serratec, Marcelo Collares lembra que grande parte dos sistemas são fornecidos através da grande rede, desde uma simples rede social até grandes integrações e sistemas bancário.
“Grandes transformações aconteceram nos últimos anos, aulas online, pessoas trabalhando em home office, empresas que encerraram as atividades físicas e focaram nas vendas online ou somente mesclaram as duas. A internet a muito tempo deixou de ser um serviço opcional, principalmente para empresas que querem se manter funcionais e competitivas”, ressalta Marcelo.
Para ele, uma internet de ponta não é somente um serviço essencial, mas proporciona uma experiência diferenciada, qualidade e confiabilidade tanto no consumo quanto na entrega dos serviços, mais ainda pelo fato de que Petrópolis vem crescendo de forma expressiva e se tornando cada vez mais referência como polo tecnológico.
“Para atender a toda essa nova demanda de serviços, e dar competitividade às empresas de tecnologia na nossa cidade, é essencial uma internet de qualidade”, reforça.
Esperança no 5G
Com relação às ações para ampliar a conectividade, o Departamento de Tecnologia da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico de Petrópolis disse que a cidade já está qualificada para receber a tecnologia 5G e acredita que, com essa nova modalidade de telefonia, a cobertura do serviço seja ampliada, melhorando a qualidade do serviço prestado.
O município informou também que acompanha a implementação das redes de telefonia móvel e internet das operadoras nacionais e suas ampliações para atendimento na cidade e afirmou que atua pontualmente quando recebe demandas relacionadas aos sistemas de comunicação.