SOSerra: conheça quem está por trás do projeto que tem angariado ajuda para Petrópolis no Brasil e fora dele
Nos 11 dias que sucederam a tragédia, a associação contou com o apoio de 500 voluntários
A ideia de que “quem caminha sozinho chega mais rápido, mas de que a união faz chegar mais longe” nunca fez tanto sentido quanto no cenário da tragédia em Petrópolis. Em pouco tempo, os petropolitanos provaram que quando estão juntos rumo a um mesmo propósito são capazes de fazer a diferença nas vidas de centenas. Reflexo disso foi a proporção tomada pelo SOSerra: associação que tem angariado ajuda para Petrópolis no Brasil e fora dele.
Fotos: Arquivo/Sou Petrópolis
Diferente do que alguns possam imaginar, o projeto é anterior aos recentes eventos na cidade. Nascido em meio à pandemia, o SOSerra surgiu por iniciativa da designer petropolitana Gisela Simas no começo de 2021. Sensibilizada pela crise econômica agravada pela Covid-19, ela criou alternativas para levar ajuda a bairros de vulnerabilidade social na cidade. Nascido de recursos próprios e de familiares e amigos, Gisela viu a ideia crescer e render frutos.
Responsável, em suas quatro primeiras semanas, por ajudar mais de 1.100 petropolitanos, o SOSerra se tornou uma associação em agosto passado e, desde o embrião da ideia, tem amparado famílias locais, seja através da distribuição de mantimentos ou então pelo incentivo à educação a partir da obtenção de bolsas em escolas privadas para alunos da rede pública. Em 15 de fevereiro deste ano, contudo, a cidade se transformou e o projeto também.
“As 22h55 de terça-feira tínhamos 50 mil reais depositados, às 23h33 eram mais de 100 mil reais e, menos de vinte e quatro horas depois, passamos de 1,5 milhão de reais. Isso com depósitos de 50 centavos, 5 reais, 100 reais…”, conta Gisela. Frente a uma corrente do bem, o SOSerra, que em 2021 se concretizou graças ao apoio de familiares, amigos e voluntários, testemunhou, mais uma vez, a força e o poder da união rumo a um mesmo objetivo: o de ajudar.
Fotos: Arquivo/Sou Petrópolis
“Em nosso curto período de existência, aprendemos que o ser humano é mais altruísta que egoísta, que empatia muda tudo e que só seremos capazes de construir um novo país com ações que foquem no coletivo”, afirma a idealizadora do SOSerra. Ainda na noite da tragédia, voluntários do projeto distribuíram doações que estavam em estoque e, na manhã seguinte, providenciaram a entrega de equipamentos para auxiliar nas buscas por sobreviventes.
Descrito como um dos projetos mais transparentes, organizados e prontamente atuantes na tragédia em Petrópolis, o SOSerra contou com o apoio de 500 voluntários nos 11 dias que sucederam a tragédia. Com um galpão próprio no Bingen para facilitar na triagem e distribuição dos donativos, a associação tem funcionado dia e noite em prol dos desamparados e das vítimas dos deslizamentos.
Motivado a proporcionar mudanças nas vidas dos sobreviventes, seja a partir de agasalhos, alimentos ou então no auxílio à reconstrução, o SOSerra, sobretudo nas últimas duas semanas, se tornou a consolidação da motivação conjunta em fazer a diferença. Luiz Eduardo Xavier, tem 24 anos, mora no Rio e foi convocado pela empresa em que trabalha – a mesma com que contribuía uma das vítimas dos deslizamentos – a amparar Petrópolis no período.
Foto: Divulgação
Coordenador de uma ONG, Luiz tem formação em Psicologia e, dentro da SOSerra, passou a somar com a associação a partir de sua bagagem como voluntário em outros projetos. Dotado de um olhar sensível e preocupado em gerar a sensação de acolhimento às vítimas, ele se empenha em implementar estratégias que humanizem o tratamento às famílias, como fez no departamento de roupas.
