Museóloga de Petrópolis comenta sobre as perdas com o incêndio no Museu Nacional
“A perda é irreparável”.
Começar a semana trabalhando nunca foi tão difícil como nessa segunda-feira (03) para os museólogos, pesquisadores e historiadores de todo o Brasil. Foram anos de dedicação e pesquisas para em poucas horas tudo virar cinzas. Esse foi o cenário após o incêndio de grandes proporções, ocorrido no domingo (02), que destruiu o Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, Zona Norte do Rio. As causas do fogo, que começou após o fechamento para a visitantes, ainda estão sendo investigadas.
O palácio já foi residência da família real brasileira e abriga o Museu Nacional, que é a instituição científica mais antiga do Brasil (Foto: Reuters/Ricardo Moraes, via g1.globo.com)
Procuramos a museóloga do Museu Imperial, Ana Luisa Camargo, para comentar sobre o ocorrido e sobre a perda cultural, histórica e científica com essa tragédia. Confira a entrevista na íntegra:
1. É possível recuperar o que foi perdido nesse incêndio?
A perda é irreparável em todos os níveis. Havia uma pesquisa grande e muito boa sobre a história da residência da família imperial e a tentativa de mapear como ela era na época, inclusive identificando as salas. Foi tudo perdido. O Museu pode voltar, mas será um outro museu, não mais o que foi embora.
2. O que perdemos e o que conseguimos salvar da história do Brasil Imperial com essa tragédia?
O prédio do Museu Nacional era a única referência que tínhamos da residência de D. João, D. Pedro I e II. Contudo, muitas peças do Museu Nacional (Quinta da Boa Vista) foram doadas ou transferidas para o Museu Imperial (Petrópolis) com o Leilão do Paço, que ocorreu em 1889. Em 1940, o trono de Dom Pedro e a cama de solteira da princesa Isabel também foram trazidos para o Museu Imperial e salvos do incêndio.
Foto Bruno Ferreira Soares
3. Qual a importância de se preservar os museus?
Para mim museu é extensão de sala de aula, é uma maneira de se aprender diferente. O Rio e o Brasil perderam um imenso local de ensino. Cultura é um assunto seríssimo e tem que ser tratado com respeito.
4. Quais as consequências dessa tragédia?
Além de toda a perda histórica, cultural e científica, para o Brasil isso é péssimo. Muitas exposições já não vêm para cá por causa dos riscos. O país todo sai perdendo.
5. Em relação a Petrópolis, como é o apoio à cultura e aos museus?
O descaso aqui também é grande. Acho que primeiro Petrópolis tem que decidir o que quer ser. É uma cidade cultural, dormitório, têxtil…? A solução não é só cuidar dos museus e das instituições culturais. Deve haver cuidado com a cidade como um todo. Tudo é história aqui. Quando permitem que cada um faça da fachada da sua casa o que quer ou que coloquem anúncios grandes sem permissão na rua do Imperador (….) tudo isso é omissão e falta de cuidado com a nossa história.
6. O Museu Imperial tem brigada de incêndio?
No momento não há, mas está previsto para ter no novo plano de segurança. É importante ficar claro que a reserva técnica do Museu está em um prédio separado do Palácio, bem como a documentação técnica também não está no Palácio. Nos dois locais há equipamentos. Na reserva técnica tem porta corta fogo, extintores e detector de incêndio.