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Geneticista do LNCC fala sobre descoberta de variante da Covid-19 no estado do Rio

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Geneticista do LNCC fala sobre descoberta de variante da Covid-19 no estado do Rio

De acordo com a pesquisadora, não há evidências de que a descoberta afete as vacinas que estão sendo desenvolvidas para esta nova cepa

Em dezembro de 2020 o Laboratório de Bioinformática do LNCC, Laboratório Nacional de Computação Científica, em Petrópolis, identificou cinco mutações que caracterizariam uma nova linhagem do vírus SARS-Cov-2, causador da doença, no estado do Rio. As mutações foram identificadas em 38 dos 180 genomas sequenciados no estudo.

Para entender melhor o que as referidas mutações significam e suas implicações, a Sou Petrópolis entrevistou Ana Tereza Ribeiro de Vasconcelos: geneticista, bioinformata com doutorado em Genética pela UFRJ, pesquisadora do LNCC e coordenadora da pesquisa em questão.

Foto: Divulgação

Dizer que um vírus sofreu mutação significa, necessariamente, que ele se tornou mais resistente do que antes?

As mutações virais acontecem, em sua maioria, durante o processo de replicação do vírus. À medida que o vírus faz cópias do seu material genético para infectar novas células e pessoas, podem acontecer erros que são guardados neste material genético e acarretarão ou não em alterações no vírus. Temos observado que algumas vezes o próprio organismo humano pode induzir mutações no vírus como forma de defesa.

A descoberta das mutações é feita a partir do sequenciamento genético, que determina toda a ordem de informações no material genético do vírus. Em seguida, fizemos a comparação com a sequência do primeiro vírus sequenciado na cidade de Wuhan, na China. Assim, todas as regiões diferentes entre as nossas sequências e a sequência original são então consideradas mutações.

O que a existência de uma nova mutação pode indicar sobre o cenário da Covid-19 no país?

Ainda não sabemos claramente como a presença de uma nova cepa pode afetar o cenário nacional. É importante salientar que a todo momento novas cepas/linhagens estão surgindo no mundo. Isso acontece com muitos vírus. Temos que continuar monitorando para saber se haverá alguma alteração em uma proteína importante do vírus.

O surgimento de uma variante com maior capacidade de transmissão levaria a mudanças no nosso estilo de vida e nos protocolos atuais. Não sabemos se esta variante tem propriedades muito diferentes do que está circulando atualmente. Estamos trabalhando para entender como esta nova cepa se comportará e suas características. Neste momento, só fomos capazes de diferenciá-la.

A descoberta pode fazer da vacina menos eficaz?

Não há evidências de que afete as vacinas que estão sendo desenvolvidas para esta nova cepa. Note que é comum que alguns vírus sofram mutações ao longo do tempo. Basta lembrar do caso do vírus da gripe. No entanto, quando comparamos ao novo Coronavírus vemos que este último sofre bem menos mutações do que o vírus da gripe.

As diferentes vacinas existentes possuem muitas tecnologias que permitem sua constante atualização. Alguns vírus que tem taxa de mutação muito alta exigem desenvolvimentos anuais de vacinas, porém pelo que tudo indica não deve ser o caso do SARS-CoV-2.

Existe alguma estimativa de quando a nova mutação passou a circular no Brasil? Em quais regiões do Estado a nova linhagem mais foi identificada?

O surgimento desta nova linhagem ocorreu em julho de 2020 e foi identificada, principalmente, no Rio de Janeiro, em Cabo Frio, Niterói e Duque de Caxias na Baixada Fluminense. A análise foi conduzida em colaboração com o Laboratório de Virologia Molecular da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, as Secretarias de Saúde de Maricá e do Rio de Janeiro e o Laboratório Central de Saúde Pública Noel Nutels.

Assim como aconteceu no Reino Unido, uma nova mutação pode significar uma atuação mais agressiva do vírus?

Sim, não se trata da mesma linhagem e sim de uma linhagem diferente da que está circulando lá. Ainda não temos relatos no Brasil de que esta linhagem esteja presente aqui.

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