Passageiros relatam medo e insegurança de enfrentar ônibus lotados em meio ao cenário da Covid-19 em Petrópolis
Quase um mês após município entrar na Justiça pedindo a volta de 100% da frota dos ônibus, as aglomerações nos terminais e coletivos ainda representam alto risco de contaminação.
Quase um mês após a prefeitura entrar com medida judicial exigindo 100% da circulação da frota de ônibus em Petrópolis, e os passageiros continuam reclamando diariamente da pouca oferta de coletivos, lotação dentro dos ônibus e nos terminais, como Itaipava e Corrêas.
Foto: Thaciana Ferrante
As reclamações e os registros nos terminais e coletivos não cessaram nem mesmo com o estabelecimento de medidas restritivas feitas pelo município entre os dias 30 de março e 8 de abril. A jornalista Thaciana Ferrante chegou a registrar aglomeração no ponto de ônibus da Rua Paulo Barbosa durante este período.
Ela, que faz o trajeto Itaipava-Centro diariamente, disse que a situação piorou na sexta-feira (9) quando começaram as primeiras flexibilizações das medidas restritivas na cidade. Thaciana chegou a registrar grandes filas no Terminal Itaipava também com passageiros a espera dos ônibus da linha 700 – Terminal Itaipava – Centro.
Medo e insegurança
Fazer essa viagem todos os dias é um caos e gera muita insegurança para os passageiros, já que a cidade enfrenta o pior momento de pandemia, com registro de mais de seis mortes por dia por covid-19. Só nos primeiros 12 dias de abril, foram 76 vidas perdidas pela doença na cidade, conforme aponta o Painel de Monitoramento da Covid-19 da Secretaria Municipal de Saúde.
“Essa aglomeração dá muito medo. São muitas pessoas juntas, de máscara, mas temos que encostar em tudo para segurar no ônibus. Quando estou em pé aumenta a situação de insegurança porque não tem como nem pegar o álcool para passar nas mãos. A viagem não dura menos de 1h30, então nesse período a gente acaba colocando a mão no cabelo, encosta no rosto, ajeita a máscara”, disse Thaciana.
Foto Reprodução Internet
De acordo com a jornalista, os ônibus já saem do Terminal Itaipava ou da Rua Paulo Barbosa, na volta para casa, com pessoas em pé. Ela diz que a demora para saída dos ônibus no Terminal Itaipava também é um dos motivos que provoca a aglomeração.
O educador físico e produtor cultural, Rafael Santana, também conta ter enfrentado o drama dos ônibus lotados. Durante os meses de fevereiro e março ele fez o trajeto Corrêas-Retiro também usando a linha 700.
“Vemos que os horários estão reduzidos e a gente acaba tendo que sair duas, três horas mais cedo para não atrasar nos compromissos. E não é só a linha 700, vejo aqui dentro do bairro [Corrêas] que a oferta de ônibus diminuiu”, contou.
Quando tem que fazer o trajeto entre Corrêas, Nogueira e Itaipava, ele diz que prefere usar a bicicleta para não enfrentar a demora na fila e a insegurança de estar em um ônibus lotado.
Maior risco de contágio
Desde o início da pandemia, no ano passado, as empresas reduziram a circulação da frota alegando queda da demanda. Porém, segundo Carlos Machado, pesquisador e coordenador do Observatório Covid-19 da Fiocruz, afirma que a aglomeração no ônibus aumenta o risco de contágio do novo coronavírus tendo em vista que, mesmo com as medidas restritivas, os trabalhadores de serviços essenciais continuam usando o transporte coletivo diariamente.
Ação na Justiça
Foi no dia 17 de março que a prefeitura afirmou que havia entrado com medida judicial pedindo a circulação de 100 % da frota dos ônibus na cidade.
Como a situação continua crítica, a Sou Petrópolis questionou o município nesta terça-feira (13) sobre quais medidas estavam sendo tomadas pelo município.
Em nota, a Companhia Petropolitana de Trânsito e Transportes (CPTrans) informou que ainda não teve retorno da ação e ressaltou que a questão já estava judicializada, uma vez que as empresas alegaram na justiça desequilíbrio econômico-financeiro e tiveram liberação para operar com redução da frota.
Fiscalização
Sobre as fiscalizações nos coletivos e terminais, a CPTrans diz que ocorrem diariamente e que vem trabalhando para ampliar o número de ônibus em circulação, com o objetivo de garantir 100% da frota nas ruas e melhorias no sistema.
“A companhia destaca que a lotação máxima dos ônibus está prevista em nota técnica da Vigilância Sanitária, que prevê dois passageiros por metro quadrado em pé e esclarece que vem fiscalizando a operação”, diz a CPTrans.
As empresas
Atualmente, cinco empresas de ônibus operam na cidade: Turb, Petro Ita, Viação Cascatinha, Cidade das Hortênsias e Cidade Real. Elas são representadas pelo Sindicato das Empresas de Transportes Rodoviários de Petrópolis (Setranspetro).
Questionado sobre as reclamações dos passageiros, o Setranspetro disse que as empresas estão operando com 75% da frota de maneira fixa e com reforços em horários de pico. Alega ainda que o sistema segue com a demanda de 60% de passageiros que usam o transporte público, comparado com o período antes da pandemia.
O Setranspetro afirma também que as empresas de ônibus estão tratando as necessidades pontuais e ampliando o atendimento nos ônibus e que, há meses, diversas linhas operam com 80% a 100% da frota e diz que fiscalizar aglomerações nos terminais ou pontos de embarque e desembarque de passageiros não é atribuição do Setranspetro.
Sobre a linha 700
De acordo com o Setranspetro, a linha 700 está operando com mais de 80% da frota durante todo o dia e os ônibus precisam cumprir o horário preestabelecido de operação nos pontos finais, não podendo sair antes do previsto, sujeito à penalidade.
Protocolos sendo seguidos
Desde o início da pandemia, as empresas de ônibus afirmam que seguem todas as orientações e recomendações dos órgãos governamentais e de saúde, monitorando e evitando, com eficiência, o contágio dos rodoviários. Em pouco mais de um ano de pandemia, o sistema, composto por cerca de dois mil rodoviários, registrou a morte de dois colaboradores – o que representa proporcionalmente 0,1% do total.
As empresas dizem ainda que realizam, sistematicamente, os procedimentos de aferição de temperatura dos rodoviários, disponibilizam máscara e álcool em gel, atualizam todas as orientações e recomendações através de informativos e mensagens nas garagens e permanecem com adesivos na frota, com instruções de utilização de máscara e medidas de segurança aos colaboradores e clientes.
Limpeza da frota
Nos ônibus, todas as empresas contam com os trabalhos de higienização em toda a frota em Petrópolis. Os procedimentos também acontecem nas garagens, terminais e pontos de ônibus com grande fluxo de pessoas.
Também é obrigatório o uso de máscara de proteção respiratória nos coletivos, conforme preconiza a medicina, os infectologistas e a Organização Mundial da Saúde (OMS).
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