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Para ler antes de votar: 7 frases ditas por Philippe Guedon, maior defensor da participação popular em Petrópolis

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Para ler antes de votar: 7 frases ditas por Philippe Guedon, maior defensor da participação popular em Petrópolis

Nascido na França escolheu Petrópolis como lar e contribuiu para o desenvolvimento da cidade. Ele morreu no Dia da Democracia, em outubro, deixando grande legado de história e militância na vida política

Meu caminho esbarrou com o de Philippe Guedon e família em agosto de 2012. Na época, ele já tinha algumas limitações e não podia falar por muito tempo porque isso o cansava fisicamente, considerando que ele já tinha enfrentado dois infartos. Ainda assim a primeira entrevista durou cerca de 3 horas. A afinidade surgiu por muitos motivos, entre eles, minha admiração por sua história e militância política por uma cidade/país melhor até o fato de fazermos aniversário no mesmo dia: dois leoninos do primeiro decanato.

Foto Arquivo Pessoal Claudia Guedon

A partir dali foram meses e, felizmente, anos de entrevistas, conversas, bate-papos presenciais, por telefone e e-mail. Acompanhei as reuniões da Frente Pró-Petrópolis (FPP) onde Guedon, que chegou a ser vereador da cidade durante o governo Gratacós – 1988, defendia seus ideais e trazia luz para temas fundamentais para o desenvolvimento de Petrópolis, como a segurança na rodovia BR-040, a criação do Instituto Koeler de Planejamento e a mobilidade urbana.

As pautas da FPP chegavam semanalmente por e-mail, assim como as atas pós-reuniões. Enquanto muitos idosos resistem a usar a tecnologia, o fundador do Partido Humanista da Solidariedade (PHS) se entendeu com ela e a usava em prol da importância da participação popular e a criação de um planejamento estratégico para Petrópolis que durasse pelo menos 20 anos.

Nascido em 23 de julho de 1932 na França, Philippe Guedon escolheu o Brasil para morar e Petrópolis como seu lar. Ele chegou na cidade com a mulher, Lucia Guedon, e os sete filhos em 1974 e contribuiu para o desenvolvimento de Itaipava já naquele período.

Philippe Guedon e a esposa Lucia Guedon – Foto Arquivo Pessoal Claudia Guedon

Em 2018, uma foto dele subindo sentado uma escada para exercer o direito do voto após uma mudança de sua seção eleitoral viralizou na internet. Aos 86 anos, dizia que apesar de todas as limitações da saúde não poderia deixar de exercer a cidadania mesmo em um local sem acessibilidade.

Foto Arquivo Pessoal Claudia Guedon

Com a ajuda da mulher e do filho, Rogério, ele completou a missão. Após as denúncias feitas pela imprensa, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) mudou sua seção para um local com acessibilidade onde ele pôde votar com tranquilidade no 2º turno.

Algumas entrevistas que fiz com ele foram por telefone. Philippe, sempre cordial, e os bate-papos enriquecedores. De todas as maneiras, presencialmente, por telefone ou e-mail sempre defendeu seus ideais e nunca deixou de reforçar um trecho da Constituição Federal: “O poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos”.

Em novembro de 2018 lançou seu livro: “O município vira o jogo” que propõe a sociedade como motor fundamental para desenvolver um plano estratégico de longo prazo para a cidade.

Foto Arquivo Pessoal Claudia Guedon

Nos e-mails que trocávamos vinham frases preciosas, acompanhadas de sabedoria, um carinho praticamente de avô para neta. E elas merecem ser divulgadas. A reprodução dos trechos dos e-mails trocados entre Philippe Guedon e eu foi autorizada pela Lucia.

1.  Sobre as mudanças eleitorais de 2020

“Se os tempos inspiram mudanças, quem sabe os ventos sejam favoráveis para os apaixonados pela participação?”.

2. Quando recebeu a notícia com a mudança de seção para o 2º turno das eleições em 2018

“Vou continuar invicto nas minhas votações, com uma imensa obrigação de votar com muito juízo. A seção vai descer! Impensável! Obrigado. A vida tem dessas alegrias, que compensam mil aborrecimentos”.

3. Opinião sobre a ligação Bingen-Quitandinha

“Coitada da ligação Bingen-Quitandinha, da qual se falava no Governo Paulo Rattes (1983-1988). Ficou para depois da inauguração da NSS*, no dia de SN (São Nunca)”.

*NSS = Nova Subida da Serra

4. Por que ter um plano diretor?

“Este plano é a base. Não há como uma cidade viver sem planejamento, ou melhor, há. Petrópolis vive e por isso está desse jeito”.

5. Sobre o Instituto Koeler (INK) de Planejamento?

“Estamos convencidos que o Planejamento em Petrópolis mereceria condições de elaboração muito mais favoráveis com a criação do INK”.

6. Quando encontrei fotos dele publicadas em um jornal da cidade sobre o lançamento do Shopping Itaipava

“São boas lembranças de um momento muito apaixonante, a partir da certeza que Itaipava, no encontro das estradas vindas de Teresópolis, o NE via Bahia, Minas e o DF, Rio de Janeiro, e São Paulo via Três Rios, não tinha como não ser um centro a rivalizar com Petrópolis. Estávamos em
1.974…”.

Foto Reprodução Diário de Petrópolis

7. Sobre os dias atuais

“Está ruço em toda parte, pelas mesmas e por outras razões: COVID, imigração, radicalismo religioso, memórias que não se apagam, política de baixo nível, como conviver com as redes, contradições entre trabalho e produtividade, juventude brilhante e sem perspectivas suficientes, violência, falta de diálogo e de planejamento, etc…”

Consigo ouvir a voz do francês que tinha título de Cidadão Petropolitano e foi agraciado com a Medalha Koeler em cada frase reproduzida aqui.

Guedon morreu aos 88 anos no Dia da Democracia, 25 de outubro deste ano. O corpo foi cremado no Rio atendendo a um pedido que ele mesmo fez para a família. Parte de suas cinzas foram jogadas em um jardim que fica em frente a Casa dos Conselhos, sediada na Prefeitura de Petrópolis, que leva seu nome.

Foto Arquivo Pessoal Claudia Guedon

Um autorretrato que fez para um albúm de desenhos, um hobbie de Guedon, marca o fim da sua história na vida militar – que atuou por 2 anos e meio, sendo parte na França e a outra entre Marrocos e Argélia. Na imagem, ele aparece de costas, segurando uma bengala e dando tchau. Agora, este desenho simboliza um “até logo” desse intelectual que fez tanto por Petrópolis e fica eternizado em nossas memórias.

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