‘Não é um desastre natural porque as pessoas não deveriam estar naquele local’, diz diretor do Instituto Civis
Para Mauro Corrêa, sem planejamento para retirar famílias das áreas de risco, município continuará ano após ano enterrando vítimas pelo mesmo motivo
Um levantamento feito em 1986 pela Secretaria de Apoio Comunitário da Prefeitura de Petrópolis e reunido no trabalho intitulado “O Outro Lado de Petrópolis”, apontava as necessidades urgentes do Morro da Oficina: esgoto, melhoria do acesso e das habitações e posse da terra. O mapeamento da época apontava a existência de 500 moradias no local.
Foto: Flavia Rocha
A região foi uma das mais atingidas pela tragédia do dia 15 de fevereiro. A estimativa é de que cerca de 80 casas tenham sido atingidas por um deslizamento.
“Não é um desastre natural porque as pessoas não deveriam estar naquele local. No caso do Morro da Oficina é uma tragédia que já era anunciada. O natural não é as pessoas estarem morando ali, mas quando o governo não dá opção de moradia, as pessoas vão se virar onde podem”, diz Mauro Corrêa, diretor do Instituto Civis, entidade sem fins lucrativos que surgiu em 1994, na luta para votação da Lei de uso, parcelamento e ocupação do solo (Lupos), que ocorreu em 1998.
Mauro afirma que, para que Petrópolis deixe de viver tragédias como esta última, é preciso que se invista em planejamento. “Existe uma ocupação maciça irregular que aumenta a cada ano, isso ocorre a olhos vistos. Não existe fiscalização por ser uma deficiência do quadro de funcionários do município. Isso contribui para o caos que vivemos na cidade, um caos social”, afirma.
Para o diretor do Civis, o planejamento deve ter como principal foco retirar as pessoas que vivem nas áreas de risco. “O que a gente vê é que não existe um planejamento. Para que se resolva ou amenize esse problema, que vem desde a época do império, tem que ter um projeto a longo prazo. Uma coisa que começa com um prefeito e vai terminar com outro daqui a 20, 30 anos. Se não a gente vai ficar ano após ano enterrando vítimas pelo mesmo motivo”, alerta.
Mauro Corrêa acredita ainda que a tragédia é em decorrência da omissão dos governos municipal, estadual e federal. “Sem contar que quando se constrói habitação popular, não existe qualidade, são unidades que apresentam uma série de problemas, uma vergonha e não acontece nada”.
Sobre a construção de novas unidades habitacionais no município e se há planejamento para retirar moradores de áreas de risco, a Sou Petrópolis questionou a Prefeitura e aguarda resposta.
Ocupação no Morro da Oficina
A publicação “O outro lado de Petrópolis” conta um pouco da história do Morro da Oficina. A ocupação na região começou por volta de 1940, na área da Rede Ferroviária Federal.
A primeira fase de ocupação foi com a construção de moradias para os funcionários da rede mediante pagamento de uma pequena taxa. Já na 2ª fase, a publicação afirma que, após a desativação da estrada de ferro em Petrópolis, houve concessão de uso do solo aos funcionários.
E, na 3ª fase, a ocupação foi espontânea por pessoas da Baixada Fluminense, que depois foram cadastradas pela Rede. Na última fase, o levantamento diz que houve ocupação de área contígua, de propriedade da Família Imperial.
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