“Fizemos uma espécie de lojinha para as pessoas escolherem. Nós não queríamos que ficasse tudo largado. Os voluntários são muito motivados a ajudar e fazer algo pela comunidade. A gente tem esse pensamento de que as pessoas precisam de suporte emocional e nós pensamos em como as pessoas iriam querer ser recebidas para levar as doações. Nós temos uma sinergia muito grande e isso contribui muito para o trabalho”, expressa Luiz.
Foto: Divulgação
Engrenagens da mudança
Como o carioca, quem também tem atuado como voluntária desde a tragédia é a petropolitana Lucena de Sá Lopes Ferreira. Ensinada pelos pais a “ajudar, se colocar no lugar do próximo e colocar Deus na frente de todos os objetivos e propósitos”, Lucena descreve a união como a principal força que sustenta a dinâmica do grupo. “Maravilhosa”, a satisfação em auxiliar o próximo foi o que deu ânimo aos voluntários nos momentos mais difíceis.
Fotos: Arquivo/Sou Petrópolis
“Os voluntários abraçaram a causa e se dedicaram de forma exemplar, e isso passou muita seriedade a todos: para quem ia doar ou então buscar alguma doação. Estávamos todos com o mesmo propósito de ajudar, mesmo alguns estando tristes porque, de forma geral, todos perdemos um amigo ou conhecíamos alguém que havia perdido a casa. Mas o objetivo era o mesmo. Turma muito boa”, aponta Lucena.
Engrenagens da mudança, muitos voluntários tiveram no SOSerra a oportunidade de fazer o bem e de testemunhar as longas distâncias percorridas por quem tem empatia pelo próximo. “A gente recebe doação de todo o Brasil. Alguns chegam de surpresa e outros entram em contato. Já recebemos vários caminhões de Minas Gerais. Também vem muita coisa do Rio, de Juiz de Fora, de Niterói”, aponta a voluntária e co-coordenadora Eliza Kromemberger.
Fotos: Arquivo/Sou Petrópolis
Moradora do Bingen, Eliza, de 27 anos, encontrou na associação um local próximo de onde reside para multiplicar a ajuda a quem precisa. Como ela, Ana Carolina Baltasar Silva Einsfeld, de 16 anos, também obteve no SOSerra um refúgio em que se amparar frente a um momento tão delicado. Voluntária mais jovem da equipe, Carol teve o negócio da família, situado na Washington Luís, destruído, além de perdas em sua turma da escola.
Tão bem recebida pela equipe que, com o tempo, “acabou ficando”, Carol fala sobre a experiência de trabalhar rodeada por um time tão acolhedor em que um dá ânimo e incentivo ao outro. “Minha família perdeu a loja. A água chegou ao segundo andar. Muito amigo meu morreu. Os bens a gente tem a oportunidade de reconstruir, mas as pessoas não. Eu sabia que outras precisavam mais e vim ajudar”, aponta.
Estudante do último ano do Ensino Médio, Carol teve a certeza, dentro do SOSerra, de que quer trilhar seu caminho profissional atrelado ao trabalho voluntário. Ilhada no dia do desastre, a princípio o projeto foi uma maneira de se manter distraída e ajudar. Hoje se tornou uma certeza para o futuro. “Foi sempre algo que eu quis fazer. Quero ser nutricionista pediátrica, principalmente para atender crianças que não tem condição. Quero focar nessa área”.
Reunindo experiência em todas as áreas possíveis, a petropolitana já trabalhou com tudo que se pode imaginar na associação. Foi coordenadora de trânsito e transporte, alimentos, roupas. “Tudo que você precisar, você vai me encontrar”, diz Carol. Sem medir esforços, o SOSerra é exemplo de que, na engrenagem da mudança e da empatia, a união e o comprometimento são a principal força motriz do trabalho e da diferença.
Aqueles interessados em conhecer a fundo a proposta do SOSerra, acompanhar as prestações de contas e o caminho trilhado até aqui podem o fazer pela página do Instagram @sos_serra. Lá são publicadas frequentemente os itens com mais urgência de serem distribuídos. A associação não mais precisa de contribuições de água e roupas. Para ajuda em dinheiro, é possível doar pelo PIX (24) 99303-8885. Já doações internacionais devem ser feitas pela plataforma PayPal, clicando aqui.
Fotos: Arquivo/Sou Petrópolis
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