Profissionais de diferentes áreas escolhem Petrópolis como lar na pandemia e ressignificam conceito de “casa-trabalho”
Sete jovens se juntaram e alugaram uma casa no Parque Vicente para se manterem isolados, mas em grupo, construindo novas ideias de negócios e fortalecendo as trocas pessoais sem a tecnologia como mediadora
Se para muitos ver o trabalho presencial migrando para o home office foi uma grande mudança, para um grupo de jovens que escolheu Petrópolis como lar durante a pandemia esse foi só um passo que permitiu trilhar novos caminhos em busca de mais contato com a natureza, qualidade de vida e fortalecendo as trocas pessoais sem a tecnologia como mediadora.
Foto Divulgação Casa Maracutaia
O grupo é composto por sete profissionais de diferentes áreas: Bernardo Freitas, tem 23 anos, e é economista; Matheus Donato, de 25 anos, e José Maurício, de 24, são estatísticos. Já Rafael Eckardt, de 29, é publicitário; Lucas Noel, de 25, designer e diretor de arte; Manuel Affonso, 28 anos, é desenvolvedor de negócios e, Guilherme Oliveira, de 24, é empreendedor do ramo gastronômico.
Em comum eles têm algo além da amizade, a necessidade de buscar o diferente e dar novos sentidos à vida mesmo em tempos tão difíceis como o que a sociedade enfrenta desde que começou a pandemia do novo coronavírus.
Casa criativa
Morar em grupo não é uma novidade para esses profissionais. Eles já chegaram a dividir apartamento no Rio. Com a pandemia, voltaram para a casa dos pais, mas sentiram falta do convívio entre os amigos e da criatividade que surge quando estão juntos.
Foi assim que, em novembro de 2020, eles alugaram uma casa no Parque São Vicente, em um local que já abrigou uma pousada, e tem espaço suficiente para todos.
O local virou uma “casa criativa”, que reúne os profissionais, mas também já é berço de projetos culturais e ganhou o nome de Maracutaia. Por lá, as regras de isolamento são sérias. E eles só saem para o necessário.
O dia a dia
Nesses meses morando junto, o grupo já adotou até um cachorrinho, o Dodoca, e um gato, o Sushi. Mas por ali nem tudo é brincadeira e diversão, embora também tenha espaço para esses momentos.
Segundo Bernardo Freitas, a rotina de trabalho também é puxada e, além do home office, tem também a manutenção da casa, que é dividida entre eles.
“A primeira pessoa costuma entrar no escritório por volta das 8h e a última sai entre 20h e 21h. Somado a isso temos todas as rotinas de uma casa de grande porte: faxina, mercado, cozinha, lavar louça. Dá pra imaginar o tamanho das panelas para sete, né?”, brinca Bernardo, acrescentando que os momentos de descanso e de “surto criativo” compensam tudo.
Foto Divulgação Casa Maracutaia
Vai e volta
Bernardo, José Maurício, Manuel, Lucas e Guilherme saíram de Petrópolis entre 2011 e 2016 para estudar no Rio.
Já Rafael foi para a capital depois de formado, aos 26 anos. O Matheus foi o único que era do Rio e acabou vindo para Petrópolis por conta da pandemia.
Os desafios para achar a Maracutaia
Achar uma casa com espaço suficiente para abrigar o grupo não foi uma tarefa tão fácil quanto parece.
“Além de aceitarem sete jovens, tivemos dificuldades de ordem econômica, pois a maioria das casas que estavam no nosso orçamento não possuíam o número necessário de quartos e vice-versa. E a segunda, já no âmbito do preconceito mesmo, pois a maioria dos proprietários ao nos verem chegando para a visita riam ou nos tratavam com deboche, e ao final da visita, já sabíamos que não seríamos aceitos ainda que cumpríssemos todos os pré-requisitos da imobiliária ou do proprietário em si”, conta.
Foto Divulgação Casa Maracutaia
Pontos positivos
Superada a fase de alugar o espaço e, enfim, os pontos positivos da escolha que o grupo fez de ter uma “casa-trabalho”. Um deles, ainda segundo Bernardo, é a possibilidade de estar com os amigos em um cenário em que muitas pessoas estão completamente isoladas ou tendo o mínimo de convívio social.
“Além disso, o fato de sermos todos de áreas diferentes ajuda e muito nos trabalhos individuais, pois contamos com uma gama de visões e opiniões diferentes sobre um mesmo assunto que sempre rendem boas discussões, ideias e propostas”, diz.
Foto Divulgação Casa Maracutaia
Tendência e humanização das relações
Embora esse conceito de casa-trabalho ainda seja uma novidade, Rafael Eckardt considera que pode virar uma tendência.
“Acredito que estamos vivendo um processo de ruptura. A interferência da tecnologia no jeito que as pessoas se organizam é muito forte”, diz.
Dentro desse contexto, o publicitário cita um comportamento que ficou ainda mais visível durante a pandemia, que é passar muito tempo em frente às telas: celular, computador, TVs. E até mesmo para as relações que se dão por meio das telas, atualmente.
Foto Divulgação Casa Maracutaia
Porém, ele lembra que milhões de pessoas já gastavam horas e muito dinheiro em universos virtuais antes da pandemia, também como forma de convívio social a partir de tela, em games como Fortnite ou Minecraft.
“O que quero dizer é que, com os cenários digitais tomando conta das novas gerações, a casa-trabalho proporciona convivências orgânicas e acaba sendo não só uma tendência, mas também um importante pilar para uma formação humana em que a troca entre pessoas ainda ocorra sem a tecnologia como mediadora”, conclui Rafael.
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